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Após vencer, Piñera enfrenta agitação social no Chile
Presidente eleito compara vitória sobre governista com cenário eleitoral no Brasil e diz que popularidade não é garantia de votos
THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Após encerrar um ciclo de 20
anos de poder da Concertação,
a aliança de centro-esquerda
que governa o Chile desde o fim
da ditadura militar, o presidente eleito Sebastián Piñera terá
como principal desafio corresponder às expectativas geradas
por suas ousadas promessas de
campanha, diante de um cenário de agitação crescente no
mundo do trabalho.
Entre as propostas do empresário de centro-direita, que
assume em março, está a criação de um milhão de empregos
em quatro anos (a taxa de desemprego está em 9%) e uma
queda significativa nos crimes.
"Há uma expectativa muito
grande, e Piñera vai enfrentar
dificuldades sociais se não
mostrar resultados rapidamente", disse à Folha o analista político Raúl Sohr. Segundo ele,
há inquietação entre trabalhadores subcontratados -prática
que avançou no país e atinge
30% das empresas, de acordo
com o governo. Mobilizações
recentes de operários de setores-chave da economia local
-como a mineração (43% de
terceirizados) e a pesca
(22%)- mostram potenciais
fontes de conflito. Já o sindicalismo chileno é fraco -só 11%
dos trabalhadores são sindicalizados- e não deve ser problema. "Os sindicatos não têm capacidade de promover grandes
greves, e Piñera deve se entender com as centrais", diz o analista Carlos Huneeus.
No plano político, diz o sociólogo Eugenio Tironi, o desafio de Piñera é controlar os setores mais duros de sua coalizão e fazer jus às suas propostas de direita mais liberal -como fortalecer a proteção social.
Como não terá maioria no
Congresso -a Concertação
tem vantagem estreita no Senado e nenhum dos blocos controlará a Câmara-, Piñera deverá manter a política de acordos vigente há 20 anos nas Casas. "Ao chamar por unidade
nacional anteontem, acenava
sobretudo à DC [Democracia
Cristã, braço centrista da Concertação]", afirma Sohr.
Piñera e Brasil
Vitorioso contra o ex-presidente Eduardo Frei, candidato
do governo Michelle Bachelet
-que beira 80% de aprovação-, Piñera comentou o cenário eleitoral brasileiro ontem e
disse que popularidade não é
garantia de voto.
Questionado, em entrevista à
imprensa internacional, se sua
vitória poderia ser exemplo à
oposição no Brasil, que enfrenta neste ano o candidato de um
governo popular, Piñera disse
ter discutido o assunto com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em novembro.
"Quero deixar muito claro
que uma coisa é a popularidade
e a outra são as necessidades de
mudança que pode ter um
país", disse. Piñera afirmou conhecer o "projeto de mudança"
e dois dos pré-candidatos da
oposição brasileira, mas citou
apenas o nome do governador
José Serra (PSDB-SP).
Piñera se afastou do eixo formado pelos governos esquerdistas de Cuba, Bolívia, Nicarágua e Venezuela. Disse se identificar com as gestões de México, Brasil, Colômbia e Peru, que
citou como exemplos de "liberdade de imprensa, alternância
de poder e economia social de
mercado".
O presidente eleito disse que
se classifica como de centro-direita apenas quando instado a
fazê-lo, porque são categorias
da Guerra Fria. Ele citou Lula
como exemplo de governante
que ofusca divisões ideológicas
desse tipo.
No plano interno, reafirmou
sua intenção de derrogar a lei
que destina 10% das receitas do
cobre para as Forças Armadas
-que demandará reforma
constitucional- e negou que
pretenda promover anistia a
militares investigados por crimes da ditadura.
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