São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Iraquianos atacam caças britânicos e americanos em zona de exclusão; EUA vêem possível violação de resolução

Primeiros inspetores chegam a Bagdá

Jassim Mohammed/Associated Press
Mohamed El Baradei (à esq.) e Hans Blix passam por retrato de Saddam Hussein, em Bagdá


DA REDAÇÃO

Inspetores de armas da ONU que chegaram a Bagdá ontem após quatro anos de ausência pediram ao governo de Saddam Hussein que, em nome da paz, cooperasse com sua busca por armas de destruição em massa.
Os inspetores chegaram à capital iraquiana enquanto caças britânicos e americanos bombardeavam sistemas de defesa aérea iraquianos na "zona de exclusão" no norte do país. Segundo militares americanos, Bagdá atacou os aviões enquanto eles faziam patrulhas rotineiras. O Iraque considera a "zona de exclusão", imposta para impedir ataques contra opositores curdos (norte) e xiitas (sul), uma violação de sua soberania e frequentemente atira nos caças britânicos e americanos.
O porta-voz da Casa Branca Scott McClellan afirmou ontem que o ataque do Iraque "parece ser uma violação" da resolução 1441 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada no último dia 8.
Não estava claro, contudo, se os outros países que integram o CS considerariam os incidentes sérios o suficiente para merecer uma reação, já que as patrulhas nunca foram explicitamente autorizadas pelo CS. Bagdá disse que os EUA estavam usando a resolução para justificar suas "intenções agressivas".
"A declaração dos EUA é mais uma expressão das intenções americanas de usar a resolução 1441 como cobertura para justificar suas ações agressivas contra o Iraque", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Iraque ontem, segundo a agência oficial iraquiana INA.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, dissera anteontem que os EUA analisariam o comportamento do Iraque por "um período de tempo" antes de recorrerem ao CS.
A volta dos inspetores de armas é provavelmente a última chance de Saddam de evitar uma guerra com os EUA. O presidente americano, George W. Bush, advertiu o ditador iraquiano várias vezes de que, se não cooperar com os inspetores, será atacado pelos EUA e de que adotaria uma política de "tolerância zero" no Iraque.
O chefe dos inspetores da ONU, Hans Blix, e o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed El Baradei, chegaram a Bagdá em um vôo proveniente de Chipre com uma equipe de cerca de 30 pessoas.
"A situação está tensa no momento, mas há uma nova oportunidade, e estamos aqui para fazer um trabalho de inspeção confiável", afirmou Blix ao chegar.
Referindo-se a sanções da ONU impostas ao Iraque por causa de sua invasão do Kuait, em 1990, ele acrescentou: "Esperamos que essa oportunidade seja bem utilizada para que possamos nos livrar das sanções".
Segundo a agência de notícias russa Interfax, o vice-chanceler da Rússia, Yuri Fedotov, afirmou ontem que Moscou pressionaria pelo fim das sanções se o Iraque cooperar com os inspetores da ONU.
Blix afirmou que as inspeções podem começar em 27 de novembro. Segundo a resolução, o Iraque deve apresentar uma lista completa de todos os seus programas de armas de destruição em massa até 8 de dezembro, e os inspetores têm até o dia 23 de dezembro para iniciar seu trabalho.
"A cooperação total por parte do Iraque é importante para nós", disse El Baradei. "Esperamos que esse vá ser o caso." Ele prometeu que as inspeções seriam imparciais e profundas.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, exortou o ditador iraquiano a dar "acesso imediato e irrestrito" a locais onde se suspeita que existam armas químicas, biológicas e nucleares. O Iraque negou em sua carta de aceitação da resolução ter programas de armas de destruição em massa.
"Exorto Saddam Hussein a cumprir integralmente [a resolução" para o bem de seu povo, para o bem da região e para o bem do mundo inteiro", disse Annan.
Os membros da Unmovic (Comissão de Controle, Verificação e Inspeção das Nações Unidas) chegaram em um avião C-130 com a insígnia da ONU. Blix e El Baradei tiveram então uma reunião de duas horas com Husam Mohammed Amin, que, antes de 1998, agia como uma ponte entre o governo iraquiano e os inspetores da ONU, e o assessor presidencial iraquiano Amir al Saadi.
Após a reunião, El Baradei disse que os dois lados haviam começado a discutir providências a serem tomadas para a realização das inspeções e que a conversa continuaria hoje. "Acho que estamos fazendo progressos", afirmou.
O histórico de confrontos entre o Iraque e inspetores da ONU, especialmente no que diz respeito a locais considerados sensíveis, como os chamados "palácios presidenciais", levanta dúvidas sobre a probabilidade de que os dois lados consigam interagir de forma harmoniosa.
O jornal "Al Thawra", do Partido Baath, de Saddam, chamou o programa anterior de inspeções da ONU de "uma organização americana para espionar o Iraque" e afirmou esperar que a nova equipe evite essa armadilha.

Com agências internacionais


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