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ANÁLISE
Tentativa de influenciar eleição de Taiwan esbarra na resistência à truculência de Pequim
Estratégia chinesa sofre nova derrota
JAIME SPITZCOVSKY
especial para a Folha
A vitória de Chen Shui-bian joga luzes sobre dois aspectos da vida política chinesa: mais uma derrota de Pequim em sua tentativa
de influenciar a eleição em Taiwan e o fim do império do Partido
Nacionalista (Kuomintang) no
controle da Presidência da ilha.
A China não escondeu nas últimas semanas o alvo de sua metralhadora verbal. Ao renovar as
ameaças de invasão da "ilha rebelde" e desenhar cenários catastróficos para o futuro das relações
bilaterais, Pequim olhava para
Chen Shui-bian, o candidato que
defendia a renúncia taiwanesa ao
objetivo da reunificação.
Hoje, Chen assume um discurso
conciliatório, mas o presidente
Jiang Zemin ainda não parece
convencido das mudanças ocorridas na liderança do partido que
venceu as eleições de ontem.
Chen Shui-bian conseguiu
amealhar votos de eleitores que
optaram por protestar contra a
truculência da China. O mesmo
fenômeno ocorreu nas eleições
presidenciais de 96, quando Lee
Teng-hui, candidato do Kuomintang à reeleição, era o alvo dos
mísseis verbais de Pequim.
A China chegou a realizar, quatro anos atrás, exercícios militares
em região próxima a Taiwan, com
o evidente propósito de intimidar
os eleitores da "ilha rebelde".
Para o Partido Comunista chinês, trazer Taiwan ao controle de
Pequim significa a fase final de
uma "missão histórica".
Mas Lee Teng-hui conseguiu
então uma vitória convincente,
com mais de 50% dos votos, simbolizando a figura de resistência à
pressão do Partido Comunista
chinês. Ou seja, a maioria dos eleitores de Taiwan deseja o diálogo
com Pequim, indicam todas as
pesquisas feitas na ilha, mas protesta contra a "estratégia de mão
pesada" da China.
O triunfo de Chen também evidencia a decadência do Kuomintang, que já foi rotulado de "o partido mais rico do planeta" devido
aos tentáculos espalhados pela
economia taiwanesa.
O partido dos herdeiros de
Chiang Kai-shek enfrenta uma
imagem associada a escândalos
de corrupção e chegou à eleição
de ontem dividido.
Lien Chan, o candidato oficial,
tinha o controle da poderosa máquina partidária, mas não exibia o
mesmo carisma de James Soong,
que concorreu à Presidência depois de ter abandonado o Kuomintang.
Também colaborou para a derrocada nacionalista os insistentes
rumores de que o presidente Lee
Teng-hui preferia Chen Shui-bian
a Lien Chan.
O Kuomintang, no entanto, não
pode ainda ser riscado do mapa
político taiwanês. O partido controla pontos importantes no Poder Legislativo e nos governos
municipais, além de manter uma
presença significativa na vida de
uma das economias mais dinâmicas da Ásia.
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