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Governo diz não ter recursos suficientes
DA REDAÇÃO
Em entrevista à rede de TV britânica ITN em abril de 2001, o presidente da África do Sul, Thabo
Mbeki, negou ter questionado a
ligação entre o HIV e a Aids.
"O problema surgiu porque
existe o slogan "O HIV causa a
Aids" e, assim, deve-se agir de determinada maneira. Mas, quando
alguém diz "vamos olhar a questão de forma mais ampla", a resposta é que se está questionando a
ortodoxia", afirmou.
"Meu ponto de vista é que não
podemos nos focalizar em uma
única coisa. A doença é adquirida
por meio de um vírus, mas más
condições de saúde contribuem
para destruir o sistema imunológico. Há a questão da nutrição, da
água potável, das condições de
moradia. Há, portanto, necessidade de lutar contra a pobreza",
disse Mbeki.
Embora o líder sul-africano
afirme ter sido mal interpretado,
suas declarações tiveram tal impacto negativo que o governo incluiu, em nota oficial de abril de
2002, uma frase esclarecendo a
questão: "O ponto de partida do
governo é baseado na premissa de
que o HIV causa a Aids."
Ao consultar documentos oficiais sul-africanos pela internet,
verifica-se que há estudos sobre a
dimensão da epidemia (o governo não está desinformado), ampla legislação de proteção aos
portadores do vírus ou com Aids
e diversos programas de prevenção, de apoio às vítimas e de combate a aspectos específicos da
doença, como a transmissão de
mãe para filho. Há também um
projeto para a descoberta de uma
vacina. E planos, muitos planos.
Entretanto a África do Sul ainda
não tomou a decisão fundamental
de fornecer tratamento gratuito a
todos os que necessitam, por
meio do sistema público de saúde.
É uma decisão difícil, pois exige
muitos recursos, mas é a única
que pode oferecer uma vida mais
longa e de melhor qualidade aos
4,7 milhões de infectados no país
(em 2010, serão 7 milhões).
Segundo cálculos do governo, a
distribuição gratuita de remédios
anti-retrovirais (que combatem o
vírus) custaria R$ 2,73 bilhões por
1 milhão de pacientes.
"Não peço desculpas pelo fato
de atualmente não podermos custear a terapia anti-retroviral. Ao
contrário do Brasil, nós não manufaturamos essas drogas, estamos presos a acordos de patentes
e temos um número muito alto de
soropositivos. O Brasil tem e pode
tratar menos de 1 milhão de pessoas [há 600 mil infectados no
Brasil". Nós temos quase 5 milhões de soropositivos e de doentes de Aids", disse à Folha a diretora-chefe do programa de HIV/
Aids do Ministério da Saúde sul-africano, Nono Simelela.
"Estamos saindo de mais de 40
anos de apartheid, durante os
quais os negros não tinham qualquer acesso à saúde. Em oito anos,
fizemos imensos progressos em
melhorar os serviços básicos. Pode não ser suficiente, mas é o que
podemos fazer agora", afirmou.
A Ação pelo Tratamento encomendou um estudo independente para avaliar os custos da implementação progressiva do tratamento anti-retroviral.
Com 20% da demanda atendida, custaria R$ 87,36 milhões em
2003. Os gastos subiriam gradativamente até 2007, quando chegariam a R$ 2,65 bilhões e cobririam
90% da demanda. O pico seria em
2015, com custo de R$ 7 bilhões.
O tratamento comprometeria
70% do orçamento da saúde
atual, que, obviamente, teria de
ser aumentado. Entretanto o estudo calcula que, somente em 2015,
haveria uma economia de até R$
3,5 bilhões com internações hospitalares. E até 2,8 milhões de
mortes seriam evitadas nos próximos 13 anos.
(OD)
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