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Crise põe em xeque "empregos verdes"
Críticos questionam meta obamista de criar 5 milhões de vagas ligadas à reforma ecológica e investimentos de US$ 150 milhões
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
Um dos principais planos de
Barack Obama para restaurar a
economia dos EUA é criar milhões de empregos "verdes" e
contar cada vez mais com fontes de energia renováveis. Mas
enquanto o número de vagas
prometidas por Obama cresceu
de 1 milhão, antes da eleição,
para 5 milhões, neste mês, ficou
também mais forte a pergunta
sobre se os planos do democrata são realistas.
A equipe de transição propõe
investir US$ 150 bilhões ao longo de dez anos para "catalisar
esforços privados para construir um futuro de energia limpa". Segundo o Centro para o
Progresso Americano (CAP),
think-tank de esquerda que
ajuda a alimentar o plano, investir em energia limpa (principalmente em desenvolvimento de tecnologias e modernização de infraestrutura) cria
cerca de duas vezes mais empregos do que gastar com combustíveis fósseis.
Um estudo do CAP e da Universidade de Massachusetts
concluiu que um investimento
federal de US$ 100 bilhões em
eficiência energética e tecnologia renovável poderia criar 2
milhões de vagas em dois anos.
Mas como chegar a 5 milhões? A cifra citada por Obama
é baseada em modelos econômicos que projetam o número
de vagas diretas e indiretas geradas por gastos federais altos,
que em tese seriam seguidos
por investimentos privados.
O centro é otimista quanto ao
tipo de postos que seriam criados -a vasta maioria dos empregos "verdes", diz, estão em
ocupações já existentes. Por
exemplo: para reformar prédios para a eficiência energética, são necessários carpinteiros
e contadores. Para construir
campos de energia eólica, seriam empregados maquinistas,
metalúrgicos e engenheiros.
Vento contrário
Mas nem todos compram a
ideia. O cientista Kenneth
Green, especialista em aquecimento global, energia e ambiente do direitista American
Enterprise Institute, afirmou à
Folha que a criação de empregos "verdes" é um mito. "O governo não cria empregos no setor privado. Ele usa dinheiro
para criar um mercado artificial que de outra forma não
existiria, e os empregos passam
de uma área para outra. Não
surgem do nada."
A preocupação de Green é
mais econômica do que ambiental. Ele afirma que o programa de Obama será aplicado
às custas de milhares, talvez
milhões de empregos existentes hoje na indústria dos combustíveis fósseis -o que, em
meio a uma recessão e taxa de
desemprego de 7,2%, a maior
em 16 anos, não seria ideal.
Além disso, Green crê que, a
longo prazo, o número total de
vagas será menor do que se o dinheiro fosse investido em energias tradicionais, pois o governo terá de desviar recursos que
poderiam ser aplicados no setor privado para sustentar programas públicos de gerenciamento da mudança.
Ele também duvida que os
empregos "verdes" darão novas
oportunidades aos desempregados. "Grande parte desses
cargos é de alta qualificação.
Não adianta pegar alguém que
foi demitido do varejo e prometer a ele um emprego "verde"."
O economista Alex Brill, ex-conselheiro sênior da Comissão de Orçamento da Câmara,
alerta que quem pensa que o
plano obamista ajudará a economia rapidamente está enganado. "O pacote de estímulo federal [de US$ 825 bilhões] certamente não vai criar os milhões de empregos "verdes" que
Obama quer. O objetivo de aumentar a eficiência energética
da economia é válido, mas de
longo prazo, e isso é diferente
de criar empregos "verdes" como solução para a recessão",
disse à Folha.
Green aponta outros problemas. O cientista, que no passado criticou o IPCC (painel do
clima da ONU), diz que o plano
de Obama para reduzir a emissão de gases do efeito estufa em
80% até 2050 tem poucas
chances de aprovação.
Fontes de energia
A ideia do novo governo é
aprovar um teto máximo em
emissões de carbono e permitir
que indústrias que poluem
comprem e vendam permissões para alcançar o limite.
Obama quer também que 10%
da eletricidade norte-americana seja oriunda de fontes renováveis em 2012, e 25% em 2025.
Hoje, apenas 7% do fornecimento de energia dos EUA vem
de fontes renováveis. Outros
40% provém do petróleo -são
consumidos mais de 20,6 milhões de barris por dia, 58,2%
dos quais importados. É um
quarto do total produzido no
mundo. O restante vem do gás
natural (23%), do carvão (22%)
e de usinas nucleares (8%).
Segundo Green, propostas
menos ambiciosas do que as de
Obama já foram apresentadas e
derrubadas no Congresso. Um
projeto dos senadores Joe Lieberman e John Warner, por
exemplo, tinha metas 10% mais
baixas e foi rejeitado em 2007,
em grande parte pelo temor da
perda de empregos -estimativas de conservadores apontavam menos 7 milhões de vagas
até 2050 se fosse aprovado. Se
antes não deu certo, agora, com
aprofundamento da recessão,
poderá ser ainda mais difícil.
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