São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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"Tentava cruzar olhares, e ele abaixava a cabeça"

Ex-colega de escola diz à Folha que, embora na mesma faculdade de Cho, nunca o viu lá

Segundo Jummy Olabanji, sul-coreano era tímido, mas problemas não eram óbvios; "ele não tinha amigos, não era o tipo popular"

DO ENVIADO A BLACKSBURG

Alguns alunos estão chamando o lugar de "amaldiçoado", outros de "ovo da serpente". O fato é que a escola pública de segundo grau Westfield, na cidade de Chantilly, na Virgínia, a 40 minutos de Washington, não esperava entrar no noticiário de novo. Pelo menos, não pelo mesmo motivos. Em maio do ano passado, Michael Kennedy, um aluno seu, entrou num posto policial, matou dois guardas e foi morto.
Na segunda, outro ex-aluno protagonizaria o que as autoridades chamam de maior massacre a tiros da história dos EUA. Com seu ato, Cho Seung-hui levaria à morte outras duas ex-alunas de Westfield, Reema Samaha e Emily Hilscher. Com o segundo grau concluído com alguns anos de diferença, os três se encontrariam de novo no Virginia Tech, ainda não se sabe exatamente em quais circunstâncias.
Quem procura entender o que aconteceu é Jummy Olabanji, 24 anos. Ela também estudou em Westfield. Nos mesmos anos de Cho. Conheceu Reema e Emily. E se formou no Virginia Tech. "Quando ouvi o que aconteceu, não acreditei que era o mesmo Cho", disse ela à Folha na tarde de ontem. "Eu nem sabia que ele estudava no Virginia Tech!".

 

FOLHA - Como você soube que o acusado de ser o atirador era o mesmo menino com quem você freqüentou aulas em Westfield?
JUMMY OLABANJI
- Reconheci as fotos e o nome. Nós completamos o segundo grau no mesmo ano, e ambos viemos para Virginia Tech. Para você ter uma idéia de como ele era isolado, nos quatro anos em que estive aqui, não o vi nenhuma vez.

FOLHA - O que você pode dizer sobre ele?
OLABANJI
- Na escola, era um dos quietões, não falava com ninguém, não tinha amigos, não era o tipo popular, seja qual for o seu critério de "popular". Algo chamava a minha atenção: nos corredores, eu tentava cruzar olhares com ele, Cho abaixava a cabeça. Até que, por fim, você pára de tentar buscar o olhar dele...

FOLHA - Mas você percebia se havia algum problema com ele?
OLABANJI
- Não, de jeito nenhum.

FOLHA - Duas das vítimas também estudaram no mesmo colégio. Você as conhecia?
OLABANJI
- Sim, eram mais novas. É tão triste. Uma delas era a irmã mais nova de minha amiga...

FOLHA - Há rumores persistentes no campus de que uma das duas seria ex-namorada dele ou ao menos uma paixão platônica.
OLABANJI
- Não posso dizer nada sobre isso.

FOLHA - Na manhã de ontem, a polícia do campus divulgou que Cho chegou a ser levado a um instituto psiquiátrico e depois liberado. Qual sua opinião?
OLABANJI
- Eu acho que, considerando as circunstâncias, eles fizeram a coisa certa ao levá-lo a um hospital psiquiátrico. Quanto a soltá-lo, você nunca sabe do que alguém será capaz...


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