São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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AMÉRICA LATINA

Americanos mudam seu discurso em reunião com Brasil, Argentina e Paraguai sobre segurança na região

Agora, EUA descartam terror na Tríplice Fronteira

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PUERTO IGUAZÚ

Um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse ontem, pela primeira vez, que não há indícios de células terroristas na Tríplice Fronteira, região entre Brasil, Argentina e Paraguai. Afirmou também que Washington vai intensificar a cooperação com os governos dos três países para buscar eventuais financiadores do terrorismo internacional na área.
Essa mudança de posição foi o principal saldo de uma reunião ontem em Puerto Iguazú (Argentina) entre representantes do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, órgão executivo para questões da região, e uma delegação americana.
""Não há indícios concretos da presença terrorista", afirmou o coordenador de Contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA, J. Cofer Black. Ele reafirmou a necessidade de investigar o financiamento do terror, "que deve ser hoje uma preocupação global".

Roteiro de lua-de-mel
Diplomático, Black disse que iria recomendar as cataratas do Iguaçu como roteiro de lua-de-mel para seu filho, em uma prova "de que a foto das cataratas encontrada com terroristas da Al Qaeda foi apenas coincidência".
Foi uma referência a uma reportagem da TV americana CNN, em novembro de 2001, segundo a qual haveria vínculo entre a Al Qaeda e a comunidade muçulmana de Foz do Iguaçu (PR). A reportagem se baseou numa suposta fotografia das cataratas achada num prédio da Al Qaeda em Cabul, durante a ofensiva dos EUA no Afeganistão.
Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, Washington também adotou essa suspeita em seu discurso, alimentado pelo fato de haver uma grande comunidade árabe na região e que alguns comerciantes comprovadamente mandam dinheiro para o Hizbollah, grupo guerrilheiro e partido político libanês classificado como terrorista pelos EUA.

"Atos ilícitos"
O embaixador Antonino Lisboa Mena Gonçalves, chefe do Departamento das Américas do Itamaraty, disse que a reunião serviu para comprovar que "não há indícios de células ativas ou adormecidas na Tríplice Fronteira". Ele afirmou que é necessária vigilância, "pois o terrorismo é uma ameaça global e pode se apresentar em qualquer lugar do mundo".
"A experiência americana nos ensinou que temos de ir aos terroristas onde eles estão, e eles [os terroristas" têm procurado os lugares onde se sentem seguros", disse Black.
Ele disse esperar um aumento do intercâmbio entre os três países e os EUA. "Nós estamos determinados a evitar o envio do apoio financeiro ao terrorismo, e isso deve ser uma determinação de todos nós", afirmou.
"Pode haver riscos de que sejam feitos aportes financeiros com essa intenção [de financiar o terror"", disse Gonçalves.
O embaixador Marcelo Huergo, chefe da delegação argentina, disse que não se pode ignorar a possibilidade "de existir financiadores de atos ilícitos na região". O representante paraguaio, Cabello Sarubb, não quis dar declarações.
O diretor da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, Joaquim Mesquita, que preside o Comando Tripartite neste ano, disse que o mais importante na presença da delegação americana "é que houve uma mudança de conduta dos EUA para a região".
A delegação americana e seus hóspedes visitaram também Ciudad del Este (Paraguai) e Foz do Iguaçu, cidades que integram o centro da região com Puerto Iguazú.


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