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São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2003

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ARTIGO

Confiamos no julgamento da história

COLIN POWELL
ESPECIAL PARA O "LE MONDE"

Há dois anos os EUA foram ao Afeganistão para derrotar os criminosos da Al Qaeda que tinham destruído o World Trade Center. Fomos para lá para afastar do poder o regime despótico do Taleban, que tinha dado guarida à Al Qaeda e permitido que o país se transformasse numa encruzilhada mortal do terrorismo mundial.
Esse regime horrendo não existe mais, e os integrantes da Al Qaeda estão em fuga ou escondidos. À frente de um novo governo, o presidente afegão, Hamid Karzai, se pôs a trabalhar. O governo está elaborando um novo sistema político baseado nos fundamentos da democracia.
A sociedade afegã segue ancorada na religião, mas hoje ela está começando a permitir a participação de todos na vida civil, inclusive, e sobretudo, as mulheres.
Os afegãos acabam de redigir um projeto de Constituição. O projeto será votado ainda neste ano e vai conduzir à realização de eleições no próximo ano.
A economia afegã começa a se recuperar. Milhares de refugiados voltaram para casa. A infra-estrutura do país está sendo reconstruída. A comunidade internacional está acelerando o envio de assistência financeira à população afegã.
Mas nem todos os perigos foram afastados no Afeganistão. Alguns integrantes do Taleban gostariam de poder voltar ao passado. Eles não querem ver seu país progredir. Alguns chefes regionais ainda opõem resistência ao governo central. Vamos lidar com eles, e eles terão de aprender que o Afeganistão está avançando.
Ainda há muito por fazer, mas muito já foi feito, desde que os EUA começaram a ajudar o presidente Karzai e seu povo.
Dezenas de países são nossos parceiros nesse trabalho vital. A Otan se encarregou da segurança da capital afegã, Cabul. Outros países enviaram tropas para se somarem aos soldados americanos, garantindo a segurança da zona rural. A ONU exerceu um papel-chave.
O Afeganistão é um exemplo perfeito do trabalho de equipe que a comunidade internacional é capaz de realizar.
Entretanto a presença dos soldados americanos constitui a coluna vertebral do esforço militar. Milhares de jovens se destacam a serviço de seu país. Eles servem com um objetivo: levar a liberdade e a paz àqueles que não as conheciam havia décadas.
No Iraque, mais de 130 mil soldados americanos atuam com a mesma dedicação. Outro regime despótico caiu por terra. Saddam Hussein, com seu bando de assassinos, tinha massacrado sua própria população. Tive ocasião de ver valas comuns repletas de suas vítimas e vi centenas de pessoas que ele torturou e mutilou.
Saddam invadiu vizinhos e os atacou com gás tóxico. Ele se associou a terroristas; ele próprio é terrorista. Ele desperdiçou os recursos de seu país durante mais de 35 anos para poder comprar palácios e armamentos. Era uma ameaça para a região. Era uma ameaça para o mundo. A ONU o advertiu durante 12 anos, em vão.
O presidente Bush não ignorou a ameaça e agiu; ele o fez em cooperação com mais de 30 países.
Ainda restam setores fiéis ao antigo regime que precisam ser derrotados. Eles atacam nossas tropas regularmente, tropas que estão no Iraque para levar a paz a uma população que quer essa paz desesperadamente. Os iraquianos querem ter a chance de reconstruir seu país, um país que será alicerçado sobre a democracia, um país que deseja viver em paz com seus vizinhos.
Não há dúvida alguma quanto ao que está em jogo no Iraque. A derrota dos últimos seguidores do regime de Saddam é certa. Também é certa a derrota dos terroristas estrangeiros que vão ao Iraque para levar ao país seu ódio e seu medo do progresso e os despejam sobre os iraquianos e aqueles que estão lá para ajudá-los. Nós os acharemos, onde quer que se escondam, e destruiremos sua rede.
Estamos avançando. A Autoridade Provisória da Coalizão, sob a direção de Paul Bremer, trabalha em conjunto com o Conselho de Governo Iraquiano para construir uma democracia. Os fundamentos para a elaboração de uma nova Constituição já foram fixados. A segurança está progressivamente cada vez mais a cargo dos iraquianos. Conselhos democráticos foram implantados nas cidades. E estamos trabalhando o mais rapidamente possível para preparar os iraquianos para retomar a soberania sobre seu país.
Não há dúvida alguma: estamos sendo postos à prova no Iraque. Estamos sendo testados política e militarmente. É um teste que devemos vencer, que iremos vencer. Se existe uma coisa da qual tenho certeza, é essa.
Afeganistão e Iraque são dois teatros de operações na guerra contra o terrorismo. Em nome dos valores que nossa civilização venera e em nome de nossa própria segurança, precisamos ter a paciência e a determinação de perseverar e estar dispostos a pagar o preço que for preciso, ao mesmo tempo tendo a certeza de que estamos fazendo o que é certo. A história julgará, e temos confiança em seu julgamento.


Colin Powell, 66, é secretário de Estado dos EUA.

Tradução de Clara Allain


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