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MÍDIA
Decisões da Justiça e atos do governo restringem prerrogativas da imprensa, como direito de manter o sigilo da fonte
Cresce pressão sobre jornalistas nos EUA
JACQUES STEINBERG
DO "THE NEW YORK TIMES"
Uma decisão judicial tomada na
semana passada ordenando a prisão de um jornalista da revista
"Time" por desacato e uma intimação feita mais tarde a um repórter do "New York Times" no
mesmo caso constituem os exemplos mais recentes de algo que especialistas jurídicos descrevem
como uma tendência ameaçadora
para a categoria dos jornalistas.
Trata-se do enfraquecimento
das proteções básicas ao trabalho
de coleta e divulgação de notícias,
algo que, de modo geral, era visto
como claro e decidido desde a
época do escândalo "Watergate".
A citação por desacato e a intimação são parte de investigação
federal para averiguar se a administração Bush revelou ilegalmente a identidade de uma agente secreta da CIA a Robert Novak, cuja
coluna é publicada em vários jornais, e outros jornalistas.
Essas ações se somam a outra
em que um juiz federal ordenou
que jornalistas identificassem as
fontes que lhes deram informações sobre o cientista Wen Ho Lee
-no final de 1999, Lee foi preso
sob acusação de espionagem nuclear e, nove meses mais tarde,
quando a acusação se mostrou
uma farsa, foi posto em liberdade.
Elas ameaçam solapar algo que
os jornalistas vêem há anos como
seu direito constitucional de não
identificar suas fontes.
Outras decisões judiciais dos últimos meses enfraquecem o princípio legal que possibilita a jornalistas divulgar praticamente tudo
o que sabem sem serem sujeitos a
restrição prévia. É o caso da que
restringiu parcialmente a cobertura dos julgamentos de réus tão
diversos quanto o jogador de basquete Kobe Bryant, acusado de
estupro, e o ex-banqueiro de investimentos Frank Quattrone.
Enquanto isso, autoridades do
Departamento de Justiça e outras
agências federais estão tornando
mais rígidas as normas que ditam
os materiais aos quais jornalistas e
o público em geral podem ter
acesso, de acordo com a Lei sobre
a Liberdade de Informação. As
autoridades alegam que a ênfase
dada pela lei ao acesso rápido e
muitas vezes irrestrito a informações pode ajudar terroristas.
"Alguns desses casos representam restrição direta à capacidade
dos jornalistas de obter informações para subsidiar reportagens.
Outros poderiam desencorajar
fontes que já ajudaram a fornecer
muitos furos de primeira importância", disse Paul K. McMasters,
ombudsman do Centro Primeira
Emenda, uma organização não
partidária e sem fins lucrativos.
Existem, é claro, os que argumentam que pelo menos algumas
das tentativas de refrear a imprensa representam uma correção que
já era devida havia muito tempo.
Entre os princípios que estão
em discussão na investigação sobre o vazamento da identidade da
agente secreta da CIA, Valerie
Plame, está o do privilégio do jornalista de não precisar depor sobre informações confidenciais ou
não publicadas, a não ser que elas
sejam cruciais para um caso específico e que não possam ser obtidas de outra maneira.
Direito à privacidade
Ao ordenar a prisão do jornalista da revista ""Time" Matthew
Cooper, por ter se negado a identificar quem revelou o nome de
Plame, o juiz Thomas Hogan, da
Corte Distrital em Washington,
rejeitou o argumento da revista de
que a Primeira Emenda da Constituição dá ao jornalista o direito
de negar-se a responder sobre
fontes confidenciais. (Cooper
permanece em liberdade enquanto a "Time" recorre da decisão.)
A proibição de tentativas de impedir um órgão de imprensa de
divulgar o que sabe -a não ser
que isso coloque em risco a segurança nacional- foi exposta no
caso dos documentos do Pentágono, de 1971, no qual o "Times"
ganhou o direito de divulgar uma
história secreta da Guerra do
Vietnã redigida pelo governo.
Nos últimos meses, porém, essa
proibição vem sofrendo reveses.
Alguns juízes vêm contrapondo
ao direito do público de tomar conhecimento dos fatos preocupações como o direito do réu à privacidade e o ao julgamento justo.
Especialistas acreditam que o
próximo embate será acerca da
Lei sobre a Liberdade de Informação, de 1966, que facilita o acesso a
agências federais.
Um mês após o 11 de Setembro
de 2001, o secretário da Justiça,
John Ashcroft, rescindiu um memorando de sua antecessora no
cargo, Janet Reno, no qual ela argumentava em favor da "presunção da divulgação".
Ashcroft pediu que as agências
federais considerem "os interesses institucionais, comerciais e de
privacidade que podem ser comprometidos pela divulgação".
Mais documentos oficiais estão
sendo ocultados do público, segundo estudo da Administração
Nacional de Arquivos e Registros,
divulgado na primavera. Segundo
o relatório, em 2003 o governo
classificou como sigilosos, por
conterem segredos que ameaçam
a segurança nacional, 14 milhões
de documentos, contra 11 milhões
em 2002 e 8 milhões em 2001.
Tradução de Clara Allain
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