São Paulo, domingo, 19 de março de 2000


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ANÁLISE
Tentativa de influenciar eleição de Taiwan esbarra na resistência à truculência de Pequim
Estratégia chinesa sofre nova derrota

JAIME SPITZCOVSKY
especial para a Folha

A vitória de Chen Shui-bian joga luzes sobre dois aspectos da vida política chinesa: mais uma derrota de Pequim em sua tentativa de influenciar a eleição em Taiwan e o fim do império do Partido Nacionalista (Kuomintang) no controle da Presidência da ilha.
A China não escondeu nas últimas semanas o alvo de sua metralhadora verbal. Ao renovar as ameaças de invasão da "ilha rebelde" e desenhar cenários catastróficos para o futuro das relações bilaterais, Pequim olhava para Chen Shui-bian, o candidato que defendia a renúncia taiwanesa ao objetivo da reunificação.
Hoje, Chen assume um discurso conciliatório, mas o presidente Jiang Zemin ainda não parece convencido das mudanças ocorridas na liderança do partido que venceu as eleições de ontem.
Chen Shui-bian conseguiu amealhar votos de eleitores que optaram por protestar contra a truculência da China. O mesmo fenômeno ocorreu nas eleições presidenciais de 96, quando Lee Teng-hui, candidato do Kuomintang à reeleição, era o alvo dos mísseis verbais de Pequim.
A China chegou a realizar, quatro anos atrás, exercícios militares em região próxima a Taiwan, com o evidente propósito de intimidar os eleitores da "ilha rebelde".
Para o Partido Comunista chinês, trazer Taiwan ao controle de Pequim significa a fase final de uma "missão histórica".
Mas Lee Teng-hui conseguiu então uma vitória convincente, com mais de 50% dos votos, simbolizando a figura de resistência à pressão do Partido Comunista chinês. Ou seja, a maioria dos eleitores de Taiwan deseja o diálogo com Pequim, indicam todas as pesquisas feitas na ilha, mas protesta contra a "estratégia de mão pesada" da China.
O triunfo de Chen também evidencia a decadência do Kuomintang, que já foi rotulado de "o partido mais rico do planeta" devido aos tentáculos espalhados pela economia taiwanesa.
O partido dos herdeiros de Chiang Kai-shek enfrenta uma imagem associada a escândalos de corrupção e chegou à eleição de ontem dividido.
Lien Chan, o candidato oficial, tinha o controle da poderosa máquina partidária, mas não exibia o mesmo carisma de James Soong, que concorreu à Presidência depois de ter abandonado o Kuomintang.
Também colaborou para a derrocada nacionalista os insistentes rumores de que o presidente Lee Teng-hui preferia Chen Shui-bian a Lien Chan.
O Kuomintang, no entanto, não pode ainda ser riscado do mapa político taiwanês. O partido controla pontos importantes no Poder Legislativo e nos governos municipais, além de manter uma presença significativa na vida de uma das economias mais dinâmicas da Ásia.


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