São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

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Grupo quer taxar circulação de capitais

DE PARIS

Todo dia, circulam pelos mercados financeiros cerca de US$ 1,5 bilhão. As somas correm rapidamente de um país a outro, numa busca frenética por rendimentos. Não se fixam em fronteiras, não se interessam pela produção. Seu único objetivo é especular.
Foi de olho nessa aberração que a Attac montou sua plataforma de luta, ao defender um imposto sobre o capital especulativo -proposta originalmente formulada pelo economista norte-americano James Tobin, Prêmio Nobel de Economia de 1972.
A Attac calcula que, mesmo que a Taxa Tobin fosse cobrada num patamar bem baixo, 0,05%, o imposto arrecadado atingiria cerca de US$ 100 bilhões por ano. O dinheiro seria todo ele transferido para organizações internacionais e aplicado na redução das desigualdades sociais e na promoção da saúde pública e da educação nos países pobres.
A proposta, que já foi examinada tecnicamente por especialistas em todos os seus desdobramentos, acabou se transformando numa plataforma da maioria dos grupos antiglobalização, ao lado de outras alternativas, como a interdição dos paraísos fiscais e a anulação da dívida dos países do Terceiro Mundo.
Agora, está também ganhando adeptos dentro dos círculos institucionais, mesmo que eles não se refiram ao seu nome de origem nem à Attac. É o caso, por exemplo, do ministro da Saúde da França, Bernard Kouchner, que defendeu recentemente "a idéia de uma taxa voluntária sobre os movimentos de capital".
Segundo o jornal "Libération", a Taxa Tobin também estará na ordem do dia do próximo Conselho Ecofin, que reunirá os ministros da Economia da União Européia em Liège (Bélgica), em setembro. Por outro lado, uma coordenação internacional já reuniu assinaturas de 686 parlamentares favoráveis ao imposto de todo o mundo.
A Attac, hoje, compreende uma rede de associações com o mesmo nome em mais de 20 países, incluindo o Brasil. Sua participação foi decisiva para viabilizar o Fórum Social Mundial, de Porto Alegre, realizado em janeiro último. O fórum foi a primeira reunião dos grupos antiglobalização realizada com o objetivo de trocar idéias, experiências e estratégias. Outro fórum está previsto para o ano que vem.
Nas eleições presidenciais de 2002 na França, a Attac não vai apoiar nenhum candidato ou partido. "Nós vamos intervir na campanha eleitoral para desenvolver aí nossas posições. Ficará a cargo de cada candidato se posicionar publicamente em relação a elas", diz Bernard Cassen.
Sua posição fica mais nítida quando indagado sobre as eleições brasileiras: "Eu não quero intervir nesse debate. Eu diria simplesmente, do exterior, que nós desejamos que o futuro presidente brasileiro não seja um promotor da mundialização liberal e que, por exemplo, se pronuncie claramente contra a Alca e a favor de nossas reivindicações".



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