São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002

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Bush nega apoio a golpe e vê lição para presidente

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Depois de passar uma semana em silêncio, o presidente George W. Bush finalmente se manifestou em relação à postura do país no golpe na Venezuela. "Minha administração deixou muito claro quando houve os conflitos nas ruas que nós apoiávamos a democracia e recusávamos qualquer ação extraconstitucional", disse.
A reação do Departamento de Estado no episódio vem sendo duramente criticada. Num primeiro momento, a Chancelaria condenou o presidente Hugo Chávez pelos atos que teriam levado ao levante e não criticou a quebra da legalidade. Além disso, pelo menos um alto funcionário conversou já na sexta-feira passada com o então presidente interino, o empresário Pedro Carmona.
Uma fonte do governo venezuelano disse ontem inclusive que o adido militar dos EUA em Caracas estaria junto aos golpistas durante a preparação e execução do golpe, em quartel da capital. A Embaixada dos EUA em Caracas não quis comentar a informação.
"É importante que o presidente faça o que prometeu que faria", disse Bush. "É importante que ele abrace as instituições que são fundamentais para a democracia, como a liberdade de imprensa e de expressão. Se existem lições a ser aprendidas, que ele as aprenda."
Em outro momento, comentou ironicamente: "Quando as coisas esquentaram na Venezuela, ele censurou a imprensa". Bush fez suas declarações na Casa Branca depois se reunir com o presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, o que não deixou de ser um recado para Chávez: a relação entre os dois países foram afetadas por conta da simpatia expressa pelo venezuelano pela guerrilha colombiana. Pastrana chegou a apoiar o golpe. "Não há dúvida do apoio e da promoção da democracia na região por parte do presidente Bush", elogiou Pastrana.
Não é absolutamente a posição de diversos líderes latino-americanos, que criticaram o fato de os EUA não terem condenado pública e firmemente a tentativa de golpe. Os EUA dizem que sua primeira reação foi motivada por informações falsas de que Chávez teria aceitado renunciar.

Tom conciliatório
Já o subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, Otto Reich, principal homem do governo para a América Latina, negou relato de que tenha conversado diretamente com Pedro Carmona no dia do golpe.
Segundo Reich, o que houve foi um telefonema de instruções para o embaixador do país em Caracas, Charles Shapiro, que então falou com o presidente interino.
O tom do polêmico membro do Departamento de Estado era mais conciliatório do que o habitual. "Se o presidente Chávez está sendo sincero agora, e eu não tenho razões para duvidar disso, ele vai encontrar um governo americano muito mais disposto a colaborar", afirmou Reich, um cubano-americano defensor de políticas duras contra o regime de Fidel Castro, aliado de Chávez.
Reflexo das tensões Washington-Caracas, os EUA já pediram para pessoal não essencial de sua embaixada que deixe a cidade, temendo protestos. Ontem, a polícia foi chamada ao local para examinar uma maleta suspeita. Foi um alarme falso, mas mostrou a tensão entre os dois países.



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