São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Após 14 dias de conflito, milícia diz que vai depor armas em troca de anistia; Assembléia interina é escolhida

Líder xiita cede e aceita acordo em Najaf

Ali Jasim/Reuters
A menina Mays chora após um morteiro cair em frente à sua casa, em Najaf, e ferir seu tio no 14º dia de combates na cidade xiita


DA REDAÇÃO

Dias depois de prometer "lutar até a morte", o clérigo radical xiita Moqtada al Sadr cedeu à ameaça do governo interino iraquiano de invadir o santuário onde ele se refugiava e concordou em desarmar sua milícia, o Exército Mehdi, que há 14 dias promove violentos confrontos com as forças dos EUA na região de Najaf (sul do Iraque).
Dentro do acordo fechado ontem com uma delegação do gabinete do premiê Iyad Allawi, Al Sadr também deixará o templo do imã Ali, principal santuário xiita, onde está entrincheirado desde o início dos embates que romperam uma trégua de dois meses. Em contrapartida, o governo de Allawi concordou em anistiar o clérigo e os membros de sua milícia, uma vez que sua parte do acordo seja cumprida. Desta forma, eles estão livres para entrar no processo político iraquiano.
"Moqtada e seus combatentes estão prontos para abandonar as armas e sair, pelo bem do Iraque", disse o assessor político do clérigo, Ali al Yassiri.
O governo dos EUA reagiu com cautela. O Departamento de Estado disse que o acordo era bem-vindo, mas, "se será obedecido, é uma questão a ser monitorada".
Os marines, que cercam a cidade sagrada xiita, concordaram com a trégua. Mas não ficou claro se as forças dos EUA suspenderão a ordem de prisão contra o líder xiita emitida durante a administração americana no Iraque (de maio de 2003 a junho de 2004), que cita seu envolvimento na morte de um clérigo rival. Desde que Al Sadr liderou um levante contra os EUA em abril, autoridades americanas prometem capturá-lo "vivo ou morto".
Antes do acordo, o gabinete interino chegou a ameaçar invadir o templo do imã Ali e "ensinar ao Exército Mehdi uma lição para nunca esquecer". Os EUA chegaram a invadir na semana passada o centro antigo de Najaf, mas temem atingir um templo e provocar um levante nacional no país, majoritariamente xiita.
Embates esporádicos ainda ocorriam durante a noite nas cercanias da cidade. Nas últimas 24 horas, 21 iraquianos morreram violentamente na capital e em cidades do sul do país, segundo dados do Ministério da Saúde. Por sua vez, o comando dos EUA anunciou a morte de um marine e de cerca de 50 insurgentes em uma ação no bairro xiita de Sadr City, em Bagdá. Outros dois militares morreram na Província de Anbar, no oeste.
Também ontem, um grupo armado ameaçou matar um "jornalista ocidental" caso as forças dos EUA não deixassem Najaf em 48 horas. A rede de TV Al Jazira, de Qatar, exibiu um vídeo em que homens mascarados cercam um homem que diz ser Micah Garen, jornalista americano seqüestrado na última sexta em Nassiriah.

Legislativo
Apesar da violência, os 1.300 participantes da Conferência Nacional Iraquiana em Bagdá escolheram 81 dos 100 integrantes da Assembléia Nacional interina. Os demais assentos serão ocupados por membros do Conselho de Governo Iraquiano, órgão nomeado pelos EUA e dissolvido ao fim da administração oficial americana.
A entidade, que funcionará como um Legislativo provisório até a eleição da Assembléia definitiva, em 2005, terá como principais missões redigir a primeira Constituição pós-Saddam Hussein e monitorar o governo interino.
As críticas, entretanto, não cessaram. Os legisladores foram escolhidos depois de quatro dias de debates e da rejeição de duas listas de nomes, que os delegados independentes disseram ser "montadas" pelo gabinete de Allawi.

Com agências internacionais


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