São Paulo, sexta, 19 de dezembro de 1997.




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EM MEIO AO CRASH
Surgem os primeiros sinais de desaceleração da economia, resultado do acordo firmado com o FMI
Coréia do Sul começa a sentir recessão

do enviado especial a Seul

O novo presidente da Coréia vai tomar posse em fevereiro com o país mergulhado em uma recessão que já começa a se manifestar, menos de um mês depois do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Alguns sinais são visíveis em Seul, a capital, onde o trânsito melhorou porque mais pessoas deixam o carro em casa depois da alta do preço dos combustíveis em consequência da desvalorização do won, a moeda nacional.
Com população superior a 10 milhões de pessoas, cerca de um quarto dos habitantes do país, Seul enfrenta problemas de trânsito comparáveis aos de São Paulo.
Neste mês, a crise permitiu que a velocidade média subisse de menos de 20 km/h para mais de 23 km/h. O movimento nos estacionamentos caiu 7%.
A recessão prevista na Coréia é resultado das exigências do FMI em contrapartida a um pacote de ajuda multilateral de US$ 57 bilhões, o maior do gênero.
Ameaçados de perder empregos que pareciam vitalícios, os trabalhadores coreanos manifestam forte rejeição ao FMI.
Pesquisa realizada no grupo Ssangyong, um dos grandes conglomerados coreanos, mostra que a menção que causa mais estresse entre os operários é a da sigla FMI, que encabeça uma lista de palavras com carga negativa, como inflação, desvalorização e falência.
As falências estão se multiplicando. A Federação Coreana das Pequenas Empresas prevê o fechamento de 15 mil estabelecimentos neste ano. Nos primeiros dez meses, quando a crise cambial ainda não havia estourado, houve 13.500 falências, em comparação a 11 mil no mesmo período de 1996.
Fontes da federação citadas pela imprensa de Seul dizem que um empresário coreano se suicida por dia devido às falências, que são consideradas uma desonra.
Preços em dólares
Os setores mais expostos à variação cambial sofreram prejuízos imediatos com a desvalorização do won, que perdeu mais de 50% do valor do começo do ano até a semana passada, antes da recuperação parcial dos últimos dias.
A companhia aérea Korean Air, por exemplo, anunciou que a variação cambial vai lhe causar prejuízo de quase US$ 80 milhões. Em janeiro, as tarifas aéreas domésticas vão subir em torno de 20%.
Os hotéis de luxo, para se protegerem da volatilidade cambial, estão pressionando hóspedes a aceitar reservas em dólar a partir do próximo ano.
Os "free shops" existentes em hotéis, onde os preços são fixados em dólar, também estão sofrendo. A vantagem fiscal e os descontos oferecidos não compensam a desvalorização do won.
(OSCAR PILAGALLO)


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