São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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VENEZUELA

Decreto de Chávez permite às Forças Armadas comandar meios de transporte privados para distribuir combustível e comida

Militares ganham mais poder contra greve

Silvia Izquierdo/Associated Press
Simpatizantes de Chávez (sem camisa) jogam futebol contra manifestantes opositores em Caracas


DA REDAÇÃO

O governo venezuelano autorizou ontem os militares a comandar navios privados, caminhões e aviões para distribuir combustível e comida, como forma de combater a greve geral iniciada no dia 2 pela oposição.
Com a greve geral, convocada para forçar o presidente Hugo Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, que termina em 2007, a produção venezuelana de petróleo caiu de 3 milhões para 400 mil barris ao dia. A Venezuela é o 5º produtor mundial de petróleo, responsável por cerca de 80% das exportações do país. Mas elas estão praticamente paralisadas.
"Meios de transporte marítimo, terrestre e aéreo privados usados para o suprimento público, a estocagem e a distribuição de petróleo e derivados e alimentos podem ser operados por pessoal autorizado civil ou pelas Forças Armadas até que os serviços retornem ao normal", diz o decreto.
Ontem, o Departamento de Energia dos Estados Unidos, o principal importador de petróleo venezuelano, disse que acompanha de perto a crise no setor petrolífero venezuelano, mas que não pretende recorrer a suas reservas estratégicas de petróleo.

Revés na Justiça
No final da tarde, o governo sofreu um novo revés na Justiça: a Suprema Corte ordenou que o controle sobre a polícia de Caracas voltasse às mãos do prefeito da capital, Alfredo Pena, um dos principais críticos de Chávez.
Em novembro, o presidente determinou uma intervenção na polícia de Caracas, com 9.000 membros. Ele alegou motivo de segurança nacional diante de uma disputa trabalhista entre a prefeitura e a polícia. Mas a oposição acusou Chávez de pretender aumentar seu poder de controle e repressão. Ontem, a oposição voltou a bloquear estradas e avenidas de Caracas. Houve repressão policial.
A oposição acusa Chávez de arruinar a economia do país com suas políticas populistas de esquerda e de tentar impor um regime comunista ao estilo cubano. O presidente diz ser vítima de um complô golpista por estar acabando com os privilégios das elites e favorecendo os mais pobres.
As pressões da oposição, por enquanto, não têm tido respaldo nas Forças Armadas, que manifestaram apoio a Chávez ao longo da semana. O comandante da 4ª Divisão Blindada do Exército [a mais poderosa do país", Raúl Isaías Baduel, disse, em entrevista ao jornal espanhol "La Vanguardia", que vem rejeitando pedidos para participar de um golpe.
"Muitas pessoas me pedem para fazer um golpe, para fazer algo. Eles estão tentando dar às Forças Armadas um papel que não é saudável à democracia", disse. "Não está descartada a atuação das Forças Armadas se a violência se generalizar, o que não faria bem ao país", afirmou, em Caracas.
Chávez rejeita a hipótese de renúncia. Segundo ele, a Constituição só permite um referendo a partir de agosto, quando seu mandato chega à metade.

Compra de avião brasileiro
A Força Aérea da Venezuela (AMV - Aviación Militar Venezolana) comprou 12 aviões AMX-T, um caça-bombardeiros usado para treinamento avançado produzido pela empresa brasileira Embraer. Segundo a Embraer, as entregas começarão em 2005.
O avião brasileiro venceu uma concorrência internacional com sete participantes. O AMX-T é a versão mais moderna do caça-bombardeiro AMX desenvolvido pela Embraer e por empresas italianas e usados em combate em Kosovo, nos Balcãs, em 1999.

Com agências internacionais

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