São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Anúncio foi feito após visita de general dos EUA

DA REDAÇÃO

Coincidência ou não, o anúncio do cancelamento da compra dos aviões Tucano, da Embraer, pela Força Aérea Colombiana (FAC), anteontem, aconteceu após a visita a Bogotá do general William T. Hobbins, chefe da 12ª Divisão de Aviação da Força Aérea do Comando Sul dos EUA.
Na semana passada, a própria ministra da Defesa da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, apesar de negar uma intromissão dos EUA no caso, disse que a presença do general daria ao governo "melhores elementos técnicos para decidir se compram esses aviões [os Tucanos] ou se reformam [os antigos aviões em uso pela FAC]".
A ministra disse que a carta que havia recebido do general James T. Hill, chefe do Comando Sul dos EUA, recomendando a revisão da compra dos aviões, não significava uma ingerência externa.
O Departamento de Estado dos EUA, no início da semana passada, também negou ter feito pressão, alegando que a correspondência era apenas uma troca natural de informações que os EUA costumam fazer "com seus aliados, entre eles a Colômbia".
Apesar de todos os demais ingredientes envolvidos no caso, como denúncias de lobbies cruzados pelos interessados na venda dos aviões e disputas entre militares e civis no governo, tudo indica que a posição dos EUA tenha sido determinante para a desistência.
Desde o anúncio do Plano Colômbia, de combate ao narcotráfico, em 1999, pelo então presidente Andrés Pastrana, a influência americana no país só faz crescer. Os EUA são os principais financiadores do plano, com mais de US$ 1,3 bilhão.
A crescente participação americana na região provoca temores entre os vizinhos da Colômbia. Esses países temem que a presença dos EUA possa se tornar permanente e que ela estimule a intensificação do conflito, com possíveis reflexos nas fronteiras.
Além disso, a influência dos EUA na Colômbia fere as aspirações brasileiras de exercer um papel maior de liderança regional. O governo brasileiro mantém posição crítica em relação ao Plano Colômbia, temendo que ele permita uma ingerência militar dos EUA na região.

Relação privilegiada
O atual presidente colombiano, Álvaro Uribe, foi eleito em maio, já no primeiro turno, com um discurso que privilegiava a relação com os americanos. Antes mesmo da posse do novo governo, em agosto, Marta Lucía Ramírez anunciou um projeto para o aumento do efetivo das Forças Armadas colombianas, seguindo uma recomendação feita na véspera pela embaixadora dos EUA em Bogotá, Anne Patterson.
Na mesma época, o governo americano aprovou a utilização dos recursos do Plano Colômbia para o combate às guerrilhas esquerdistas e aos paramilitares de direita. Anteriormente, o uso desses recursos estava limitado, por lei, ao combate específico ao narcotráfico.
Desde o início do ano, os EUA já aprovaram uma ajuda excedente de quase US$ 100 milhões à Colômbia para a proteção de cerca de 300 pontos estratégicos para os EUA dentro do país, entre eles o oleoduto Caño Limón-Coveñas, administrado pela multinacional americana Oxy.
Em janeiro, devem desembarcar na Colômbia cem soldados dos EUA para treinar militares colombianos para a proteção do oleoduto, dinamitado quase mil vezes pelos rebeldes desde sua inauguração, em 1986.
Em entrevista à Folha, há duas semanas, o analista político Alfredo Rangel, ex-consultor do Ministério da Defesa, afirmou que a tendência é um aumento na presença americana na Colômbia.
"O governo americano já vinha demonstrando um interesse crescente em apoiar a luta contra a guerrilha, com cuidado especial para a infra-estrutura do país, alvo frequente dos rebeldes", disse.


Texto Anterior: América Latina: Colômbia susta compra de aviões do Brasil
Próximo Texto: Itamaraty não deve defender a Embraer no caso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.