São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Eleição mostra enfado francês com políticos

Maioria dos eleitores não acredita que eleição presidencial de domingo trará mudanças; candidatos não entusiasmam

Esquerda e direita se revezam no poder há mais de 20 anos, sem contar as coabitações, e o ceticismo atinge as duas correntes

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

A 24 horas do encerramento, amanhã à meia-noite, da campanha eleitoral para a Presidência da França, quase dá para ver o encolher de ombros coletivo e o suspiro que soa como "oeuf" que o mundo estereotipou como manifestação arquetípica do enfado do francês ou, pelo menos, do parisiense.
Não há entusiasmo por nenhum dos 12 candidatos, do que dá prova o fato de que Nicolas Sarkozy, que vem liderando todas as pesquisas nos últimos meses, mal chega a 30% das intenções de voto, no levantamento que lhe é mais favorável. Sarkozy, ex-ministro do Interior, é o candidato da direita.
Mas o dado que mais demonstra o enfado dos franceses aparece em levantamento do Centro de Pesquisas Políticas da "Sciences Po", centro de excelência no estudo sociológico: a maioria (53%) dos eleitores acha que a eleição de domingo não trará grandes mudanças. Essa maioria oscila entre os que acham que o pleito só melhorará um pouco as coisas (36%) e os definitivamente pessimistas, que dizem que não vai melhorar nada (17%).
Mais: 61% dos franceses não têm confiança nem na esquerda nem na direita para governar o país. Quando se sabe que o poder tem passado da direita para a esquerda ou vice-versa nos últimos 20 anos pelo menos (fora os períodos em que há a chamada coabitação, com um presidente de um lado e o primeiro-ministro do outro), é fácil entender o enfado com a repetição da disputa.
A segunda colocada em todas as pesquisas têm sido precisamente a socialista Ségolène Royal, que venceu a eleição primária no partido, mas não conquistou todos os corações socialistas. Um punhado do que a mídia francesa chama de "elefantes" do PS resiste a madame Royal, como é tratada pelos jornais. Às vezes, mais que resistência, há boicote claro.
Mas tampouco Sarkozy leva toda a direita com ele. Tornou-se candidato sem a boa vontade do atual presidente, Jacques Chirac, e do primeiro-ministro Dominique de Villepin, "elefantes" da direita que são, no mínimo, frios em relação a seu ex-companheiro de gabinete.
Conseqüência das divergências dentro de cada uma das duas grandes correntes políticas: avançou o centrista François Bayrou, que oscila entre 17% e 18% nas três principais pesquisas, de seis a oito pontos percentuais atrás de Ségolène. Ainda assim, Bayrou já teve bem mais. Na mais favorável das três pesquisas principais, chegou a 28%.
A mídia reflete nitidamente o enfado. O jornal "Le Monde" mostrou ontem que notícias sobre crimes aparecem mais na "escalada" dos telejornais do que a campanha presidencial.
O Instituto Nacional do Audiovisual fez uma comparação entre o noticiário da TV nas presidenciais anteriores (2002) e na atual. Este ano, 103 notícias de "faits divers", rubrica que engloba especialmente crimes, foram ao ar contra apenas 66 há cinco anos.
Nesse cenário, é natural que haja ao menos 30% de ainda indecisos, a apenas três dias da votação. A única certeza, assim mesmo relativa, é a de que Sarkozy tende a ser um dos dois classificados para o turno decisivo, no dia 6 de maio.


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