São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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MISSÃO NO HAITI

Criticado por democratas, general disse que foi citado "fora de contexto" pela agência Radiobrás

Brasileiro chefe de missão da ONU recua de críticas a Kerry

DA REDAÇÃO

Criticado por relacionar, na semana passada, a recente onda de violência no Haiti a declarações do candidato democrata à Presidência, John Kerry, o general brasileiro no comando das forças da Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti), Augusto Heleno Ribeiro Pereira, disse ontem que suas declarações à agência estatal Radiobrás foram usadas "fora do contexto".
"Como soldado, sou absolutamente apolítico. Lamento que tenha havido mal-entendidos e interpretação equivocada às minhas palavras, que foram consideradas fora do contexto na qual foram expressadas. Não pretendi interferir na política doméstica de qualquer Estado-membro", diz o general Heleno, em nota distribuída a imprensa ontem, originalmente em inglês.
"As declarações foram pessoais e não refletem a visão do governo do Brasil nem das Nações Unidas", conclui a nota distribuída pela sua assessoria.
Em entrevista à Radiobrás divulgada na sexta-feira, o general Heleno é citado dizendo que declarações de Kerry feitas em março a favor do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide (deposto em fevereiro) criaram a falsa noção de que ele poderia voltar ao país.
"Há essa esperança, absolutamente infundada, mas que foi criada pela declaração de um candidato à Presidência da República nos Estados Unidos. E que foi tomada aqui ao pé da letra e criou expectativa de que uma situação de instabilidade no país e uma mudança na política americana pudesse contribuir para que o ex-presidente Aristide retornasse ao país", afirmou o general na entrevista à Radiobrás.
"As declarações foram inapropriadas e não têm a ver com a realidade e o posicionamento atual da campanha de Kerry [de supostamente ser a favor da volta de Aristide]", disse à Folha um membro do comitê democrata em Washington, sob a condição do anonimato.
Para o embaixador brasileiro nos EUA, Roberto Abdenur, o "assunto está encerrado com a nota".
"Em um primeiro momento, os comentários do general caíram mal na campanha [de Kerry], mas não se tratava de uma posição oficial do governo brasileiro", disse o diplomata.
A Folha entrou em contato com o diretor de jornalismo da Radiobrás, José Roberto Garcez, mas ele não quis comentar as críticas do general Heleno.


Colaborou FERNANDO CANZIAN, de Washington


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