São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Principal presidenciável democrata até a ascensão de Kerry anuncia desistência, mas não apóia ninguém

Ex-favorito, Dean abandona campanha

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Howard Dean, 54, tido como favorito até o início do ano à indicação do Partido Democrata para as eleições presidenciais de novembro, anunciou ontem a retirada de sua pré-candidatura.
Na prática, restaram agora dois nomes na corrida democrata: o do favorito John Kerry, 60, senador por Massachusetts, e de John Edwards, 50, senador pela Carolina do Norte.
Edwards ganhou novo fôlego anteontem ao obter um vigoroso segundo lugar na primária de Wisconsin, com 34% dos votos, contra 40% do líder Kerry -que acumulou 15 vitórias nas 17 prévias disputadas até agora.
Em terceiro, com 18%, Dean cumpriu uma titubeante promessa, feita há uma semana, de entregar os pontos caso não chegasse em primeiro em Wisconsin.
"Hoje a minha candidatura chega ao fim, mas nossa campanha por mudança não está terminada", disse Dean em discurso em Burlington, Vermont, Estado que governou. "Vamos concluir as mudanças que começamos no Partido Democrata."
Como esperado, Dean não anunciou apoio a nenhuma candidatura, mas foi imediatamente cortejado por Kerry.
"Dean fez um trabalho extraordinário ao revigorar um grupo inteiro de pessoas que estava divorciado do processo político. É impossível não expressar admiração e respeito pela campanha que ele conduziu", disse Kerry.
Ironicamente, Kerry se tornou, após a dupla vitória nas prévias iniciais de Iowa e New Hampshire, o principal herdeiro do "trabalho de formiga" iniciado por Dean há mais de um ano e que culminou com uma mobilização geral do eleitorado democrata.
Desde 2003, Dean montou uma estrutura nacional de campanha e revolucionou a arrecadação de fundos via internet, fechando o ano com mais de US$ 45 milhões em caixa e como líder absoluto em pesquisas de intenção de voto.
Após o fracasso inicial na arrancada da corrida democrata, o nome de Kerry acabou atraindo o voto útil de boa parte do eleitorado que acredita hoje na possibilidade de uma vitória contra George W. Bush em novembro.
Dean ficou para trás e terminou de forma melancólica, sem ganhar em nenhum Estado.
Homenageada por Kerry, a desistência de Dean foi, ao contrário, festejada por Edwards. "Finalmente, chegou o momento que esperávamos: estar em uma corrida frente a frente com John Kerry", afirmou.
No mínimo, Edwards manterá sua campanha até 2 de março, quando dez Estados realizam prévias, na chamada "superterça".
Mesmo que seu desempenho fique aquém do imaginado na "superterça", Edwards poderá tentar esticar sua campanha até o dia 9 de março, quando haverá primárias em quatro Estados do sul dos EUA, onde ele julga ter mais força.
A única vitória de Edwards até aqui se deu na Carolina do Sul, seu Estado natal. Os outros bons resultados foram o segundo lugar em cinco Estados, mas o senador ficou em quarto em outros sete.
Apesar dos resultados de anteontem, muitos analistas julgam que as chances de Edwards continuam reduzidas.
Uma avaliação mais detida dos resultados em Wisconsin, por exemplo, mostra que Edwards foi beneficiado em boa medida por votos de membros do Partido Republicano, de Bush, e por eleitores "independentes", autorizados a votar na primária democrata.
Cerca de 10% dos votantes em Wisconsin eram republicanos. Destes, 40% votaram em Edwards, e menos de 25%, em Kerry.
Pesquisa CNN/"USA Today" mostra que tanto Kerry quanto Edwards, ambos sob forte atenção da mídia, poderiam derrotar Bush com vantagem de cerca de dez pontos se a eleição fosse hoje.
O presidente, no entanto, praticamente não iniciou ainda sua campanha pela reeleição.


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