São Paulo, domingo, 19 de março de 2000


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ELEIÇÃO
Resultado põe fim a 50 anos de Kuomintang
Independentista vence em Taiwan

das agências internacionais

O candidato pró-independência Chen Shui-bian foi o vencedor das eleições presidenciais de ontem em Taiwan, pondo fim a meio século de controle político da ilha pelo Kuomintang (Partido Nacionalista) e abrindo um período provavelmente agudo de tensões com a China continental.
O governo chinês reagiu ao resultado eleitoral com uma nota em que afirma que "a independência de Taiwan seria absolutamente intolerável em qualquer circunstância".
Horas antes, o presidente eleito havia adotado um tom conciliador com o regime vizinho. Propôs um "tratado de paz", disse estar disposto a visitar Pequim antes de sua posse, em 20 de maio, o que nunca foi feito por seus predecessores, e convidou o presidente Jiang Zemin a visitar Taiwan.
Chen, do Partido Democrático Progressista, obteve 39,3% dos votos, contra 36,8% para James Soong, candidato independente, e 23,1% para o nacionalista Lien Chan, atual vice-presidente do país. Soong anunciou ontem a intenção de criar um novo partido.
Chen não caracterizou sua vitória como o aval político para pôr fim ao atual status quo ("um país, dois sistemas"), no qual está implicitamente embutida a idéia de reunificação das duas Chinas.
Mas reiterou o que já dissera durante sua campanha: que essa fórmula é "inaceitável" e que o exemplo de Hong Kong e Macau não convém a Taiwan.
Declarou ser preciso abrir novos canais de diálogo com a China continental, que permitam o comércio sem a triangulação por portos intermediários e acordos bilaterais de investimentos. Propôs também, sem fornecer detalhes, "medidas que estreitem a confiança mútua na área militar". Disse que a segurança no estreito de Taiwan, que separa os dois territórios, é o objetivo comum.
"Nossa intenção é a reconciliação com boas intenções, cooperação ativa e paz duradoura", afirmou em entrevista coletiva.
Taiwan foi em 1949 o refúgio dos nacionalistas liderados por Chiang Kai-shek, quando os comunistas de Mao Tsé-tung tomaram o poder em Pequim.
O anúncio dos resultados provocou imediatas manifestações de rua em Taipé entre os partidários de Chen, que levaram bem mais em conta o desgaste do Kuomintang que as implicações externas do resultado das eleições.
Em Washington, o presidente Bill Clinton disse que seu país continuará a apoiar a política de "uma única China", que rejeita qualquer idéia de independência. Elogiou também a "vitalidade da democracia em Taiwan".
A primeira reação de Pequim, ontem pela manhã (horário local) consistiu em anunciar em lacônico informe de agência de notícias que Chen liderava as votações "na Província de Taiwan".
Mais tarde, na nota oficial, em que o nome do presidente eleito não é sequer citado, o governo chinês afirma estar "atento aos passos e ações" de Chen.
Diz que a China deseja dialogar com todos os partidos de Taiwan que aprovam o princípio de uma China unificada.
O regime comunista ameaça com frequência invadir Taiwan caso a Província declare unilateralmente sua independência. O governo chinês advertiu há alguns dias que, se os eleitores reagissem "impulsivamente", "não teriam uma segunda chance".
O chefe do Estado-Maior de Taiwan, Tang Yao-ming, declarou que as Forças Armadas seriam leais ao vencedor e continuariam a defender a ilha.



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