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DIPLOMACIA
Embaixador da França nos Estados Unidos diz que se forem usadas armas químicas posição francesa mudará
Chirac sugere que uso da força é ilegal
JOHN LICHFIELD
DO "THE INDEPENDENT", EM PARIS
O presidente francês, Jacques
Chirac, assumiu ontem o papel de
líder do movimento mundial em
favor da paz, lançando um ataque
acirrado contra os EUA e o Reino
Unido, a quem acusou de tomar
uma decisão "injustificada"
-implicitamente, ilegal- de invadir o Iraque.
Sem se deixar perturbar pelas
críticas virulentas lançadas contra
a França desde o outro lado do canal da Mancha e do Atlântico,
Chirac leu uma declaração previamente redigida avisando que
Washington e Londres vão assumir um risco "grave" se "abrirem
mão da legitimidade garantida
pela ONU" e priorizarem "o uso
da força, em detrimento da lei".
Embora, por pouco, o presidente francês não tenha chegado ao
ponto de declarar ilegal a guerra
liderada pelos EUA, sua afirmação enfureceu ainda mais o presidente George W. Bush e o premiê
britânico, Tony Blair, aprofundando o abismo já fundo nas relações franco-americanas e franco-britânicas. Washington e Londres
talvez esperassem que, agora que
a diplomacia chegou ao fim, a
França fosse manter silêncio, mas
Chirac deixou claro ontem que
pretende liderar a oposição internacional à guerra.
Chirac falou ao telefone ontem
com seu colega russo, Vladimir
Putin, com o novo presidente chinês, Hu Jintuo, e o chanceler alemão, Gerhard Schröder, para discutir a abordagem a ser adotada
nos próximos dias.
"Não existe justificativa para a
decisão unilateral de partir para a
guerra", disse Chirac em sua declaração preparada. Embora o desarmamento de Bagdá seja necessário e a retirada de Saddam do
poder, desejável, afirmou, o sistema de inspeções da ONU mostrara que existia uma "alternativa
digna de crédito" à ação militar.
"Abrir mão da legitimidade
conferida pela ONU e priorizar o
recurso à força, em detrimento da
prevalência da lei, significa assumir uma responsabilidade pesada. A França apela para que respeitem a lei internacional."
Em seguida, Chirac rejeitou as
afirmações feitas por Washington
e Londres de que a França, de alguma maneira, seria a responsável, sozinha, pela recusa do Conselho de Segurança em aprovar
uma resolução autorizando a
guerra. Os EUA e o Reino Unido
acusam Chirac de ter congelado
ou envenenado o processo diplomático, ao anunciar de antemão
que vetaria qualquer resolução
que previsse uma ação militar enquanto o processo de inspeções
estivesse funcionando bem.
Chirac disse que a França não
está agindo sozinha. Sua postura
contrária à guerra "é partilhada
pela grande maioria da comunidade internacional".
"A rodada final de discussões
mostrou claramente que, nas
atuais circunstâncias, o Conselho
de Segurança não estava inclinado a aprovar o início apressado de
uma guerra." Mais cedo, uma declaração formal divulgada por escrito pelo Palácio do Eliseu dizia
que o ultimato de guerra dado por
George Bush vai contra a vontade
da comunidade internacional.
Mais uma vez, foi praticamente
o mesmo que acusar os EUA e o
Reino Unido de planejarem um
crime contra a lei internacional,
mas a França optou por não declarar ilegal a invasão do Iraque.
Se o fizesse, isso poderia autorizar
a idéia de que pretende levar sua
ação contra a guerra de volta ao
Conselho de Segurança ou até
mesmo ao Tribunal de Haia.
No final da tarde, a chancelaria
francesa teve de vir a público para
afirmar que não mudara de opinião acerca de um eventual conflito. Tudo porque horas antes o
embaixador da França nos EUA,
Jean-David Levitte, declarara à
CNN que, "se Saddam Hussein
mantém armas químicas ou biológicas (e forem eventualmente
usadas contra tropas dos EUA),
este fator mudaria completamente a situação para o presidente
Chirac e o governo francês".
Tradução de Clara Allain
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