São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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Antes de partir para o Haiti, tropa treina ação em favela capixaba

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MARATAÍZES (ES)

O acirramento da violência em Porto Príncipe e o furacão que devastou parte do Haiti levaram a Marinha a reformular parte do treinamentos da tropa de fuzileiros navais que enviará à missão de paz da ONU em dezembro.
Com base em informações de fuzileiros que estão no Haiti desde o primeiro semestre, a Marinha decidiu priorizar ações de rua e atendimento humanitário.
Assim, dois pelotões do Corpo de Fuzileiros Navais ficaram ontem por três horas num bairro pobre de Marataízes (a 120 km de Vitória) e simularam as ações que serão feitas no Haiti, onde o Brasil lidera a tropa de paz da ONU.
A Marinha achou no bairro de Pontal condições urbanas e geográficas semelhantes às das áreas mais pobres da capital haitiana, Porto Príncipe, onde as forças locais e estrangeiras enfrentam grupos rebeldes e paramilitares.
Cerca de 400 fuzileiros estão desde o último dia 13 acampados na praia de Itaoca (município de Itapemirim, vizinho a Marataízes), aprendendo sobre o Haiti, simulando situações que poderão ser enfrentadas lá e recebendo treinamento para a tarefa. Em dezembro, 246 deles substituirão os colegas enviados ao Haiti.
A ação no Pontal ocorreu de manhã, com dois pelotões, cada um com cerca de 30 fuzileiros. Havia caminhões, jipes e um helicóptero. O Pontal é uma área plana, com ruas estreitas e pavimentação precária. Segundo o Censo 2000, vivem na cidade 30.225 pessoas. Não há estimativa sobre a população do Pontal.
A primeira parte da ação simulou a escolta de uma autoridade pelos fuzileiros navais, representantes da Marinha brasileira na força de paz da ONU. Uma das tarefas dos militares do Brasil no Haiti é proteger autoridades.
Cercado por fuzileiros armados com fuzis e protegidos por escudos, o sargento Siqueira, que atuou como dublê na simulação, circulou pelas vielas e cumprimentou pessoas, todas muito surpresas com a presença dos militares. O que o diferenciava dos demais fuzileiros era a gravata em tom amarelo ao redor do pescoço.
Um helicóptero da Marinha sobrevoou o bairro durante toda a operação, dando proteção ao comboio encarregado de proteger a "autoridade", que foi levada até o capitão-de-mar-e-guerra Oswaldo Queiroz de Castro, comandante do Grupamento Operativo dos Fuzileiros Navais Haiti 2, formado para a missão no Caribe.
A conversa entre eles teve a intermediação de um intérprete, também fuzileiro. Eles simularam um diálogo que misturava palavras em português, francês e francês crioulo, idioma haitiano.
A segunda parte consistiu no patrulhamento do bairro, por tropas motorizadas e a pé. Sem saber que era uma simulação, os moradores corriam para dentro das casas, com medo de um tiroteio.
As simulações no litoral capixaba continuam até amanhã.


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