São Paulo, sexta, 19 de dezembro de 1997.




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NOVO PRESIDENTE
Kim Dae Jung se compara a Tony Blair e tenta afastar imagem de esquerdista na tarefa de salvar economia
Oposicionista vence na Coréia do Sul

OSCAR PILAGALLO
enviado especial a Seul

O principal candidato da oposição na Coréia do Sul, Kim Dae Jung, venceu ontem a eleição presidencial com a missão de resgatar o país do quase colapso econômico das últimas semanas, após três décadas de forte expansão.
Kim gosta de se comparar ao premiê britânico trabalhista, Tony Blair, que teve um passado de esquerda e depois se aproximou do liberalismo.
Favorito nas pesquisas de opinião, Kim obteve, em sua quarta tentativa de chegar à Presidência, 40,3% dos votos, uma vitória apertada sobre seu principal adversário, Lee Hoi Chang, da situação, que ficou com 38,7%.
O resultado só foi considerado irreversível na madrugada, quando três quartos dos votos haviam sido contados. O universo eleitoral da Coréia é de 32 milhões de pessoas com mais de 20 anos.
Dois fatores viabilizaram a vitória: a aliança que Kim fez com os conservadores e a divisão da situação. A aliança, com Kim Jong Pil, considerado ultraconservador, foi um casamento de conveniência.
Kim Jong Pil foi o fundador da Agência Central de Informação da Coréia e estava no comando do órgão repressivo quando o presidente eleito foi sequestrado em 1973, durante o regime militar.
Nesta eleição, seu apoio foi fundamental como contrapeso à imagem de conciliador de Kim Dae Jung em relação ao regime comunista da Coréia do Norte.
Ele também ajudou a obter votos importantes em regiões do país onde a rejeição ao presidente eleito era grande.
A divisão da situação foi outro fator decisivo na vitória de Kim Dae Jung. O terceiro candidato, Rhee In Je, é dissidente do partido do governo e lançou-se na disputa quando Lee parecia não ter mais chances, após acusações contra seu filho, que teria mentido para escapar do alistamento militar.
Lee recuperou-se parcialmente desse revés, mas Rhe manteve a candidatura e acabou ficando com 20% dos votos.
O maior obstáculo de Lee, o candidato preferido das elites, foi estar associado ao presidente Kim Young Sam, responsável pela crise em que o país afundou no meio da campanha eleitoral.
Lee foi primeiro-ministro do atual presidente no início do mandato, mas depois afastou-se do governo, que passou a criticar. Mesmo assim, carregou o fardo de ser o candidato oficial.
Em seus discursos, enfatizou as críticas aos três Kims: seu oponente, o conservador que lhe deu o apoio decisivo e o presidente.
A eleição marca o início de um vácuo político que vai durar dois meses, até a posse de Kim, prevista para 25 de fevereiro.
O presidente está sendo pressionado para ceder poder ao eleito, sob pena de a ausência de uma liderança com meios de governar acabar aprofundando ainda mais a crise econômica.
Kim Young Sam tem dito que aceita, no máximo, uma transição compartilhada.
A eleição de ontem dá continuidade ao processo democrático, que tem apenas dez anos. Antes disso, o país viveu quase três décadas sob ditadura militar, tendo enfrentado anteriormente a guerra civil e, na primeira metade do século, a ocupação japonesa.
Por ser recente a democracia, havia preocupação com o alto nível de abstenção previsto, que acabou não sendo confirmado. Cerca de 80% dos eleitores compareceram às urnas, a mesma proporção da eleição passada.
A história do sucesso econômico da Coréia é contada a partir dos anos 60 e coincide com a ascensão dos militares ao poder, com Park Chung Hee, considerado o pai da Coréia moderna. Essa modernidade está baseada no favorecimento aos conglomerados, o que deu origem à corrupção.
O desafio de Kim é desmontar esse modelo e fazer o país voltar a crescer após a recessão prevista.



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