São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2001

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ORIENTE MÉDIO

Arafat se recusa a entregar detidos por morte de ministro; sete morrem na Cisjordânia

Israel dá ultimato a palestinos

Associated Press
Soldado israelense salta de carro blindado depois de incursão em Jenin, no norte da Cisjordânia


DA REDAÇÃO

O governo de Israel ameaçou agir como os EUA estão fazendo em relação ao Afeganistão se a Autoridade Nacional Palestina (ANP) não entregar os responsáveis pela morte do ministro de extrema direita Rehavam Zeevi.
Na primeira retaliação ao atentado de anteontem, três palestinos foram mortos pelo Exército israelense durante a reocupação de territórios na Cisjordânia. Outros três, incluindo um militante procurado por Israel, morreram numa explosão que palestinos atribuíram às Forças Armadas. Um israelense também foi morto.
O secretário de gabinete do premiê Ariel Sharon, Gideon Saar, afirmou que Israel irá "agir contra a Autoridade Palestina do mesmo modo atualmente aceito pela comunidade internacional para operações contra uma liderança que apóia o terror" -referência à milícia islâmica afegã Taleban, que protege o saudita Osama bin Laden, suspeito dos atentados de 11 de setembro nos EUA.
O governo de Israel com frequência acusa o líder palestino Iasser Arafat, presidente da ANP, de condescendência em relação ao terrorismo contra israelenses. A Autoridade Nacional Palestina, que condenou o atentado contra Zeevi, declarou ilegal o braço armado da FPLP (organização que assumiu a autoria do ataque) e prendeu ontem 11 de seus membros, mas afirmou que não entregaria os detidos ao governo israelense. A administração palestina afirmou que julgará os suspeitos.
Zeevi, 75, um político linha-dura que pregava a "transferência" dos palestinos para fora da faixa de Gaza e da Cisjordânia, foi morto anteontem, em Jerusalém, por homens da Frente Popular para a Libertação da Palestina.
A FPLP, uma organização secular contrária aos acordos de Oslo (Noruega, 1993), afirmou que a operação era uma vingança por seu líder, morto em agosto passado, em bombardeio realizado pelas forças de Israel. Nenhuma autoridade israelense eleita jamais fora morta por palestinos.

Atentado contra Arafat
Nabil Abu Rdainah, assessor de Arafat, rechaçou o ultimato e declarou que Israel tem planos para matar o líder palestino -algo que, se se cumprir, poderá levar à ascensão de líderes extremistas.
Outra autoridade palestina, que não quis se identificar, afirmou que Arafat dissera o mesmo em encontro com diplomatas árabes e europeus: "Temos dados indicando que Israel planeja atacar dirigentes palestinos. Esses planos estão encaminhados sobretudo para assassinar o presidente palestino e outras autoridades".
Um porta-voz de Sharon só respondeu que "Israel não está envolvido numa guerra aberta contra a Autoridade Palestina".

Espiral de violência
Milhares de israelenses participaram do funeral do ministro, e as Forças Armadas conduziram nos territórios palestinos uma dura retaliação. A escalada pôs novamente em xeque todos os esforços diplomáticos pela consolidação da trégua israelo-palestina de 26 de setembro.
Os EUA, que não quiseram se posicionar sobre o ultimato à ANP, pediram que o governo israelense não abandone o diálogo.
Tropas israelenses acompanhadas por tanques reocuparam partes de Ramallah, Nablus e Jenin pouco antes do amanhecer. Segundo autoridades palestinas, dois policiais e uma menina de dez anos foram mortos no confronto que se seguiu à incursão. A palestina morreu quando um projétil disparado por um tanque caiu numa escola de Jenin.
Mais tarde, em Belém, explodiu o carro em que estavam três membros do Fatah -grupo político ao qual pertence Arafat-, incluindo Atef Abayat. O militante, acusado de envolvimento na morte de cinco israelenses, tinha seu nome na lista do governo de Israel de supostos terroristas que devem ser "eliminados".
Fontes palestinas apontaram um ataque com helicópteros -muitos dos cerca de 50 supostos terroristas mortos por Israel em sua criticada política de "autodefesa ativa" foram atingidos dessa forma. O governo israelense não confirmou nem negou, só sugeriu que os militantes talvez tivessem sofrido um acidente na preparação de um carro-bomba.
Ainda em Belém, mil pessoas cercaram uma delegacia tentando agredir supostos colaboradores de Israel. No fim do dia, palestinos do vilarejo Beit Jala abriram fogo contra o assentamento Gilo, na Cisjordânia, sem deixar feridos. Perto de Jericó, extremistas palestinos balearam três israelenses, matando um deles.
Com os incidentes de ontem, subiu para ao menos 632 palestinos e 177 israelenses o total de mortos na nova Intifada, o levante palestino iniciado em 28 de setembro do ano passado, após o colapso das conversações de paz.


Com agências internacionais



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