São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / BAIXA EXPECTATIVA

Liga Árabe minimiza efeito Obama

Para secretário-geral do grupo, não há sinal de que eleito dará guinada na política para o Oriente Médio

O egípcio Amr Moussa diz que novo presidente deve dar prioridade à paz entre Israel e palestinos, com "compromisso concreto"

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O nome árabe e a ascendência islâmica de Barack Hussein Obama -seu avô paterno era muçulmano- não prenunciam uma guinada na política americana para o Oriente Médio.
A avaliação é do secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, que não detectou nenhum sinal de que a Casa Branca terá uma visão diferente sobre a região sob o comando de Obama.
Em entrevista à Folha na sede européia da ONU, em Genebra, Moussa minimizou a importância do histórico familiar de Obama. Para ele, o compromisso do presidente eleito com os interesses hegemônicos da superpotência fala mais alto.
"Ainda não vemos sinais de que haverá uma mudança", disse Moussa, admitindo, entretanto, que "há muita esperança associada à vitória de Obama". Em sua opinião, "a história familiar e a formação do presidente eleito ajudam, mas não são o elemento crucial".
De fato, durante a campanha o candidato democrata deu demonstrações de que sua visão do Oriente Médio não é tão diferente da de George W. Bush.
Um exemplo foi um discurso perante uma platéia judia em Washington. Obama foi tão veemente no apoio aos interesses de Israel que sua assessoria emitiu depois comunicado esclarecendo que sua defesa de uma Jerusalém "unificada" não significava que era contra negociações com os palestinos sobre o status final da cidade.
Para Moussa, o que os árabes esperam de Obama são ações que levem, no curto prazo, a resultados concretos -seja em relação ao Iraque, seja sobre o processo de paz entre israelenses e palestinos. "Tudo dependerá da atitude do novo governo americano. Precisamos de um compromisso concreto com a paz, não mais um processo que leve anos."
"A mudança também depende do nosso trabalho para unir o mundo árabe, principalmente as facções palestinas. E também do lado israelense, que até agora não deu passos práticos para mostrar uma nova tendência. Teremos eleições em Israel em breve, o que pode indicar uma nova direção. Há muitas interrogações."
Ex-chanceler do Egito, Moussa assumiu o comando da Liga Árabe quatro meses antes do 11 de Setembro. Crítico contumaz dos EUA e de sua aliança com Israel, o diplomata egípcio não esconde que sua admiração pela sociedade americana foi reforçada com a vitória de Obama. "O "american way" que levou Obama ao poder é algo que todos temos que admirar, pela vitalidade da sociedade americana."
Mesmo com os enormes desafios que aguardam o novo presidente, Moussa acha que o processo de paz entre Israel e os palestinos deve ser uma prioridade. "Uma grande potência tem a capacidade de lidar com vários problemas simultaneamente", afirma. "O importante não são grande gestos, mas passos concretos."


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