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"Limpeza" pós-golpe garante apoio militar a Chávez
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Debilitado politicamente, o
presidente Hugo Chávez tem no
apoio que vem recebendo das
Forças Armadas um de seus trunfos para segurar-se no poder e evitar a repetição dos acontecimentos de 11 de abril, quando foi tirado do poder por dois dias por um
golpe cívico-militar apoiado por
vários oficiais de alta patente.
A grande diferença da situação
atual com aquela existente antes
do golpe de abril é justamente a
"limpeza" feita por Chávez nos
principais postos de comando
militar após seu retorno ao poder.
As principais vozes militares
anti-Chávez hoje -cuja face mais
visível são os oficiais que se concentram numa praça de Caracas
desde outubro- são os próprios
generais e almirantes que lideraram o golpe de abril e que hoje,
apesar de se manterem na ativa
por força judicial, não exercem
mais postos de comando.
Com a nomeação de pessoas de
sua mais estrita confiança para os
principais postos de comando,
Chávez conseguiu controlar os setores descontentes.
"Certamente a proporção de
descontentes dentro das Forças
Armadas é a mesma verificada no
restante da sociedade venezuelana -cerca de 70%-, mas nas
Forças Armadas os 30% que
apóiam o presidente estão nas
unidades de maior poder de fogo", disse à Folha o general da reserva e ex-ministro da Defesa Fernando Ochoa Antich.
Com a formação de um chamado "conselho consultivo" militar,
Chávez cercou-se de aliados para
controlar praticamente a totalidade das Forças Armadas do país.
A principal figura desse grupo é
o general Raúl Isaías Baduel, peça-chave do contragolpe que permitiu o retorno do presidente ao
cargo em abril. Alçado a comandante da 4ª Divisão Blindada do
Exército, ele tem sob seu comando praticamente 50% de todas as
tropas da força.
Outros 30% respondem ao general Jorge García Carneiro, comandante da 3ª Divisão de Infantaria e responsável pelo Forte Tiuna, sede do alto comando militar
em Caracas.
Outras figuras importantes no
xadrez montado por Chávez são o
general Luis Felipe Acosta Carle,
que, como chefe do Comando Regional 2, administra toda a zona
central do país, e o coronel Cliver
Alcalá Cordones, comandante do
Batalhão de Tanques Ayala,
apontado pela oposição como um
dos elos entre as Forças Armadas
e os Círculos Bolivarianos, grupos
civis de apoio a Chávez.
Apesar de toda essa rede de proteção montada por Chávez, a manutenção dessa lealdade é incerta
se a situação do país se agravar,
com o aumento da pressão popular pelo afastamento do presidente. "Até agora, os comandantes
leais a Chávez mantêm o controle,
mas o grosso das Forças Armadas
é formado pelos oficiais de média
patente, entre os quais não se sabe
até agora o que está acontecendo", disse a jornalista especializada em temas militares Dubraska
Romero. "Pode haver surpresas."
Segundo ela, muitos dos possíveis focos de insatisfação dentro
das Forças Armadas são identificados pelo governo graças a um
bem organizado trabalho de inteligência, montado após o golpe de
abril, que expôs as deficiências de
Chávez nessa área.
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