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Eleição mostra enfado francês com políticos
Maioria dos eleitores não acredita que eleição presidencial de domingo trará mudanças; candidatos não entusiasmam
Esquerda e direita se revezam no poder há mais de 20 anos, sem contar as coabitações, e o ceticismo atinge as duas correntes
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
A 24 horas do encerramento,
amanhã à meia-noite, da campanha eleitoral para a Presidência da França, quase dá para
ver o encolher de ombros coletivo e o suspiro que soa como
"oeuf" que o mundo estereotipou como manifestação arquetípica do enfado do francês ou,
pelo menos, do parisiense.
Não há entusiasmo por nenhum dos 12 candidatos, do
que dá prova o fato de que Nicolas Sarkozy, que vem liderando
todas as pesquisas nos últimos
meses, mal chega a 30% das intenções de voto, no levantamento que lhe é mais favorável.
Sarkozy, ex-ministro do Interior, é o candidato da direita.
Mas o dado que mais demonstra o enfado dos franceses
aparece em levantamento do
Centro de Pesquisas Políticas
da "Sciences Po", centro de excelência no estudo sociológico:
a maioria (53%) dos eleitores
acha que a eleição de domingo
não trará grandes mudanças.
Essa maioria oscila entre os
que acham que o pleito só melhorará um pouco as coisas
(36%) e os definitivamente
pessimistas, que dizem que não
vai melhorar nada (17%).
Mais: 61% dos franceses não
têm confiança nem na esquerda nem na direita para governar o país. Quando se sabe que
o poder tem passado da direita
para a esquerda ou vice-versa
nos últimos 20 anos pelo menos (fora os períodos em que há
a chamada coabitação, com um
presidente de um lado e o primeiro-ministro do outro), é fácil entender o enfado com a repetição da disputa.
A segunda colocada em todas
as pesquisas têm sido precisamente a socialista Ségolène Royal, que venceu a eleição primária no partido, mas não conquistou todos os corações socialistas. Um punhado do que a
mídia francesa chama de "elefantes" do PS resiste a madame
Royal, como é tratada pelos jornais. Às vezes, mais que resistência, há boicote claro.
Mas tampouco Sarkozy leva
toda a direita com ele. Tornou-se candidato sem a boa vontade
do atual presidente, Jacques
Chirac, e do primeiro-ministro
Dominique de Villepin, "elefantes" da direita que são, no
mínimo, frios em relação a seu
ex-companheiro de gabinete.
Conseqüência das divergências dentro de cada uma das
duas grandes correntes políticas: avançou o centrista François Bayrou, que oscila entre
17% e 18% nas três principais
pesquisas, de seis a oito pontos
percentuais atrás de Ségolène.
Ainda assim, Bayrou já teve
bem mais. Na mais favorável
das três pesquisas principais,
chegou a 28%.
A mídia reflete nitidamente o
enfado. O jornal "Le Monde"
mostrou ontem que notícias
sobre crimes aparecem mais na
"escalada" dos telejornais do
que a campanha presidencial.
O Instituto Nacional do Audiovisual fez uma comparação
entre o noticiário da TV nas
presidenciais anteriores
(2002) e na atual. Este ano, 103
notícias de "faits divers", rubrica que engloba especialmente
crimes, foram ao ar contra apenas 66 há cinco anos.
Nesse cenário, é natural que
haja ao menos 30% de ainda indecisos, a apenas três dias da
votação. A única certeza, assim
mesmo relativa, é a de que Sarkozy tende a ser um dos dois
classificados para o turno decisivo, no dia 6 de maio.
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