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RELIGIÃO
Primeira a ser publicada pelo papa, a carta, que sairá no dia 25, deve determinar o "programa" de seu pontificado
Encíclica de Bento 16 tratará de amor
FÁBIO CHIOSSI
DA REDAÇÃO
O papa Bento 16 anunciou ontem de qual assunto tratará em
sua primeira encíclica, a ser publicada no próximo dia 25.
Documento máximo elaborado
pelos papas, a encíclica é uma carta endereçada formalmente aos
bispos da igreja, mas de fato à toda a comunidade católica, que
contém reflexões e diretrizes sobre assuntos relacionados à doutrina do catolicismo. A de Bento
16 terá como tema principal as diferentes formas de amor.
Com sua primeira encíclica, que
se chamará "Deus Caritas Est"
(Deus é amor, em latim, citação
de versículo contido na "Primeira
Epístola" de são João), Bento 16
pretende "mostrar o conceito de
amor em suas diversas dimensões", disse ele. "Na terminologia
usada atualmente, o amor sempre
surge distante do que pensam os
cristãos", afirmou Bento 16 ontem. "Eu quero mostrar que se
trata de um só movimento com
diferentes dimensões."
Na encíclica, com cerca de 50
páginas, o sumo pontífice tratará
da relação entre "eros" e "ágape",
formas distintas de amor.
De acordo com o teólogo João
Batista Libânio, que frisa que as
concepções são suas, não garantindo que sejam as mesmas de
Ratzinger, o amor "eros" está ligado à carência. "É o amor falta",
que está relacionado aos sentidos.
Relaciona-se ao amor sexual na
medida em que ele é a expressão
da falta que um homem sente de
uma mulher e vice-versa. "É um
amor egocêntrico, menos gratuito", diz o teólogo jesuíta, professor do Instituto Santo Inácio, em
Belo Horizonte.
Já o amor "ágape" é o amor do
perdão, desinteressado, espiritual. Libânio conta que o conceito
refere-se ao amor de Cristo pela
humanidade, o amor de quem
morreu pelos homens e não exigiu nada em troca.
"Caritas", diz Libânio, é a palavra latina para "ágape". Daí seu
surgimento no nome da encíclica.
No que adiantou ontem, o papa
sugeriu que sua encíclica alertará
para o fato de que o amor "eros"
corre o risco de se degradar,
transformando-se em apenas sexo ou mercadoria, se não tiver um
componente espiritual ou divino,
fundado na fé cristã. Segundo o
papa, o amor "eros" pode se misturar com e se transformar em
amor espiritual, "no qual duas
pessoas realmente amem uma à
outra e não procurem seu próprio
prazer mas, acima de tudo, o bem
para a outra pessoa".
O amor "ágape" é a meta do
cristão e, de acordo com o padre
Geraldo Luis Hackmann, pode
ser alcançado por meio da caridade. "Sem a caridade não há amor
"ágape'", diz o professor de teologia dogmática da PUC-RS.
Programa
A primeira encíclica de um papa
é um documento muito aguardado pela comunidade católica, pois
é vista, tradicionalmente, como
definidora do tom que terá seu
pontificado. Nela está o "programa" de um sumo pontífice.
"Foi assim com Paulo 6º (1963-78) e com João Paulo 2º" (1978-2005), diz o padre Libânio, explicando que a questão central para
aquele foi o diálogo, e, para o papa
polonês foi a figura de Cristo como redentor.
A "Deus Caritas Est" será a 294ª
encíclica da história da igreja.
Com agências internacionais
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