São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Impasse está nas mãos de Guatemala e Venezuela, diz AL

Chile e Uruguai emergem como candidatos alternativos à vaga rotativa da região no Conselho de Segurança da ONU

Caracas afirma que só deixa disputa com pedido de desculpas dos EUA, mas Chávez já teria debatido apoio com colega uruguaio

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Após dois dias de votação sem acordo e um de recesso para debates, o grupo dos países da América Latina e Caribe na ONU pediu ontem que Venezuela e Guatemala resolvam entre si o impasse de suas candidaturas para vaga rotativa do Conselho de Segurança da organização. De Caracas, o presidente Hugo Chávez disse que "não se renderá" e afirmou que "a luta é contra os EUA".
Apoiada por Washington, a Guatemala esbarra agora na rejeição da China, membro permanente do CS com poder de veto, por reconhecer Taiwan como país soberano e manter com ele relações diplomáticas e comerciais.
Após uma rodada de empate e 21 em que a Guatemala liderou os votos sobre a Venezuela, mas sem atingir a maioria necessária, a Assembléia Geral suspendeu a votação, que deve ser retomada hoje, às 10h.
Nas discussões de ontem, tomaram a palavra Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, México, Peru e Uruguai. "Os candidatos são livres para trabalhar juntos e, se precisarem de ajuda, podem contar com um de nós. Vamos ver como reagem", disse o embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Sardenberg.
"Pedimos que os candidatos conversem entre si e tentem chegar a uma solução intermediária", afirmou o representante argentino, Cesar Mayoral.
Diplomatas brasileiros e estrangeiros ouvidos pela Folha na ONU dizem que, na prática, apesar do simbolismo, a presença da Venezuela como membro não-permanente do CS, com mandato de dois anos, teria pouco efeito: as vagas rotativas não têm poder de veto.
Com a polarização das candidaturas, cujo apoio revela ou não alinhamento com Washington, surge a possibilidade de uma terceira via, que anularia a concorrência entre Guatemala e Venezuela e seria eleita em consenso, quase por aclamação. Chile e Uruguai entrariam na disputa.
Forte aliado dos EUA, com quem tem acordos bilaterais, o Chile ganharia apoio de Wahington mas enfrentaria oposição da Venezuela. Além disso, o país esteve há pouco tempo no CS, antes do Brasil, que antecedeu a Argentina (membro atual). Já o Uruguai poderia agradar tanto à Guatemala quanto à Venezuela. Chávez mantém boas relações políticas com o presidente Tabaré Vásquez, também de esquerda, além de estreitas relações comerciais, com acordos de petróleo e gás. A Folha apurou que Chávez já telefonou para Vásquez para acertar apoio caso saia de fato derrotado.
Além disso, o Chile indicou preferência pelo Uruguai, chamando o país de "um excelente candidato". "Não somos candidatos e acreditamos ser melhor assim, para que possamos exercer uma influência construtiva para chegar a um candidato comum", disse o chanceler Alejandro Foxley, que acompanha a presidente Michelle Bachelet em visita à Alemanha. O país, que é membro-associado do Mercosul mas recentemente teve atritos diplomáticos com a Venezuela, se absteve nas votações, alegando que a região deve ter "voz única".
Francisco Arias Cárdenas, representante venezuelano, disse que a única possibilidade de Chávez largar a disputa seria uma retratação pública de Bush e do embaixador americano John Bolton. "Sem chance", respondeu a Casa Branca.
A vaga disputada por Venezuela e Guatemala será liberada pela Argentina em 31 de dezembro. A outra vaga latino-americana é ocupada pelo Peru até o final de 2007.


Com agências internacionais


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