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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Grupos de defesa de jornalistas pedem investigação sobre a morte de cinegrafista por soldado americano

Sob ataques e sabotagem, EUA já contam 285 baixas

DA REDAÇÃO

Uma explosão em Bagdá matou, na manhã de ontem, o 285º militar americano no Iraque. As baixas dos EUA -132 somente no pós-guerra- sobem continuamente à medida que, além de ataques iraquianos e acidentes, os militares passaram a incluir no saldo as mortes de soldados que haviam deixado o Iraque feridos.
Segundo o Comando Central Americano (Centcom), a explosão, provocada por uma bomba, ocorreu no início do dia em um bairro xiita da capital. Os ataques e incidentes hostis em áreas xiitas, antes receptivas às forças ocupantes por sua oposição ao ex-ditador Saddam Hussein (um sunita), cresceu nas últimas semanas.
Também aumentou o número e a extensão das ações de sabotadores. O fim de semana foi marcado pelos ataques ao oleoduto que que liga o Iraque a um porto turco e a um aqueduto que abastecia Bagdá, deixando 300 mil pessoas sem água potável sob um calor de 50C. A Casa Branca acusou simpatizantes do regime deposto e "terroristas estrangeiros".
"Estamos na ofensiva. Vamos perseguir esses remanescentes do velho regime. Vamos perseguir esses terroristas estrangeiros", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, em Washington.
No domingo, um sabotador foi morto pelas forças americanas em Tikrit, a cidade em que Saddam foi criado, após ignorar tiros de advertência. Também anteontem, a explosão de um depósito de munições na cidade matou 12 ex-militares iraquianos que tentavam roubar armas, segundo a rede de TV árabe Al Jazira.
O chefe da Autoridade Provisória da Coalizão (APC), o americano Paul Bremer, afirmou que os ataques contra a infra-estrutura civil do país custam "bilhões de dólares" à economia iraquiana, já combalida por 12 anos de sanções da ONU e pela dificuldade em retomar a produção de petróleo, principal fonte de renda local.
O prejuízo estimado apenas com os danos ao oleoduto é de US$ 7 milhões por dia em exportações perdidas, e a restauração deve levar ao menos dez dias.
O líder da APC, que governa o Iraque interinamente, também culpou simpatizantes do regime deposto pelas ações. "Provavelmente são pessoas que sobraram do velho regime e que estão lutando na retaguarda por meio de ataques a bens iraquianos", disse Bremer. "Esses ataques têm ocorrido regularmente nos últimos meses e já causaram uma perda de, literalmente, bilhões de dólares ao povo iraquiano."

Jornalista morto
Bremer também falou, durante entrevista à rede de TV americana CNN, concedida em Bagdá, que a morte do cinegrafista Mazen Dana por um soldado dos EUA foi um "incidente trágico".
Dana, um palestino de 43 anos, fazia imagens da prisão de Abu Ghraib, perto de Bagdá, quando foi atingido por disparos feitos por soldados no domingo.
Ele trabalhava para a agência Reuters, que pediu a abertura de um inquérito sobre as circunstâncias da morte. O mesmo pedido foi feito pela Comissão para Proteger Jornalistas (CPJ), grupo sediado em Nova York, e pelos Repórteres Sem Fronteiras, de Paris.
O comando militar americano abriu uma investigação após reconhecer que o cinegrafista foi morto por um soldado, mas alegou que sua câmera foi confundida com um lança-granadas.
"Na noite de ontem [domingo] tivemos uma terrível tragédia", disse o porta-voz militar, coronel Guy Shields. "Posso garantir que ninguém se sente pior do que o soldado que disparou."
Dana foi o 17º jornalista morto na Guerra do Iraque e o segundo cinegrafista da Reuters morto em um incidente envolvendo soldados americanos -o ucraniano Taras Protsyukmas morreu no ataque ao Hotel Palestine por um tanque americano em abril.


Com agências internacionais

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