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NOVO PRESIDENTE
Kim Dae Jung se compara a Tony Blair e tenta afastar imagem de esquerdista na tarefa de salvar economia
Oposicionista vence na Coréia do Sul
OSCAR PILAGALLO
enviado especial a Seul
O principal candidato da oposição na Coréia do Sul, Kim Dae
Jung, venceu ontem a eleição presidencial com a missão de resgatar
o país do quase colapso econômico
das últimas semanas, após três décadas de forte expansão.
Kim gosta de se comparar ao
premiê britânico trabalhista, Tony
Blair, que teve um passado de esquerda e depois se aproximou do
liberalismo.
Favorito nas pesquisas de opinião, Kim obteve, em sua quarta
tentativa de chegar à Presidência,
40,3% dos votos, uma vitória apertada sobre seu principal adversário, Lee Hoi Chang, da situação,
que ficou com 38,7%.
O resultado só foi considerado
irreversível na madrugada, quando três quartos dos votos haviam
sido contados. O universo eleitoral
da Coréia é de 32 milhões de pessoas com mais de 20 anos.
Dois fatores viabilizaram a vitória: a aliança que Kim fez com os
conservadores e a divisão da situação. A aliança, com Kim Jong Pil,
considerado ultraconservador, foi
um casamento de conveniência.
Kim Jong Pil foi o fundador da
Agência Central de Informação da
Coréia e estava no comando do órgão repressivo quando o presidente eleito foi sequestrado em 1973,
durante o regime militar.
Nesta eleição, seu apoio foi fundamental como contrapeso à imagem de conciliador de Kim Dae
Jung em relação ao regime comunista da Coréia do Norte.
Ele também ajudou a obter votos
importantes em regiões do país
onde a rejeição ao presidente eleito
era grande.
A divisão da situação foi outro
fator decisivo na vitória de Kim
Dae Jung. O terceiro candidato,
Rhee In Je, é dissidente do partido
do governo e lançou-se na disputa
quando Lee parecia não ter mais
chances, após acusações contra
seu filho, que teria mentido para
escapar do alistamento militar.
Lee recuperou-se parcialmente
desse revés, mas Rhe manteve a
candidatura e acabou ficando com
20% dos votos.
O maior obstáculo de Lee, o candidato preferido das elites, foi estar
associado ao presidente Kim
Young Sam, responsável pela crise
em que o país afundou no meio da
campanha eleitoral.
Lee foi primeiro-ministro do
atual presidente no início do mandato, mas depois afastou-se do governo, que passou a criticar. Mesmo assim, carregou o fardo de ser
o candidato oficial.
Em seus discursos, enfatizou as
críticas aos três Kims: seu oponente, o conservador que lhe deu o
apoio decisivo e o presidente.
A eleição marca o início de um
vácuo político que vai durar dois
meses, até a posse de Kim, prevista
para 25 de fevereiro.
O presidente está sendo pressionado para ceder poder ao eleito,
sob pena de a ausência de uma liderança com meios de governar
acabar aprofundando ainda mais a
crise econômica.
Kim Young Sam tem dito que
aceita, no máximo, uma transição
compartilhada.
A eleição de ontem dá continuidade ao processo democrático,
que tem apenas dez anos. Antes
disso, o país viveu quase três décadas sob ditadura militar, tendo enfrentado anteriormente a guerra
civil e, na primeira metade do século, a ocupação japonesa.
Por ser recente a democracia, havia preocupação com o alto nível
de abstenção previsto, que acabou
não sendo confirmado. Cerca de
80% dos eleitores compareceram
às urnas, a mesma proporção da
eleição passada.
A história do sucesso econômico
da Coréia é contada a partir dos
anos 60 e coincide com a ascensão
dos militares ao poder, com Park
Chung Hee, considerado o pai da
Coréia moderna. Essa modernidade está baseada no favorecimento
aos conglomerados, o que deu origem à corrupção.
O desafio de Kim é desmontar
esse modelo e fazer o país voltar a
crescer após a recessão prevista.
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