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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Americano culpa presidente da ANP por paralisia do plano de paz; Hamas poderá integrar novo governo palestino

Bush chama Arafat de "líder fracassado"

DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush reconheceu ontem que o plano de paz israelo-palestino, cujo principal patrocinador são os EUA, está paralisado e jogou a culpa no presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat.
"Arafat é um líder fracassado" disse Bush, em entrevista ao lado do rei Abdullah, da Jordânia, em Camp David (casa de campo da Presidência dos EUA).
O presidente acusou Arafat de ter minado os esforços do ex-premiê palestino Mahmoud Abbas, que era apoiado pelos EUA, de impedir que grupos terroristas palestinos realizassem mais atentados contra Israel. "Por isso estamos agora paralisados", afirmou.
Bush disse, no entanto, que continua firmemente comprometido com o plano de paz, aceito, ao menos teoricamente, por Israel e pela liderança palestina em julho.
O plano previa que tanto a ANP quanto Israel adotassem medidas para reduzir a violência, mas o que se viu nas últimas semanas foi um recrudescimento dos ataques terroristas e das ações israelenses.
Os EUA e Israel acusam Arafat de não fazer muita coisa para impedir a atuação dos grupos terroristas -o que ele nega- e querem que os palestinos busquem um novo líder, mais jovem e moderado, para conduzir o processo de paz.
Em abril, o moderado Mahmoud Abbas (mais conhecido como Abu Mazen) foi indicado premiê, mas acabou renunciando após ter fracassado em controlar as forças de segurança palestinas, influenciadas por Arafat.
O ministro do Trabalho palestino, Ghassan al Khatib, criticou a declaração de Bush: "Ele continua a adotar uma postura (...) que mostra uma falta de sensibilidade ao nosso desejo de determinar nossa própria liderança. Isso não é construtivo e não está em harmonia com o compromisso americano com a democracia".
Anteontem, os EUA vetaram uma proposta de resolução apresentada pela Síria ao Conselho de Segurança da ONU que exigia que Israel desistisse de seus planos de "remover" Arafat, decisão anunciada na semana passada.
A pedido dos países árabes, a Assembléia Geral da ONU, que começou nesta semana, em Nova York, realizará hoje uma sessão de emergência para discutir a ameaça a Arafat.

Hamas no governo
Enquanto Bush qualificava Arafat como "um líder fracassado", o presidente da ANP reunia-se com seu premiê indicado, Ahmed Korei, para definir a formação do novo governo palestino.
O novo gabinete deverá incluir um apoiador do Hamas, grupo extremista responsável pela maioria dos atentados contra Israel, e um nome próximo aos EUA.
Desde que Israel anunciou, na semana passada, sua decisão de "remover" Arafat, os palestinos têm feito questão de demonstrar que o presidente da ANP ainda é o principal líder palestino. Centenas de pessoas têm se manifestado diariamente em frente a seu QG, em Ramallah (Cisjordânia), onde Arafat está cercado por tropas israelenses há 21 meses.
O próprio Korei já deixou claro que não pretende desafiar a liderança do presidente da ANP. "Quero um governo apoiado pela população palestina e pela liderança palestina", disse Korei, após a reunião com Arafat e outros líderes do movimento Fatah, majoritário entre os palestinos.
Arafat deverá ter voz decisiva na escolha dos 24 nomes que integrarão o governo, a ser anunciado na próxima semana.
Ontem, foi anunciado que o apoiador do Hamas, Mousa el Zabout, integrará o gabinete. Não é a primeira vez que um membro do grupo extremista participa de um governo palestino. Mas, no atual momento, a decisão, se confirmada, deverá suscitar sérias críticas por parte de Israel e dos EUA.


Com agências internacionais

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