São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999
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"REALEZA AMERICANA"
Família Kennedy sempre soube como utilizar a mídia e roubar a cena do espetáculo político
Carisma e drama alimentam mito do clã

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília


Há outras famílias de políticos ricos e poderosos nos EUA além dos Kennedy. O que terá feito com que ela se distinguisse?
Os Adams tiveram pai e filho na Presidência; dois primos Roosevelt chegaram à Casa Branca; os Rockefeller dominaram Nova York, tiveram enorme influência sobre a política interna e externa do país e um vice-presidente.
Mas nada se compara aos Kennedy, chamados com freqüência de "a família real americana".
Seu segredo parece estar em uma conjugação de fatores. Eles ganharam os holofotes da opinião pública em 1960, quando o senador John Kennedy obteve a candidatura à Presidência pelo Partido Democrata. A campanha de 1960 foi a primeira da era da televisão.
A partir dali, política e espetáculo passaram a ser quase sinônimos. E os Kennedy têm o dom de roubar a cena do espetáculo.
Eles são muito "midiáticos". Por serem atraentes, carismáticos, bons oradores, defenderem valores positivos (no discurso).
Mas também porque suas vidas particulares são melodramáticas. Porque estão sempre envolvidos com bebida, casos fora do casamento, drogas, acidentes.
Além disso, eles são muitos. Os patriarcas tiveram nove filhos e 29 netos. Todos na mira da mídia. O que é melhor (ou pior): poucos dispostos a sair da mira da mídia.
Os Kennedy ou estão na política ou nas margens da política, em organizações não-governamentais ou na atividade jornalística.
Veja o caso de John Jr. Além de celebridade natural, nunca deixou de frequentar a sociedade. Apesar de ter aprendido com a mãe a manter relativa discrição, manteve um flerte constante com a fama e até com a política.
Quem não quer ter nada a ver com política não precisa discursar em convenções partidárias. Ou fundar e editar uma revista para tratar de política.
É verdade que o projeto da "George" não era tradicional. John Jr. procurava tratar da política pelo viés ostensivo do espetáculo em "George".
Mas, ainda assim, na revista John Jr. entrevistava governantes, expunha seus pontos de vista sobre os temas da agenda política nacional, convidava adversários e aliados para escrever.
Ricos, influentes, irresponsáveis, os Kennedy são também humanos, talvez humanos demais, com seus vícios, apesar de, no discurso, aparentarem só virtudes. São como a família real inglesa pós-Elizabeth. Foram os filhos da rainha, com suas fraquezas, divórcios, escândalos, que humanizaram a casa de Windsor e recuperaram sua popularidade, em especial após a tragédia de Diana.
Pode até ser que os defeitos dos príncipes ingleses se tornem a alavanca para o fim da monarquia inglesa. Mas são eles que a aproximam do público.
Os Kennedy já foram sagrados como a família real dos EUA com essa proximidade. Os fundadores do país disseram ao povo que ele não precisava de reis.
Mas não deram ao país um substituto para o rei, para ser objeto da adoração dos súditos. Por isso, instituiu-se nos EUA uma Presidência monárquica, por quem os cidadãos têm uma reverência que não é republicana.
No entanto, na era da política como espetáculo, a Presidência monárquica se provou insuficiente. As pessoas queriam mais, queriam uma dinastia, estivesse ou não no poder de fato. Os Kennedy são essa dinastia, os reis da mídia. Não precisam do poder formal para reinar.



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