São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2000


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OPOSIÇÃO
"Presidente é um político oportunista'

CHRISTOPHER WILSON
da "Reuters"


O presidente zimbabuano, Robert Mugabe, está tentando iniciar uma guerra racial numa jogada desesperada para desviar a atenção da crise econômica antes das eleições de maio ou junho (a data ainda não foi marcada), segundo o líder do principal partido oposicionista do país.
Morgan Tsvangirai, líder do Movimento por Mudanças Democráticas, disse que Mugabe havia classificado os fazendeiros brancos como "traidores" para obter o apoio da população negra para a ocupação de terras sem o pagamento de indenizações.
"Alvejando fazendeiros brancos e promovendo a questão racial, ele espera que o país inteiro o apóie nesse caminho perigoso", disse Tsvangirai.
"Felizmente, o Zimbábue inteiro não vê isso como uma questão racial. Os zimbabuanos vêem isso como um oportunismo político da parte de Mugabe, tentando levantar a questão da terra perto das eleições", disse. "Ele teve 20 anos para resolver esse assunto, então as pessoas compreenderam sua estratégia."
Mugabe, 76, disse ontem, no 20º aniversário da independência do país, que os fazendeiros brancos se comportam como "inimigos do Zimbábue". Ele se recusou a exigir a retirada de veteranos de guerra negros que ocupam ao menos 500 fazendas pertencentes a brancos.
Nos últimos dias, dois fazendeiros brancos e dois membros do Movimento por Mudanças Democráticas, incluindo o motorista de Tsvangirai, foram mortos.
"Eu creio que a responsabilidade da situação atual é inteiramente do presidente Mugabe", disse Tsvangirai. "Algumas delas (das pessoas assassinadas) são muito próximas a mim, sejam negras ou brancas. Não é uma questão de raça. Não é uma guerra racial."
Em fevereiro, o partido de Tsvangirai impôs a maior humilhação da Presidência de Mugabe, ajudando a oposição a rejeitar um referendo para uma nova Constituição que aumentaria ainda mais o poder do presidente e o autorizaria a tomar posse das fazendas de brancos.
Críticos de Mugabe afirmam que ele entregou parte das melhores terras zimbabuanas a partidários políticos, ao mesmo tempo em que governa uma economia marcada pela corrupção. Como resultado, há salários baixos, inflação crescente e cortes de combustível, o que irrita a população.
Em recente pesquisa, 65% dos zimbabuanos disseram querer uma mudança no governo.
"Após o referendo, ele (Mugabe) elogiou a comunidade branca por sua participação", afirma Tsvangirai, cujo partido inclui vários fazendeiros brancos.
"Dois meses depois, ele os descreve como traidores. Onde está a base para essa acusação? Tínhamos muita esperança, em 1980. Agora, creio que podemos ter eleições. Mas é questionável se elas vão ser livres e justas."


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