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Lobistas armam defesa de golpe no Congresso dos EUA
Pago por empresários de Honduras, ex-assessor dos Clinton ataca Zelaya em audiência
Encabeçados por seu líder na Câmara, 17 republicanos rejeitam em carta volta de deposto ao poder; Hillary
não comenta contratação
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Começa a aparecer o trabalho dos lobistas contratados pelos apoiadores do regime golpista hondurenho em Washington. Nos últimos dias, um
grupo de senadores republicanos escreveu carta à secretária
de Estado, Hillary Clinton, uma
representante (deputada federal) apresentou resolução e um
dos próprios lobistas foi convocado como testemunha em audiência do Congresso sobre a
crise no país centro-americano.
O tom foi sempre o mesmo,
nas três manifestações: Manuel
Zelaya foi retirado do poder legalmente e por querer desrespeitar a Constituição do país;
sua volta desestabilizará Honduras. Encabeçados pelo líder
da minoria Mitch McConnell,
do Kentucky, 17 senadores republicanos dizem a Hillary na
carta que "aparentemente a remoção do senhor Zelaya do poder foi legal e legítima".
A comunicação foi mandada
três dias após Lanny Davis, do
escritório Orrick, Herrington &
Sutcliffe, e o relações-públicas
Bennett Ratcliff, ambos ligados
ao casal Clinton, entre outros
políticos influentes, ter sido
contratado pelo braço hondurenho do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal)
para fazer lobby em Washington contra a volta de Zelaya.
No dia seguinte, a representante republicana Connie
Mack, da Flórida, apresentou
resolução ao Congresso em nome do "povo hondurenho", em
que condena Zelaya "por suas
tentativas inconstitucionais de
alterar a Constituição".
Mais um dia, e a subcomissão
do Hemisfério Ocidental da
Comissão de Relações Exteriores da Câmara realizou audiência com o tema "A Crise em
Honduras".
Entre as testemunhas, estavam Otto Reich, ex-número 1
do Departamento de Estado
para a América Latina, um diplomata linha-dura acusado de
ter dado apoio ao breve golpe
de Estado que tirou o venezuelano Hugo Chávez do poder em
2002, o que ele nega. E Lanny
Davis, o próprio lobista.
Davis apareceria também na
entrevista coletiva dada pelo
embaixador Enrique Reina na
quinta, em que o diplomata
apontado por Zelaya afirmou
que o deposto consideraria as
negociações um fracasso caso a
crise não fosse resolvida ontem. Descoberto pelos partidários de Zelaya na plateia, o lobista foi expulso do encontro
após reclamar de desrespeito à
liberdade de expressão.
Descompasso
Desde que a contratação dos
lobistas foi revelada e até a conclusão dessa edição, Hillary
Clinton e o Departamento de
Estado se recusam a comentar
o potencial conflito de interesses. Mas analistas apontam como evidência o descompasso
entre o discurso da ex-primeira-dama, mais ambíguo em relação ao golpe, e o do presidente, Barack Obama, mais duro.
"Não deveria surpreender
que Hillary e Obama tenham
uma distância entre eles quanto a política externa", escreveu
Mark Weisbrot, co-diretor do
instituto progressista Center
for Economic and Policy Research. "Aparentemente há
também a boa e velha troca de
favores envolvida" na briga.
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