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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Tropas se aproximam da fronteira iraquiana

Chris Ison/Reuters
Soldado britânico usa munição como colar no deserto do Kuait


ANDREW BUNCOMBE
DO "THE INDEPENDENT", EM AL KUAIT

As tropas britânicas e americanas reunidas perto da fronteira entre Kuait e Iraque avançaram ontem para novas posições, preparando-se para um ataque militar que pode ter início na noite de hoje. "Finalmente estamos indo a algum lugar", comentou, entusiasmado, o sargento Robert Vennebush, 25, de uma unidade de engenharia do Exército americano. "Vamos à guerra."
Em outro acampamento, soldados da divisão de marines que vai liderar a investida rumo a Bagdá começaram a carregar seus equipamentos em jipes, preparando-se para deixar o local.
A primeira fase do ataque será uma torrente maciça de mísseis e bombas teleguiadas (até 3.000 ao todo), que terá por objetivo aniquilar as defesas iraquianas.
Em seguida, os EUA pretendem lançar um ataque coordenado contra o Iraque, fazendo uso dos militares que tem na região e de outros que chegarão.
É uma estratégia próxima da que foi pensada inicialmente pelo secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld. Este queria utilizar tropas móveis -aerotransportadas- para realizar o ataque, não uma força mais tradicional, fortemente blindada, como teria sido a opção do chefe do Comando Central dos EUA, o general Tommy Franks.
Todos dizem que o poderio aéreo é a chave da operação, pois permitirá que os EUA e o Reino Unido lancem a ofensiva com uma força terrestre menor.
O Reino Unido fornecerá cerca de 10% da potência aérea -por volta de cem aeronaves. O comandante-geral aéreo é um brigadeiro da Força Aérea dos EUA, e seu vice é o marechal-do-ar britânico Glenn Torpy.
Um alto oficial da Real Força Aérea britânica (RAF) -que quis manter-se anônimo- disse que até 2.000 alvos já foram identificados dentro do Iraque. Entre os alvos a serem atingidos no ataque inicial figuram as instalações de comunicações usadas por Saddam Hussein para controlar o uso de quaisquer armas de destruição em massa iraquianas.
O oficial britânico admitiu que, apesar do planejamento e do uso de armas de precisão, ainda é certo que haverá baixas civis. "Não queremos devastar o Iraque", disse o oficial. "Faremos o que for preciso para colocar nosso pessoal dentro do país, ocupá-lo e remover as armas de destruição em massa. Mas haverá erros. Há erros em qualquer guerra."
A estratégia que virá em seguida aos ataques aéreos se tornou necessária em parte devido à recusa da Turquia a permitir que 62 mil soldados americanos e seus equipamentos abrissem uma frente a partir do solo turco e em parte devido à aparente falha em deslocar as tropas com rapidez suficiente. Mesmo agora, três unidades blindadas americanas poderosas ainda estão nos EUA ou na Europa e só chegarão à região do golfo Pérsico entre meados e final de abril.
O contingente que costuma ser citado pelo Pentágono provoca enganos. Embora o Pentágono diga que já há cerca de 225 mil soldados americanos na região, aproximadamente metade desse número é composta de pessoal das forças naval e aérea. O número real de soldados e marines está mais perto dos 120 mil, reforçados por cerca de 26 mil britânicos.
Analistas dizem que o Pentágono demorou para enviar suas tropas. Isso significa duas coisas para os EUA e o Reino Unido: que eles dependem da sua potência aérea maciça e que as primeiras 48 horas da operação terão importância enorme. Altos oficiais dizem que os primeiros ataques serão cruciais para determinar como se passarão os dias seguintes.
Nessas circunstâncias, a tomada da cidade de Basra, no sul do Iraque (tarefa que foi confiada às forças britânicas), vem ganhando importância cada vez maior. As forças britânicas esperam que a população da cidade, de maioria xiita, as receba bem.
Mesmo do ponto de vista das relações públicas, uma ocupação "rápida e benigna" da cidade e dos campos petrolíferos que a cercam resultaria em imagens que Washington gostaria muito de ver transmitidas pelo mundo afora.
O diário "The Washington Post" afirmou ontem que as Forças Armadas pretendem levar jornalistas de avião para filmar quaisquer possíveis cenas de júbilo que possam ocorrer após a chegada das forças britânicas e americanas ao Iraque. O porta-voz dos marines americanos, Chris Hughes, disse que "a primeira imagem a ser vista da guerra vai definir o conflito como um todo".


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