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AMÉRICA LATINA
Anúncio foi feito um mês após general americano pedir a revisão da compra; colombianos e EUA negam pressão
Colômbia susta compra de aviões do Brasil
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Um mês após um general dos
EUA ter solicitado à Colômbia
que reconsiderasse a compra de
40 aviões da Embraer, o governo
do país decidiu suspender as negociações com a empresa de São
José dos Campos (SP).
A suspensão foi anunciada pela
ministra da Defesa da Colômbia,
Marta Lucía Ramírez, em entrevista a uma rede de TV colombiana, anteontem. O governo colombiano esclareceu não ter desistido
formalmente da compra de aviões
leves como os da Embraer, mas
apenas suspendido as negociações atualmente em curso.
Em outubro, o general James T.
Hill, chefe do Comando Sul do
Pentágono, enviou uma carta ao
governo colombiano sugerindo
que a compra, avaliada em US$
234 milhões, fosse reconsiderada.
Na carta, sugeriu que a prioridade
da Colômbia deveria ser a modernização da frota existente e alertou que a compra de aviões brasileiros poderia "influenciar negativamente a aprovação" de ajuda financeira à Colômbia pelo Congresso americano. O teor da carta
foi divulgada pelo jornal "O Estado de São Paulo".
Ontem, o porta-voz do Comando Sul do Pentágono, Stephen D.
Lucas, disse à Folha que a carta de
Hill foi um "conselho franco" e
não uma posição do governo
americano. Acrescentou ainda
outro ingrediente polêmico ao dizer que a suspensão da compra
não deve ser creditada à carta enviada pelo general, mas a suspeitas "nebulosas" envolvendo o negócio com os brasileiros.
"A ministra já disse publicamente que o negócio com a companhia brasileira estava sendo revisado antes mesmo da carta do
general Hill, devido a outros assuntos", afirmou. "Acho que as
palavras usadas em espanhol foram algo como um "negócio obscuro". Houve alguma forma de irregularidade nos preços, propina
ou alguma outra coisa." A Embraer não quis comentar ontem a
denúncia de propina.
O ministro do Interior da Colômbia, Fernando Londoño, disse
ontem que "a possível aquisição
dos aviões se tornou uma rede de
intrigas e influências".
Anteontem, a revista colombiana "Cambio" publicou uma reportagem na qual indicava que as
quatro companhias interessadas
na venda -além da Embraer,
uma suíça, uma americana e uma
coreana- tinham a ajuda de
"amigos" do governo de Andrés
Pastrana (1998-2002), que iniciou
o processo de compra.
Segundo a "Cambio", o governo
anterior já havia decidido suspender a compra em maio após tomar conhecimento de uma gravação telefônica com detalhes dos
supostos jogos de influência.
A ministra da Defesa negou ontem que a suspensão tivesse alguma relação com a pressão americana ou mesmo com a reportagem da "Cambio". Segundo ela, a
razão foi fiscal. "Possivelmente,
em uns dois anos, haja a necessidade de comprar aviões de combate, mas nós consideramos que
então a situação fiscal do país já
será mais favorável", disse.
Segundo a imprensa colombiana, a posição do ex-ministro da
Fazenda Juan Manuel Santos,
contrário à compra, teria sido determinante para a suspensão.
"Eu me opus em seu momento
à compra dos aviões porque um
investimento dessa natureza não
era conveniente do ponto de vista
das prioridades das finanças públicas e superava a capacidade de
endividamento das Forças Armadas", disse. Santos admitiu que o
representante da empresa suíça é
seu amigo de infância, mas negou
favorecimento. "Eu não tinha sequer a mais remota idéia de que
ele vendia aviões", disse.
O porta-voz do Comando Sul
do Pentágono rejeitou de forma
enfática a idéia de que a referência
à corrupção pudesse ser uma estratégia para colocar em segundo
plano as pressões do Pentágono
sobre o governo da Colômbia.
"Isso não faz sentido. O general
não fez pressões, mas respondeu a
um pedido de sugestão feito pela
própria ministra. Quanto à suposta corrupção, só estou relatando o que já havia sido dito antes
de forma pública", afirmou ele.
O porta-voz disse que o Pentágono não tem qualquer objeção
aos aviões da Embraer - os jatos
leves EMB-314 Super Tucano.
"Quero enfatizar, particularmente para o público brasileiro, que
isso não tem qualquer relação
com a qualidade dos aviões brasileiros. Os EUA, aliás, são o maior
mercado da Embraer."
Com relação aos motivos pelos
quais a carta foi enviada pelo general Hill, ele disse que "não foi
uma manifestação política do governo americano", mas uma simples sugestão num contexto de intercâmbio militar franco.
"A ministra reconheceu ter ela
mesma requisitado a opinião do
general Hill sobre as prioridades
da Força Aérea Colombiana. A
resposta enviada pelo general não
faz nenhuma crítica a qualquer tipo de jato, brasileiro ou não. A recomendação do general foi que a
Força Aérea tinha necessidades
maiores de aprimorar sua mobilidade operacional, de aprimorar
sua frota de C-130 a fim de movimentar suas forças pelo território
colombiano."
Segundo o porta-voz, a referência ao Congresso não visou a pressionar a Colômbia. "O general
disse na carta que a compra dos
aviões poderia causar problemas.
Ele não disse que "causaria" problemas nem ameaçou fazer uma
denúncia no Congresso ou no governo. Foi uma assessoria franca,
solicitada pelos colombianos."
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