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VENEZUELA
Presidente abre fórum para diálogo, boicotado pela oposição, e diz que sem ação da mídia não teria havido golpe
Chávez promete guardar farda e espada
MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Em sua segunda aparição pública depois do golpe que o tirou do
poder por 48 horas, o presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, prometeu que não usará mais seu
uniforme militar e espada e pediu
ao país que o ajude a "guardá-los
no baú de recordações".
Com essa mensagem, Chávez
instalou ontem o Conselho Federal de Governo, mecanismo destinado a buscar o diálogo e a reconciliação na Venezuela uma semana depois do golpe efêmero que o
tirou do poder por 48 horas.
Os principais partidos de oposição boicotaram o evento e continuam exigindo a renúncia do presidente.
"Juro que o que realmente quero, e peço que me ajudem nisso, é
guardar a espada e o uniforme.
Muito mais que isso, quero colocá-los no baú de recordações",
disse Chávez, um coronel hoje na
reserva que liderou em 1992, ainda na ativa, um golpe fracassado
contra o presidente Carlos Andres Perez.
Em 1998, Chávez foi eleito democraticamente à Presidência,
mas não conseguiu livrar-se da
dependência (nem do uniforme)
da corporação, tendo nomeado
militares para dirigir a companhia petrolífera da Venezuela,
hospitais, escolas e outros postos.
Na quarta-feira, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Cesar Gaviria, havia declarado em Caracas
que a sociedade civil deve fazer
um esforço para afastar os militares da política e retomar o controle das instituições.
Boicote
Os três principais partidos de
oposição boicotaram o evento de
ontem sob a alegação de que não
há reconciliação possível com o
presidente no poder.
Dois deles, a AD (social-democrata) e o Copei (democrata-cristão), controlaram a política venezuelana desde 1958 até a eleição de
Chávez, em 1998. O terceiro partido, Primeiro Justiça, reflete os anseios da classe média urbana que
liderou as manifestações contra
Chávez nos últimos meses.
No evento de ontem, Chávez falou por pouco mais de uma hora
antes de passar a palavra a prefeitos e governadores presentes
-vários partidários de Chávez e
alguns oposicionistas moderados.
Ele voltou a atacar a mídia, que fazia feroz oposição a seu governo.
"O golpe não teria sido possível
sem o apoio dos meios de comunicação, especialmente a TV."
Como condição ao diálogo, o
presidente pediu que a oposição
respeite a Constituição e seu mandato (até 2007) e não tente conspirar novamente contra seu governo. O presidente não fez referência à manifestação realizada no
último dia 11 contra seu governo,
na qual 15 pessoas morreram baleadas. O episódio acabou precipitando o golpe contra Chávez,
executado por militares e idealizado por grupos privados.
As edições de ontem dos principais jornais de Caracas trouxeram
entrevistas com Pedro Carmona,
o líder empresarial nomeado presidente pela junta golpista. Negando ser um golpista, fantoche
ou traidor da democracia, Carmona não negou que o empresário Isaac Pérez Recao, um dos
proprietários da Venoco, companhia petroquímica da qual foi
principal executivo, tenha participado da elaboração do decreto
que suspendeu os Poderes no
país. No entanto, Carmona disse
que "não há uma relação de subordinação entre nós dois" e que
não agiu por interesses econômicos, mas sim por convicção. Carmona está em prisão domiciliar.
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