São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2011

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Brasil negocia enviar nova missão à Síria

Medida é discutida em fórum com Índia e África do Sul; ministro admite, porém, que esforço ainda não deu resultado

Em Pretória, Dilma diz que países ricos devem 'abandonar fórmulas do mundo velho' ao lidar com crise econômica

ANA FLOR
CLAUDIA ANTUNES

ENVIADAS ESPECIAIS A PRETÓRIA

Os líderes do fórum Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) negociam mandar uma nova missão à Síria, para cobrar do regime de Bashar Assad as reformas prometidas na última visita, em agosto.
A decisão de "considerar a possibilidade" da iniciativa consta da declaração final da cúpula que reuniu em Pretória a presidente Dilma Rousseff, o colega sul-africano Jacob Zuma e o premiê indiano Manmohan Singh.
Ao discursar, Dilma foi mais dura com a Síria do que a declaração consensual do grupo. Ela defendeu o "fim imediato da repressão", enquanto o texto pediu o "fim da violência" e uma transição "liderada pelos sírios".
Questionado sobre a eficácia de mais gestões diplomáticas em Damasco, o chanceler Antonio Patriota reconheceu: "Nenhum esforço deu resultado até agora".
Ele disse se referir tanto à delegação anterior do Ibas quanto ao projeto de condenação da Síria pelo Conselho de Segurança da ONU, vetado por China e Rússia -os países do Ibas se abstiveram.
Segundo Patriota, o Ibas espera articular nova missão com a Liga Árabe. Ele disse que continuará pressionando Assad a receber a comissão investigadora do Conselho de Direitos Humanos da ONU, copresidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.

CRISE INTERNACIONAL
Às vésperas da cúpula do G20, em novembro, na França, a crise internacional foi o tema dominante.
Dilma disse que a Europa precisa chegar a um "acordo com credibilidade" para evitar que a crise fique "incontrolável". "É preciso abandonar teorias defasadas de um mundo velho por novas formulações para este mundo novo em que vivemos."
Foi outra crítica aos pacotes que pretendem combater a crise na Europa só com ajuste fiscal. "É indispensável uma ação dos governos para estimular o crescimento."
Sobre o G20, Dilma também foi mais incisiva do que a declaração oficial do Ibas. Cobrou a "inadiável" regulamentação do sistema financeiro, e o "fim das políticas monetárias que provocam guerra cambial", referência indireta aos EUA e à China.

PROTEÇÃO DE CIVIS
Os países do Ibas decidiram desenvolver o conceito da "responsabilidade ao proteger" populações civis, afirmou Patriota. Lançado por Dilma ao abrir a Assembleia Geral da ONU, em setembro, o conceito foi repetido por ela ontem na cúpula em Pretória.
Segundo o chanceler, detalhar sua aplicação prática caberá às representações dos países na ONU, em Nova York e Genebra -sede do Conselho de Direitos Humanos.
O termo, um acréscimo ao princípio da "responsabilidade de proteger" civis, aprovado pela ONU em 2005, rejeita o recurso automático a intervenções militares por razões humanitárias. Para o Brasil, elas podem ter resultados piores do que as violações que pretendem evitar.
"Muito se fala sobre a responsabilidade de proteger; pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger", disse Dilma, numa defesa indireta da decisão do Brasil, criticada por ONGs de direitos humanos, de se abster em resoluções sobre Líbia e Síria.

A jornalista CLAUDIA ANTUNES viajou à África do Sul a convite da agência de notícias IPS (Inter Press Service)


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