São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997.



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MÉXICO
Negociação será lenta, diz presidente
Zedillo pede paciência com os zapatistas

BERTRAND DE LA GRANGE
do "Le Monde"

O presidente mexicano, Ernesto Zedillo, enfrenta uma situação desconfortável. Sob seu governo, mantém-se um impasse nas negociações com o Exército Zapatista de Libertação Nacional, a face visível de uma revolta popular no empobrecido sul do país. Apesar disso, ele demonstra otimismo com relação à questão indígena e pede paciência nas negociações. Leia abaixo trechos de entrevista do presidente mexicano ao jornal francês "Le Monde", no qual ele comenta a questão zapatista e outros problemas de seu país.

Pergunta - O senhor vê com tranquilidade a questão de Chiapas, onde o diálogo entre o governo e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) se encontra suspenso desde agosto de 1996? O senhor é criticado por deixar a situação se arrastar, por demorar para incluir na Constituição os direitos indígenas negociados em San Andrés. Qual é a razão dessa demora?
Zedillo -
Aprovo totalmente os acordos de San Andrés, assinados em fevereiro de 1996. Mas não se deve, como fazem alguns, extrair frases isoladas e enxertá-las na Constituição. É preciso que cheguemos a um acordo sobre uma reforma constitucional que leve em conta o espírito dos acordos. Todo esforço será inútil se os dirigentes do EZLN mantiveram sua postura de intransigência.
Pergunta - Existe solução de curto prazo para Chiapas?
Zedillo -
Não, não acredito. Será preciso paciência, como tivemos até agora. As medidas que tomamos em favor da democracia e dos direitos indígenas tornaram caducas as reivindicações do EZLN sobre esses temas. Embora seja verdade que a situação continua grave, todos os indicadores sociais melhoraram no decorrer dos últimos três anos. Fizemos avanços extraordinários em matéria de reforma agrária, que era o principal problema.
Queremos uma solução equitativa para o EZLN, mas não à custa das outras organizações sociais de Chiapas nem do conjunto dos mexicanos. Convidamos o EZLN a retomar o diálogo e ainda estamos esperando sua resposta. O governo poderia ter recorrido à força, mas não o fez e não o fará.
Pergunta - A oposição, tanto de direita quanto de esquerda, o acusa de haver apelado para o Exército para combater os cartéis da droga e para dirigir a polícia mexicana. Os militares são cada vez mais visíveis no país inteiro; não é algo que inspire muita confiança.
Zedillo -
Essa é uma apreciação absolutamente falsa. No México, o Exército sempre participou do combate ao narcotráfico, e a segurança pública sempre foi dirigida pelos militares. Mas hoje isso se faz de maneira transparente, e os militares têm de prestar contas.
Pergunta - A prisão, em fevereiro passado, do general Gutierrez Rebollo, desferiu um golpe pesado contra a credibilidade do Exército e do México.
Zedillo -
Esse caso foi ainda mais doloroso na medida em que descobrimos o envolvimento do general com o tráfico no exato momento em que os Estados Unidos se preparavam para avaliar a eficácia do México no combate às drogas. Apesar das graves dificuldades que esse incidente poderia provocar em nossas relações com os EUA, não hesitei nem um instante sequer em prender o general, como mandava a lei. A mensagem é clara: se não há impunidade para um dos homens mais importantes do Exército, não haverá para ninguém. Hoje, travamos uma batalha sem trégua contra a droga, e as prisões dos narcotraficantes contribuíram para transmitir uma imagem distorcida do México.




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