São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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Violência diminui na "Chicago do Oriente"

FRÉDERIC BOBIN
do "Le Monde", em Macau

A desordem deixou as ruas de Macau. O momento já não é propício às cenas de quase terrorismo urbano que marcaram a cidade entre 1996 e 1997.
Macau era apelidada de "a Chicago do Oriente" e fazia manchetes na imprensa mundial, para desespero das autoridades locais, que diziam que a cidade era mais segura do que Lisboa e Chicago.
Nos últimos seis meses, como que para dar razão aos portugueses, as tríades (máfias) voltaram a pautar-se pelas boas maneiras.
A administração portuguesa quer acreditar que sua honra está salva -ela que tanto foi criticada, acusada de incompetência e falta de pulso firme, para não dizer suspeita de conivência.
A explosão de violência dos anos 96-97, para as autoridades portuguesas, é vista como produto de quatro fenômenos.
Primeiro, por volta de 1993-94, a interrupção do fluxo de capitais especulativos vindos da China.
Em segundo, a aproximação da devolução de Hong Kong a Pequim, em 1997, levou as máfias da colônia britânica a se transferirem para Macau, resultando na intensificação das rivalidades entre elas.
Em terceiro, a perspectiva da revisão, prevista para 2001, das modalidades do monopólio dos cassinos. E, para concluir, o surgimento no interior das organizações criminosas de uma nova geração de líderes indisciplinados levou à explosão das tradições vigentes nas tríades.
Fontes portuguesas deixam entender que o governo chinês exerceu um papel ambíguo em tudo isso.
Assim, alguns funcionários portugueses afirmam que, na época, Pequim se absteve de ajudar Lisboa, justamente para beneficiar-se politicamente do retorno à calma previsto para após a devolução do território.
"Antes, a China não cooperava, era a desordem total", constata um funcionário da administração portuguesa. "A partir do momento em que começamos a discutir os últimos preparativos para a devolução, os chineses passaram a cooperar plenamente e a situação se acalmou. Interessante, não é?".


Tradução de Clara Allain


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