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Invasão do Iraque faz cinco anos sem perspectiva de fim
Ainda hoje, Bush só pode visitar o país de surpresa, por poucas horas e acompanhado por um forte esquema de segurança
Ex-secretário da Defesa dos EUA previa ocupação de no máximo seis semanas; hoje, retirada rápida, defendida por Obama, é impraticável
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
No último domingo, John F.
Burns, ex-correspondente do
"New York Times" em Bagdá,
publicou artigo em que relembrava as horas que antecederam o primeiro ataque da coalizão liderada pelos EUA. Era a
madrugada local do dia 20 de
março de 2003, noite do dia 19
no Brasil e nos Estados Unidos.
Como ele escreve, estávamos
todos no hotel Palestine, onde
se concentraram os poucos jornalistas do mundo inteiro que
resolveram ficar, mesmo desaconselhados pelo Pentágono.
Víamos o escuro céu daquele final de inverno começar a ficar
alaranjado à distância pelos
primeiros raios de sol.
Logo, a claridade viria de outra fonte, dos mísseis de cruzeiro que atingiam o complexo de
palácios do ditador Saddam
Hussein, a metros de onde estávamos, do outro lado do rio
Tigre -onde hoje fica a Zona
Verde, centro do comando militar e da sede do novo governo
iraquiano. De certa maneira,
estávamos prontos para a crônica da guerra anunciada.
Já em 2002, Bush batia os
tambores de que invadiria o
Iraque, com ou sem a ONU,
com ou sem provas irrefutáveis
de que Saddam estava em processo de construir ou já tinha
construído armas de destruição em massa. Vai ser uma "enterrada", afirmou no final daquele ano George Tenet, então
diretor da CIA, usando uma expressão popular no basquete.
Pode durar seis dias ou seis
semanas, mas não seis meses,
vaticinou Donald Rumsfeld,
então secretário da Defesa dos
EUA, no começo de 2003. Na
noite do mesmo 19 de março,
Bush convocou rede nacional
para avisar que, enquanto ele
falava, sob suas ordens "forças
da coalizão começavam a atingir alvos selecionados de importância militar para minar a
habilidade de Saddam Hussein
de conduzir uma guerra".
Mil anos, 10 mil
Como a história mostraria,
nem Saddam tinha condições
materiais para conduzir uma
guerra, nem Bush tinha planejamento para continuá-la. Cinco anos depois, o republicano
não dá mostras de ter como terminar o conflito. Nas palavras
de John McCain, candidato da
situação à sucessão, "não acho
que os americanos estejam
preocupados se nós vamos ficar
lá por cem anos, mil anos ou 10
mil anos".
O republicano se engana, já
que todas as pesquisas mostram que os americanos estão
preocupados, sim, e querem
que os EUA saiam. São as mesmas pesquisas que colocam a
popularidade de Bush em recorde negativo histórico. Mas
mesmo os concorrentes democratas de McCain poderão fazer
pouco e menos do que prometem na corrida eleitoral.
Não há condições de os EUA
saírem do Iraque em 60 dias,
como chegou a sugerir a campanha de Barack Obama, ou
mesmo de escalonar a volta das
tropas a partir do dia 20 de janeiro de 2009, como sugeriu
Hillary Clinton. Na melhor das
hipóteses, acontecerá o que
aconteceu na Coréia do Sul, onde a presença militar dura décadas. Na pior, o que aconteceu
no Vietnã, onde os últimos
americanos deixaram o país
içados do teto da embaixada
por helicópteros.
Mas o resumo desse período
talvez seja o fato de que não são
só os iraquianos que não podem andar livremente por seu
país, a não ser que façam parte
da facção certa no bairro correto. Cinco anos depois, George
W. Bush só pode visitar o local
para o qual levou a democracia
de surpresa, por poucas horas e
sob forte segurança. Bush deve
deixar o governo sem ter dormido uma noite inteira no país
que invadiu.
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