São Paulo, terça-feira, 19 de janeiro de 2010

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Após vencer, Piñera enfrenta agitação social no Chile

Presidente eleito compara vitória sobre governista com cenário eleitoral no Brasil e diz que popularidade não é garantia de votos

THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

Após encerrar um ciclo de 20 anos de poder da Concertação, a aliança de centro-esquerda que governa o Chile desde o fim da ditadura militar, o presidente eleito Sebastián Piñera terá como principal desafio corresponder às expectativas geradas por suas ousadas promessas de campanha, diante de um cenário de agitação crescente no mundo do trabalho.
Entre as propostas do empresário de centro-direita, que assume em março, está a criação de um milhão de empregos em quatro anos (a taxa de desemprego está em 9%) e uma queda significativa nos crimes.
"Há uma expectativa muito grande, e Piñera vai enfrentar dificuldades sociais se não mostrar resultados rapidamente", disse à Folha o analista político Raúl Sohr. Segundo ele, há inquietação entre trabalhadores subcontratados -prática que avançou no país e atinge 30% das empresas, de acordo com o governo. Mobilizações recentes de operários de setores-chave da economia local -como a mineração (43% de terceirizados) e a pesca (22%)- mostram potenciais fontes de conflito. Já o sindicalismo chileno é fraco -só 11% dos trabalhadores são sindicalizados- e não deve ser problema. "Os sindicatos não têm capacidade de promover grandes greves, e Piñera deve se entender com as centrais", diz o analista Carlos Huneeus.
No plano político, diz o sociólogo Eugenio Tironi, o desafio de Piñera é controlar os setores mais duros de sua coalizão e fazer jus às suas propostas de direita mais liberal -como fortalecer a proteção social.
Como não terá maioria no Congresso -a Concertação tem vantagem estreita no Senado e nenhum dos blocos controlará a Câmara-, Piñera deverá manter a política de acordos vigente há 20 anos nas Casas. "Ao chamar por unidade nacional anteontem, acenava sobretudo à DC [Democracia Cristã, braço centrista da Concertação]", afirma Sohr.

Piñera e Brasil
Vitorioso contra o ex-presidente Eduardo Frei, candidato do governo Michelle Bachelet -que beira 80% de aprovação-, Piñera comentou o cenário eleitoral brasileiro ontem e disse que popularidade não é garantia de voto.
Questionado, em entrevista à imprensa internacional, se sua vitória poderia ser exemplo à oposição no Brasil, que enfrenta neste ano o candidato de um governo popular, Piñera disse ter discutido o assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novembro.
"Quero deixar muito claro que uma coisa é a popularidade e a outra são as necessidades de mudança que pode ter um país", disse. Piñera afirmou conhecer o "projeto de mudança" e dois dos pré-candidatos da oposição brasileira, mas citou apenas o nome do governador José Serra (PSDB-SP).
Piñera se afastou do eixo formado pelos governos esquerdistas de Cuba, Bolívia, Nicarágua e Venezuela. Disse se identificar com as gestões de México, Brasil, Colômbia e Peru, que citou como exemplos de "liberdade de imprensa, alternância de poder e economia social de mercado".
O presidente eleito disse que se classifica como de centro-direita apenas quando instado a fazê-lo, porque são categorias da Guerra Fria. Ele citou Lula como exemplo de governante que ofusca divisões ideológicas desse tipo.
No plano interno, reafirmou sua intenção de derrogar a lei que destina 10% das receitas do cobre para as Forças Armadas -que demandará reforma constitucional- e negou que pretenda promover anistia a militares investigados por crimes da ditadura.



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