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RELIGIÃO
Jesuíta de Nova York manteve silêncio por 12 anos e deixou inocentes na cadeia por respeito ao sigilo da confissão
Padre viola confissão e denuncia assassino
DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT", EM NOVA YORK
Por 12 anos, o padre jesuíta Joseph Towle manteve silêncio sobre o assassinato de um jovem
num parque do bairro do Bronx,
em Nova York, em 1987. Ele tinha
a informação de que os dois homens condenados pelo crime
eram inocentes e que os verdadeiros assassinos estavam soltos. Esta semana, ele resolveu, no entanto, contar à Justiça o que sabia.
O segredo foi revelado segunda-feira num tribunal federal de apelações. Ao apontar, finalmente, a
identidade de um dos criminosos,
o padre Towle cumpriu suas obrigações civis, mas se viu envolvido
numa polêmica sobre o sacramento da confissão.
O terrível dilema do padre Towle começou numa tarde, em
1989, quando ele visitou um jovem problemático de sua paróquia no Bronx. O tal jovem, Jesus
Fornes, contou ao padre que ele e
outro homem haviam matado José Rivera a facadas, num parque,
dois anos antes.
Fornes estava angustiado porque dois de seus amigos haviam
sido condenados injustamente
pelo crime e estavam prestes a receber a sentença.
Ao revelar o segredo, o padre
Towle transformou-se no pivô de
uma apelação judicial movida por
um dos condenados, José Morales, que, junto com Ruben Montalvo, cumpre pena de 15 anos de
prisão pelo assassinato.
O padre Towle só começou a
pensar em romper o silêncio depois que Fornes morreu, assassinado, em 1997. Mesmo assim, ele
foi duramente atacado no tribunal por promotores, que o acusaram de violar o sigilo da confissão.
Towle disse, no entanto, que sua
conversa com Fornes não foi uma
confissão formal, apenas um diálogo. Mas reconheceu que, no final da conversa, concedeu a Fornes a absolvição.
Fornes chegou a ir ao tribunal
no dia em que seus amigos aguardavam a sentença e contou tudo
ao advogado dos réus. Mas já era
tarde. Ele procurou, então, o advogado Stanley Cohen, que presta
assistência jurídica à comunidade, para saber como tirar os dois
inocentes da prisão.
Cohen disse que não havia nada
que Fornes pudesse fazer, a não
ser que ele quisesse passar o resto
de seus dias na prisão.
Arrependido de ter aconselhado Fornes a ficar calado, Cohen
também depôs segunda-feira no
tribunal de apelação. "Estou aqui
porque não posso dormir, não
posso comer e não posso viver em
paz comigo mesmo", disse o advogado.
O padre Towle só concordou
em depor depois de pedir o conselho da igreja. A arquidiocese de
Nova York disse que seria apropriado contar a verdade.
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