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ITÁLIA
Pela nova lei, aprovada ontem, o premiê, réu em processo de corrupção, não será julgado enquanto estiver no cargo
Parlamento dá imunidade a Berlusconi
DA REDAÇÃO
O Parlamento da Itália concedeu ontem imunidade aos ocupantes dos cinco cargos públicos
mais importantes do país. O premiê italiano, Silvio Berlusconi, 66,
será o primeiro beneficiado, pois
evitará a humilhação de ser julgado -e eventualmente condenado- em um processo de corrupção justamente no período em
que a Itália presidirá a União Européia, a partir de 1º de julho.
A aprovação da imunidade
ocorreu em tempo recorde. Em
menos de três semanas, senadores e, ontem, deputados aprovaram o projeto de lei apresentado
no final de maio.
O texto foi aprovado na Câmara
com facilidade pela maioria de
centro-direita liderada por Berlusconi, com 319 votos a favor, 17
contrários e 13 abstenções. Parlamentares dos principais partidos
de esquerda (oposição) não participaram da votação em protesto.
O fato de que a Itália presidirá a
UE durante seis meses a partir de
julho foi um dos principais argumentos do governo para obter
apoio à nova lei. "Considero uma
vergonha para o nosso país que o
presidente do Conselho de Ministros [premiê], que presidirá a Europa, seja obrigado a comparecer
diante de um tribunal", disse o
ministro Carlo Giovanardi, responsável pelas relações com o
Parlamento.
A nova lei protege o presidente
da República, o primeiro-ministro e os presidentes da Câmara
dos Deputados, do Senado e da
Corte Constitucional (órgão máximo do Poder Judiciário).
Determina que eles não poderão ser julgados enquanto estiverem exercendo suas funções, inclusive por delitos que tenham sido cometidos antes do início de
seus mandatos.
Berlusconi deverá ocupar o cargo de premiê até 2006, a não ser
que perca a maioria no Parlamento antes disso. A nova lei será um
estímulo a mais para que ele tente
a reeleição dentro de três anos.
O texto precisa ser assinado pelo presidente da Itália, Carlo Azeglio Ciampi, e publicado no Diário Oficial antes de entrar em vigor. O processo deverá ser concluído antes de 1º de julho, quando terá início a Presidência italiana da UE.
Berlusconi é réu em um processo em Milão (norte), acusado de
corromper juízes para influenciar
no processo de privatização de
uma estatal nos anos 1980, antes
de entrar para a política.
O premiê, no poder desde 2001
como líder de uma coalizão de
centro-direita, afirma ser inocente e acusa os promotores de serem
simpatizantes da esquerda e agirem por motivação política.
Berlusconi é o homem mais rico
da Itália, dono de um império que
reúne os três principais canais de
TV, jornais, revistas e editoras.
Possui interesses em bancos, seguradoras, supermercados, no setor imobiliário e outros.
A oposição qualificou a lei de inconstitucional e acusou o governo
de propô-la exclusivamente para
proteger o premiê. "Seu objetivo é
favorecer apenas uma pessoa, não
toda a sociedade", disse Graziella
Mascia, do Partido da Refundação Comunista.
A imunidade foi criticada pelo
jornal "Financial Times", um dos
mais influentes da Europa, baseado em Londres e especializado em
economia. "Quando um primeiro-ministro usa sua maioria parlamentar para colocar a si próprio
acima da lei num caso flagrante
de defesa de seus próprios interesses -e que isso seja tolerado
por outros governos-, lança-se
uma sombra sobre toda a União
Européia", diz editorial do "FT".
A imunidade para políticos foi
abolida na Itália no início dos
anos 1990 quando escândalos de
corrupção revelados pela Operação Mãos Limpas atingiram boa
parte da classe política, destruindo diversos partidos tradicionais
de esquerda e de direita.
Com agências internacionais
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