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"REALEZA AMERICANA"
Família Kennedy sempre soube como utilizar a mídia e roubar a cena do espetáculo político
Carisma e drama alimentam mito do clã
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Há outras famílias de políticos ricos e poderosos nos
EUA além dos Kennedy. O que terá
feito com que ela se
distinguisse?
Os Adams tiveram pai e filho na
Presidência; dois primos Roosevelt chegaram à Casa Branca; os
Rockefeller dominaram Nova
York, tiveram enorme influência
sobre a política interna e externa
do país e um vice-presidente.
Mas nada se compara aos Kennedy, chamados com freqüência
de "a família real americana".
Seu segredo parece estar em
uma conjugação de fatores. Eles
ganharam os holofotes da opinião
pública em 1960, quando o senador John Kennedy obteve a candidatura à Presidência pelo Partido
Democrata. A campanha de 1960
foi a primeira da era da televisão.
A partir dali, política e espetáculo passaram a ser quase sinônimos. E os Kennedy têm o dom de
roubar a cena do espetáculo.
Eles são muito "midiáticos".
Por serem atraentes, carismáticos, bons oradores, defenderem
valores positivos (no discurso).
Mas também porque suas vidas
particulares são melodramáticas.
Porque estão sempre envolvidos
com bebida, casos fora do casamento, drogas, acidentes.
Além disso, eles são muitos. Os
patriarcas tiveram nove filhos e 29
netos. Todos na mira da mídia. O
que é melhor (ou pior): poucos
dispostos a sair da mira da mídia.
Os Kennedy ou estão na política
ou nas margens da política, em
organizações não-governamentais ou na atividade jornalística.
Veja o caso de John Jr. Além de
celebridade natural, nunca deixou de frequentar a sociedade.
Apesar de ter aprendido com a
mãe a manter relativa discrição,
manteve um flerte constante com
a fama e até com a política.
Quem não quer ter nada a ver
com política não precisa discursar em convenções partidárias.
Ou fundar e editar uma revista
para tratar de política.
É verdade que o projeto da
"George" não era tradicional.
John Jr. procurava tratar da política pelo viés ostensivo do espetáculo em "George".
Mas, ainda assim, na revista
John Jr. entrevistava governantes, expunha seus pontos de vista
sobre os temas da agenda política nacional, convidava adversários e aliados para escrever.
Ricos, influentes, irresponsáveis, os Kennedy são também
humanos, talvez humanos demais, com seus vícios, apesar de,
no discurso, aparentarem só virtudes. São como a família real inglesa pós-Elizabeth. Foram os filhos da rainha, com suas fraquezas, divórcios, escândalos, que
humanizaram a casa de Windsor e recuperaram sua popularidade, em especial após a tragédia
de Diana.
Pode até ser que os defeitos dos
príncipes ingleses se tornem a
alavanca para o fim da monarquia inglesa. Mas são eles que a
aproximam do público.
Os Kennedy já foram sagrados
como a família real dos EUA
com essa proximidade. Os fundadores do país disseram ao povo que ele não precisava de reis.
Mas não deram ao país um
substituto para o rei, para ser objeto da adoração dos súditos. Por
isso, instituiu-se nos EUA uma
Presidência monárquica, por
quem os cidadãos têm uma reverência que não é republicana.
No entanto, na era da política
como espetáculo, a Presidência
monárquica se provou insuficiente. As pessoas queriam mais,
queriam uma dinastia, estivesse
ou não no poder de fato. Os Kennedy são essa dinastia, os reis da
mídia. Não precisam do poder
formal para reinar.
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