São Paulo, domingo, 19 de junho de 2005

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ÁSIA

Prefeito linha-dura de Teerã surpreende e deve disputar segundo turno presidencial contra o conservador Rafsanjani

Reformistas são derrotados na eleição do Irã

DA REDAÇÃO

Dois conservadores devem disputar um inédito segundo turno das eleições no Irã na próxima sexta-feira, após uma virada do linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, 49, durante a apuração, na tarde de ontem.
Segundo o Ministério do Interior, o conservador pragmático Hashemi Rafsanjani, 70, ficou em primeiro lugar, com 21% dos votos, como esperavam observadores. Ahmadinejad, prefeito de Teerã, surgiu em segundo, com 19,5% das preferências. O reformista moderado Mostafá Moin, até então apontado como mais provável adversário de Rafsanjani no segundo turno, aparecia em quinto lugar com pouco mais de 13% dos votos, atrás do ex-presidente do Parlamento Mahdi Karroubi e do ex-chefe nacional de polícia Mohammad Bagher Qalibaf, cuja vantagem era bastante pequena.
O índice de comparecimento chegou a 63% dos 47 milhões de eleitores iranianos, num rechaço a um boicote proposto por líderes estudantis. Líderes conservadores afirmaram que uma declaração do presidente dos EUA, George W. Bush, que chamara eleições iranianas de antidemocráticas na véspera, acabou irritando os eleitores e incitando-os a votar.
Analistas citados pela imprensa internacional se disseram "espantados" com a virada de Ahmadinejad. O presidente Mohammad Khatami, ao votar na sexta-feira, sugeriu que o resultado da eleição poderia surpreender. "A nação iraniana normalmente desafia as previsões", afirmou.
Independentemente do resultado da eleição, a palavra final sobre as decisões políticas no país continuará sendo do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã.
Rafsanjani é um político veterano que quer estreitar os laços com o Ocidente e de quem se espera um programa pragmático de reformas, que inclua a liberalização da economia e a preservação de liberdades sociais conquistadas sem, contudo, entrar em confronto com os líderes religiosos.

Voto dos pobres
Já Ahmadinejad, numa campanha em que seus adversários quebraram tabus ao defender um melhorar o relacionamento com os EUA, afirmou que essa "não é a chave para os problemas do país" e disse que o direito iraniano a ter acesso à tecnologia nuclear é "inalienável" e não deve se dobrar a pressões externas. Os EUA acusam Teerã de buscar um programa nuclear com fins bélicos.
Segundo agências de notícias, ele aparentemente recebeu o voto da camada mais pobre e religiosa da população. Filho de um ferreiro, Ahmadinejad, foi eleito prefeito de Teerã em uma eleição marcada pela abstenção em 2003. Nos anos 90, ele fora governador de Ardebil, uma cidade religiosamente conservadora no noroeste do Irã, onde lidou com uma grande inundação e vários terremotos.
Embora pertença a uma nova geração de políticos laicos, o líder conservador é um dos mais fiéis aliados do aiatolá Khamenei e atuou como oficial especial da Guarda Revolucionária e como instrutor da milícia religiosa Basij, que defende os princípios da Revolução Islâmica de 1979.

Acusações
Em Paris, cerca de 5.000 pessoas, a maioria de dissidentes iranianos exilados, se reuniu para protestar contra o que chamou de eleições fraudulentas e exortar os governos estrangeiros a não reconhecer a votação.
O protesto foi organizado pelo Conselho Nacional de Resistência, que tem sede na França e se opõe ao regime teocrático no Irã.
Em entrevista coletiva, o clérigo reformista Mehdi Karroubi, terceiro colocado, acusou organismos estatais de manipularem os votos para favorecer um adversário linha-dura.
"Alguns centros de poder estão violando a lei e tentando conseguir mais votos para alguém em particular, com a ajuda do Conselho dos Guardiães", afirmou, sem citar nomes, mas dando a entender que falava de Ahmadinejad.
Os resultados de ontem também ratificam a reputação dúbia das pesquisas de opinião no país, que apontaram como concorrentes no segundo turno Rafsanjani e Moin, ou, com chances menores de passar para a próxima fase, Qalibaf. A maioria dos analistas políticos também errou.
"Foi uma eleição completamente imprevisível", disse o vice-ministro do interior, Mahmoud Mirlohi, durante a apuração.


Com agências internacionais

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