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ÁSIA
Prefeito linha-dura de Teerã surpreende e deve disputar segundo turno presidencial contra o conservador Rafsanjani
Reformistas são derrotados na eleição do Irã
DA REDAÇÃO
Dois conservadores devem disputar um inédito segundo turno
das eleições no Irã na próxima
sexta-feira, após uma virada do linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, 49, durante a apuração, na
tarde de ontem.
Segundo o Ministério do Interior, o conservador pragmático
Hashemi Rafsanjani, 70, ficou em
primeiro lugar, com 21% dos votos, como esperavam observadores. Ahmadinejad, prefeito de
Teerã, surgiu em segundo, com
19,5% das preferências. O reformista moderado Mostafá Moin,
até então apontado como mais
provável adversário de Rafsanjani
no segundo turno, aparecia em
quinto lugar com pouco mais de
13% dos votos, atrás do ex-presidente do Parlamento Mahdi Karroubi e do ex-chefe nacional de
polícia Mohammad Bagher Qalibaf, cuja vantagem era bastante
pequena.
O índice de comparecimento
chegou a 63% dos 47 milhões de
eleitores iranianos, num rechaço
a um boicote proposto por líderes
estudantis. Líderes conservadores
afirmaram que uma declaração
do presidente dos EUA, George
W. Bush, que chamara eleições
iranianas de antidemocráticas na
véspera, acabou irritando os eleitores e incitando-os a votar.
Analistas citados pela imprensa
internacional se disseram "espantados" com a virada de Ahmadinejad. O presidente Mohammad
Khatami, ao votar na sexta-feira,
sugeriu que o resultado da eleição
poderia surpreender. "A nação
iraniana normalmente desafia as
previsões", afirmou.
Independentemente do resultado da eleição, a palavra final sobre
as decisões políticas no país continuará sendo do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã.
Rafsanjani é um político veterano que quer estreitar os laços com
o Ocidente e de quem se espera
um programa pragmático de reformas, que inclua a liberalização
da economia e a preservação de liberdades sociais conquistadas
sem, contudo, entrar em confronto com os líderes religiosos.
Voto dos pobres
Já Ahmadinejad, numa campanha em que seus adversários quebraram tabus ao defender um
melhorar o relacionamento com
os EUA, afirmou que essa "não é a
chave para os problemas do país"
e disse que o direito iraniano a ter
acesso à tecnologia nuclear é "inalienável" e não deve se dobrar a
pressões externas. Os EUA acusam Teerã de buscar um programa nuclear com fins bélicos.
Segundo agências de notícias,
ele aparentemente recebeu o voto
da camada mais pobre e religiosa
da população. Filho de um ferreiro, Ahmadinejad, foi eleito prefeito de Teerã em uma eleição marcada pela abstenção em 2003. Nos
anos 90, ele fora governador de
Ardebil, uma cidade religiosamente conservadora no noroeste
do Irã, onde lidou com uma grande inundação e vários terremotos.
Embora pertença a uma nova
geração de políticos laicos, o líder
conservador é um dos mais fiéis
aliados do aiatolá Khamenei e
atuou como oficial especial da
Guarda Revolucionária e como
instrutor da milícia religiosa Basij,
que defende os princípios da Revolução Islâmica de 1979.
Acusações
Em Paris, cerca de 5.000 pessoas, a maioria de dissidentes iranianos exilados, se reuniu para
protestar contra o que chamou de
eleições fraudulentas e exortar os
governos estrangeiros a não reconhecer a votação.
O protesto foi organizado pelo
Conselho Nacional de Resistência, que tem sede na França e se
opõe ao regime teocrático no Irã.
Em entrevista coletiva, o clérigo
reformista Mehdi Karroubi, terceiro colocado, acusou organismos estatais de manipularem os
votos para favorecer um adversário linha-dura.
"Alguns centros de poder estão
violando a lei e tentando conseguir mais votos para alguém em
particular, com a ajuda do Conselho dos Guardiães", afirmou, sem
citar nomes, mas dando a entender que falava de Ahmadinejad.
Os resultados de ontem também ratificam a reputação dúbia
das pesquisas de opinião no país,
que apontaram como concorrentes no segundo turno Rafsanjani e
Moin, ou, com chances menores
de passar para a próxima fase, Qalibaf. A maioria dos analistas políticos também errou.
"Foi uma eleição completamente imprevisível", disse o vice-ministro do interior, Mahmoud Mirlohi, durante a apuração.
Com agências internacionais
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