São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lobistas armam defesa de golpe no Congresso dos EUA

Pago por empresários de Honduras, ex-assessor dos Clinton ataca Zelaya em audiência

Encabeçados por seu líder na Câmara, 17 republicanos rejeitam em carta volta de deposto ao poder; Hillary não comenta contratação

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Começa a aparecer o trabalho dos lobistas contratados pelos apoiadores do regime golpista hondurenho em Washington. Nos últimos dias, um grupo de senadores republicanos escreveu carta à secretária de Estado, Hillary Clinton, uma representante (deputada federal) apresentou resolução e um dos próprios lobistas foi convocado como testemunha em audiência do Congresso sobre a crise no país centro-americano.
O tom foi sempre o mesmo, nas três manifestações: Manuel Zelaya foi retirado do poder legalmente e por querer desrespeitar a Constituição do país; sua volta desestabilizará Honduras. Encabeçados pelo líder da minoria Mitch McConnell, do Kentucky, 17 senadores republicanos dizem a Hillary na carta que "aparentemente a remoção do senhor Zelaya do poder foi legal e legítima".
A comunicação foi mandada três dias após Lanny Davis, do escritório Orrick, Herrington & Sutcliffe, e o relações-públicas Bennett Ratcliff, ambos ligados ao casal Clinton, entre outros políticos influentes, ter sido contratado pelo braço hondurenho do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal) para fazer lobby em Washington contra a volta de Zelaya.
No dia seguinte, a representante republicana Connie Mack, da Flórida, apresentou resolução ao Congresso em nome do "povo hondurenho", em que condena Zelaya "por suas tentativas inconstitucionais de alterar a Constituição".
Mais um dia, e a subcomissão do Hemisfério Ocidental da Comissão de Relações Exteriores da Câmara realizou audiência com o tema "A Crise em Honduras".
Entre as testemunhas, estavam Otto Reich, ex-número 1 do Departamento de Estado para a América Latina, um diplomata linha-dura acusado de ter dado apoio ao breve golpe de Estado que tirou o venezuelano Hugo Chávez do poder em 2002, o que ele nega. E Lanny Davis, o próprio lobista.
Davis apareceria também na entrevista coletiva dada pelo embaixador Enrique Reina na quinta, em que o diplomata apontado por Zelaya afirmou que o deposto consideraria as negociações um fracasso caso a crise não fosse resolvida ontem. Descoberto pelos partidários de Zelaya na plateia, o lobista foi expulso do encontro após reclamar de desrespeito à liberdade de expressão.

Descompasso
Desde que a contratação dos lobistas foi revelada e até a conclusão dessa edição, Hillary Clinton e o Departamento de Estado se recusam a comentar o potencial conflito de interesses. Mas analistas apontam como evidência o descompasso entre o discurso da ex-primeira-dama, mais ambíguo em relação ao golpe, e o do presidente, Barack Obama, mais duro.
"Não deveria surpreender que Hillary e Obama tenham uma distância entre eles quanto a política externa", escreveu Mark Weisbrot, co-diretor do instituto progressista Center for Economic and Policy Research. "Aparentemente há também a boa e velha troca de favores envolvida" na briga.

Texto Anterior: Os 7 pontos de Arias
Próximo Texto: Líder nicaraguense articula reforma na Carta por reeleição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.