|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA / BAIXA EXPECTATIVA
Liga Árabe minimiza efeito Obama
Para secretário-geral do grupo, não há sinal de que eleito dará guinada na política para o Oriente Médio
O egípcio Amr Moussa diz que novo presidente deve dar prioridade à paz entre Israel e palestinos, com "compromisso concreto"
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O nome árabe e a ascendência islâmica de Barack Hussein
Obama -seu avô paterno era
muçulmano- não prenunciam
uma guinada na política americana para o Oriente Médio.
A avaliação é do secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, que não detectou nenhum
sinal de que a Casa Branca terá
uma visão diferente sobre a região sob o comando de Obama.
Em entrevista à Folha na sede européia da ONU, em Genebra, Moussa minimizou a importância do histórico familiar
de Obama. Para ele, o compromisso do presidente eleito com
os interesses hegemônicos da
superpotência fala mais alto.
"Ainda não vemos sinais de
que haverá uma mudança", disse Moussa, admitindo, entretanto, que "há muita esperança
associada à vitória de Obama".
Em sua opinião, "a história familiar e a formação do presidente eleito ajudam, mas não
são o elemento crucial".
De fato, durante a campanha
o candidato democrata deu demonstrações de que sua visão
do Oriente Médio não é tão diferente da de George W. Bush.
Um exemplo foi um discurso
perante uma platéia judia em
Washington. Obama foi tão
veemente no apoio aos interesses de Israel que sua assessoria
emitiu depois comunicado esclarecendo que sua defesa de
uma Jerusalém "unificada"
não significava que era contra
negociações com os palestinos
sobre o status final da cidade.
Para Moussa, o que os árabes
esperam de Obama são ações
que levem, no curto prazo, a resultados concretos -seja em
relação ao Iraque, seja sobre o
processo de paz entre israelenses e palestinos. "Tudo dependerá da atitude do novo governo americano. Precisamos de
um compromisso concreto
com a paz, não mais um processo que leve anos."
"A mudança também depende do nosso trabalho para unir
o mundo árabe, principalmente as facções palestinas. E também do lado israelense, que até
agora não deu passos práticos
para mostrar uma nova tendência. Teremos eleições em
Israel em breve, o que pode indicar uma nova direção. Há
muitas interrogações."
Ex-chanceler do Egito,
Moussa assumiu o comando da
Liga Árabe quatro meses antes
do 11 de Setembro. Crítico contumaz dos EUA e de sua aliança
com Israel, o diplomata egípcio
não esconde que sua admiração pela sociedade americana
foi reforçada com a vitória de
Obama. "O "american way" que
levou Obama ao poder é algo
que todos temos que admirar,
pela vitalidade da sociedade
americana."
Mesmo com os enormes desafios que aguardam o novo
presidente, Moussa acha que o
processo de paz entre Israel e
os palestinos deve ser uma
prioridade. "Uma grande potência tem a capacidade de lidar com vários problemas simultaneamente", afirma. "O
importante não são grande gestos, mas passos concretos."
Texto Anterior: Bush muda status de seus indicados para preservá-los Próximo Texto: Americanas Índice
|