São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2001

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4 da Al Qaeda pegam perpétua em NY

DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT", EM NOVA YORK

A Justiça de Nova York sentenciou à prisão perpétua quatro seguidores do saudita Osama bin Laden -todos integrantes da rede terrorista Al Qaeda- pelos atentados contra as embaixadas dos EUA em Nairóbi (Quênia) e em Dar Assalam (Tanzânia), em 1998, que deixaram 224 mortos e mais de 5.000 feridos.
Há seis meses, eles já haviam sido considerados culpados pelos atos terroristas, porém a condenação teve menos repercussão do que agora, no anúncio da sentença. Bin Laden, acusado de envolvimento nos atentados contra Nova York e o Pentágono, e a Al Qaeda, seu grupo, ainda não eram conhecidos entre os americanos como seus maiores inimigos.
Para agregar mais peso simbólico e emotivo à divulgação da sentença, a audiência aconteceu a poucos quarteirões das ruínas do World Trade Center, destruído nos atentados do dia 11 de setembro, em ato terrorista atribuído a Bin Laden e à Al Qaeda.
Essa foi a primeira vez que membros sabidamente pertencentes à Al Qaeda foram julgados nos EUA. Devido à comoção causada pelos recentes atentados, o tribunal estava com a segurança reforçada por policiais e cães farejadores de bomba.

Agradecimento
O tanzaniano Khalfan Khamis Mohamed, 28, e o saudita Mohamed Rashed Daoud al-'Owhali, 24, receberam a sentença devido a envolvimento indireto nas explosões das embaixadas na África. Por meio de seu advogado, o tanzaniano agradeceu por não ter sido condenado à morte.
A pena foi instituída para terrorismo no Estado de Nova York em 19 de setembro, como resposta aos atentados. Os quatro condenados poderiam ter recebido essa sentença, mas temia-se que eles pudessem ser transformados em mártires de grupos terroristas. Para Howard Kavaler, marido de uma das vítimas, "é melhor que eles morram conscientes de que suas almas estarão condenadas para sempre".
Susan Hirsh, que perdeu o marido nas explosões na Embaixada dos EUA na Tanzânia, afirmou que os condenados tinham uma visão distorcida do islamismo. Seu marido era muçulmano.

"Tempo de justiça"
O jordaniano Mohammed Saddiq Odeh, 36, apesar de possuir uma ligação bem menor com os atentados, recebeu a mesma sentença. Ele admitiu pertencer à Al Qaeda e afirmou que, na sua visão, os ataques ocorreram contra os Estados Unidos devido a seu apoio aos israelenses no conflito contra os palestinos.
Wadih El-Hage, um antigo assessor pessoal de Bin Laden, morava no Texas (EUA) na época dos atentados, mas teria ajudado a Al Qaeda a se estabelecer no Sudão no início dos anos 90, país onde teriam sido organizados os atos terroristas.
Os condenados, que entraram no tribunal com os pés e as mãos algemados, ficarão detidos em uma prisão de segurança máxima em local ainda indefinido.
Ao emitir a sentença, o juiz Leonard Sand evitou um emotivo discurso, como é comum nos Estados Unidos. Limitou-se a dizer apenas que "esse não é um tempo de eloquência, e sim de justiça".

Indenização
Além de serem sentenciados à pena de morte, os quatro terroristas foram condenados a pagar US$ 33 milhões por danos e prejuízos para todos os atingidos nos atentados, US$ 7 milhões para as famílias das vítimas e US$ 26 milhões para o governo norte-americano pelos gastos com todo o julgamento e investigação das explosões nas embaixadas. Para o pagamento, poderá ser utilizado o dinheiro depositado em contas de organizações terroristas congeladas pelo governo dos EUA.


Com agências internacionais



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