São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997.



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DEPOIS DO HOLOCAUSTO
Número de judeus só aumenta em Israel, levando o crescimento global da população judaica a 0%
População judaica diminui na diáspora

SÉRGIO MALBERGIER
da Redação

A população judaica diminui em todo o mundo. Ela só aumenta em Israel, estagnando a taxa de crescimento da população judaica global em 0%.
Cálculos feitos na década de 80 chegaram a indicar uma diminuição dessa população, dos 13 milhões atuais (0,23% da população mundial) para 12 milhões no início do próximo século.
Mas a relativamente alta taxa de natalidade do Estado judeu e a emigração de cerca de 1 milhão de judeus da ex-União Soviética para Israel estabilizaram a população. Os dados são do professor Sergio della Pergola, o principal demógrafo do judaísmo.
Na diáspora, porém, os judeus estão encolhendo, principalmente nos EUA, que têm a maior população judaica do planeta -5,9 milhões, contra os 4,5 milhões que vivem em Israel.
As principais causas dessa diminuição são a assimilação, o envelhecimento da população, baixas taxas de natalidade e a profusão de casamentos "mistos" (quando um dos cônjuges não é judeu).
"Em termos demográficos, temos dois problemas. Quantitativo -o número de judeus está diminuindo- e qualitativo -a população judaica está envelhecendo", afirmou Della Pergola, presidente da Faculdade de Judaísmo Contemporâneo da Universidade Hebraica de Jerusalém, em entrevista por telefone à Folha.
Outro fator determinante são as consequências do Holocausto. A Alemanha nazista exterminou cerca de seis milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial (1939-45).
Della Pergola afirma que "cálculos bem modestos" indicam que a perda causada pelo Holocausto na população judaica hoje é de pelo menos 12 milhões de pessoas, somando-se aos 6 milhões de mortos pelos nazistas os filhos e netos que eles gerariam.
Em 1939, antes da 2ª Guerra, a população judaica mundial era de mais de 16 milhões de pessoas. Hoje ela é de 13 milhões. Dos 3,3 milhões de judeus que viviam na Polônia em 1939, por exemplo, 2,8 milhões foram exterminados. Hoje só 20 mil vivem no país.
Desaparecimento
Della Pergola, italiano que emigrou para Israel em 1966, cita o seu país natal para exemplificar o envelhecimento da população judaica na diáspora.
Numa cidade grande como Turim (no norte da Itália), há hoje cerca de 1.200 judeus, a maioria idosos. Em 1996, a comunidade não registrou um nascimento sequer. "A tendência é de desaparecimento em pouco tempo", lamenta Della Pergola.
A Argentina, que na década de 80 tinha uma comunidade de 240 mil pessoas, hoje só tem 206 mil judeus.
O pesquisador explica que os dados demográficos sobre o judaísmo são baseados nos censos nacionais e nas informações coletadas pelas comunidades. Ele colabora na publicação do "The World Jewish Yearbook" (anuário judaico mundial), nos EUA, que reúne dados sobre as populações judaicas do mundo. "Alguns dados são bem confiáveis, outros, nem tanto", afirma Della Pergola.
Mas as comunidades estão cada vez mais se esforçando para contar seus membros. "Os líderes comunitários querem conhecer melhor a comunidade para servi-la melhor", diz o demógrafo.
Quando o Estado de Israel foi fundado, em 1948, tinha apenas 6% da população judaica mundial. Hoje, tem quase 35%. Permanecendo a tendência atual, o país concentrará cada vez mais a população judaica. Se, para sionistas, é a realização de uma velha aspiração, o encolhimento da diáspora é uma ameaça à diversidade judaica.




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