São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2002

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BÁLCÃS

Primeira testemunha em Haia acusa o ex-ditador

Milosevic encerra defesa e se diz "vencedor moral" de seu julgamento

MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES

O ex-ditador iugoslavo Slobodan Milosevic, 60, se disse ontem "vencedor moral" do julgamento em que é acusado de crimes de guerra e genocídio numa corte internacional em Haia (Holanda).
Após falar durante um total de dez horas em dois dias e meio, ele encerrou a apresentação de sua defesa, dando à Promotoria a oportunidade de ouvir a primeira testemunha do caso.
"A verdade está do meu lado. É por isso que me sinto superior aqui, o vencedor moral", declarou Milosevic, cuja estratégia tem sido negar a legalidade e a competência do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. "O público vai se manifestar. Ele é o júri. Este tribunal não tem um júri."
A seu ver, ele é vítima de um julgamento politicamente motivado. Diz que os líderes da Otan (aliança militar ocidental) são os responsáveis pelas guerras e atrocidades nos Bálcãs nos anos 90.
Ontem, por exemplo, apresentou um vídeo segundo o qual, ao reconhecer precocemente a independência de países como Croácia e Eslovênia, o Ocidente (principalmente a Alemanha) provocou o colapso da Iugoslávia, o que detonou os conflitos armados.
A primeira pessoa a depor contra Milosevic foi Mahmut Bakalli, político albanês de Kosovo que, em maio de 1998, se encontrou com o então líder sérvio por duas vezes em negociações para diminuir as hostilidades entre as tropas da Sérvia e a população de etnia albanesa da Província.
O diálogo fracassou e, segundo Bakalli, Belgrado já tinha naquela época planos para destruir vilarejos e deportar a maior parte da população kosovar.
Sustentando a mesma tese apresentada pela promotora Carla de Ponte, a testemunha acusou as autoridades sérvias de praticarem perseguição e intimidação contra os albaneses, antes de lançarem um ampla campanha contra eles.
Milosevic é acusado por crimes de guerra e genocídio por sua atuação durante as guerras de Kosovo (1999), Croácia (1991-95) e Bósnia (1992-95).
A Promotoria lidará primeiro com testemunhas relativas ao ocorrido em Kosovo, onde cerca de 800 mil albaneses foram expulsos de suas casas e milhares morreram.


Com agências internacionais


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