São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Mas, segundo autoridades, isso não deve ser usado como justificativa para declarar guerra ao país unilateralmente

EUA devem dizer que Bagdá violou resolução

DA REDAÇÃO

Os EUA devem declarar hoje que o Iraque violou uma resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU ao fornecer uma declaração de armas incompleta. Mas, segundo autoridades americanas, a medida não deve ser usada como justificativa para declarar uma guerra unilateralmente.
A Casa Branca afirmou ontem que o secretário de Estado, Colin Powell, e o embaixador dos EUA na ONU, John Negroponte, devem emitir hoje a resposta de Washington ao dossiê de armas do Iraque. Autoridades disseram que o presidente George W. Bush estava preocupado com problemas e omissões na declaração de 12 mil páginas, que elas afirmam não revelar todos os supostos programas químicos, biológicos e nucleares de Bagdá, como exigia a resolução da ONU.
"Essa era a última chance de Saddam [Hussein, o ditador iraquiano"", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer. "O presidente está preocupado com o fracasso do Iraque em listar informações nesse documento. Está preocupado com omissões."
Powell afirmou não estar otimista a respeito da possibilidade de o Iraque se desarmar, mas que os EUA trabalhariam com o CS para decidir o que fazer.
"Nossa análise mostra problemas na declaração -lacunas, omissões-, e tudo isso é problemático. De acordo com minhas conversas com outros membros permanentes do CS, sinto que eles também vêem deficiências", disse Powell. "Mas permaneceremos dentro do processo da ONU e compartilharemos nossa análise com outros membros do CS e discutiremos como avançar nas próximas semanas."
Bush se reuniu ontem com seu Conselho de Segurança Nacional para debater se o Iraque deve ou não ser considerado em "violação" de suas obrigações.
Os EUA estão mobilizando uma poderosa força militar na região do golfo Pérsico para o caso de Bush -que já disse que gostaria de ver Saddam deposto- decidir declarar guerra ao Iraque.
Powell e Negroponte podem declarar Bagdá em violação da resolução ainda hoje, depois que o chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix, fizer uma apresentação sobre a declaração aos 15 membros do CS -EUA, Rússia, Reino Unido, China e França são membros permanentes.
Mas eles não devem dizer que a violação é uma justificativa para uma guerra imediata, afirmaram. Isso daria mais tempo aos inspetores de armas e para a montagem de uma coalizão contra Bagdá.
O chanceler britânico, Jack Straw, afirmou ontem que a declaração tinha "omissões óbvias" e que não se deve acreditar na alegação de Saddam de que o Iraque não possui armas proibidas. "Isso não engana ninguém", disse.
Mas a França reiterou sua posição de que apenas o CS pode decidir qual atitude tomar se os inspetores determinarem que o Iraque está violando a resolução. "Caberá ao CS e apenas ao CS tirar todas as conclusões", disse o chanceler francês, Dominique de Villepin.
A resolução 1441 do CS, aprovada em novembro, exige que o Iraque revele e suspenda seus programas de armas de destruição em massa ou enfrente "sérias consequências" -expressão interpretada pela comunidade internacional e analistas como guerra.
Bagdá, que nega ter armas nucleares, biológicas ou químicas, apresentou a declaração à ONU no início deste mês.
Diplomatas dos EUA e da ONU já haviam afirmado que um exame preliminar sugeria que o Iraque não declarara agentes químicos e nucleares e não explicara por que teria pesquisado tecnologia nuclear em anos recentes.
No Iraque, inspetores da ONU, iniciando a sua quarta semana de buscas pelas supostas armas, inspecionaram nove locais suspeitos.

Treinamento
O governo da Hungria autorizou ontem os EUA a treinarem até 3.000 iraquianos para funções burocráticas a partir de janeiro na base militar de Taszar (região sul), que poderão ser utilizados em um possível novo governo do Iraque caso Saddam seja deposto.


Com agências internacionais


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