São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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"Limpeza" pós-golpe garante apoio militar a Chávez

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

Debilitado politicamente, o presidente Hugo Chávez tem no apoio que vem recebendo das Forças Armadas um de seus trunfos para segurar-se no poder e evitar a repetição dos acontecimentos de 11 de abril, quando foi tirado do poder por dois dias por um golpe cívico-militar apoiado por vários oficiais de alta patente.
A grande diferença da situação atual com aquela existente antes do golpe de abril é justamente a "limpeza" feita por Chávez nos principais postos de comando militar após seu retorno ao poder.
As principais vozes militares anti-Chávez hoje -cuja face mais visível são os oficiais que se concentram numa praça de Caracas desde outubro- são os próprios generais e almirantes que lideraram o golpe de abril e que hoje, apesar de se manterem na ativa por força judicial, não exercem mais postos de comando.
Com a nomeação de pessoas de sua mais estrita confiança para os principais postos de comando, Chávez conseguiu controlar os setores descontentes.
"Certamente a proporção de descontentes dentro das Forças Armadas é a mesma verificada no restante da sociedade venezuelana -cerca de 70%-, mas nas Forças Armadas os 30% que apóiam o presidente estão nas unidades de maior poder de fogo", disse à Folha o general da reserva e ex-ministro da Defesa Fernando Ochoa Antich.
Com a formação de um chamado "conselho consultivo" militar, Chávez cercou-se de aliados para controlar praticamente a totalidade das Forças Armadas do país.
A principal figura desse grupo é o general Raúl Isaías Baduel, peça-chave do contragolpe que permitiu o retorno do presidente ao cargo em abril. Alçado a comandante da 4ª Divisão Blindada do Exército, ele tem sob seu comando praticamente 50% de todas as tropas da força.
Outros 30% respondem ao general Jorge García Carneiro, comandante da 3ª Divisão de Infantaria e responsável pelo Forte Tiuna, sede do alto comando militar em Caracas.
Outras figuras importantes no xadrez montado por Chávez são o general Luis Felipe Acosta Carle, que, como chefe do Comando Regional 2, administra toda a zona central do país, e o coronel Cliver Alcalá Cordones, comandante do Batalhão de Tanques Ayala, apontado pela oposição como um dos elos entre as Forças Armadas e os Círculos Bolivarianos, grupos civis de apoio a Chávez.
Apesar de toda essa rede de proteção montada por Chávez, a manutenção dessa lealdade é incerta se a situação do país se agravar, com o aumento da pressão popular pelo afastamento do presidente. "Até agora, os comandantes leais a Chávez mantêm o controle, mas o grosso das Forças Armadas é formado pelos oficiais de média patente, entre os quais não se sabe até agora o que está acontecendo", disse a jornalista especializada em temas militares Dubraska Romero. "Pode haver surpresas."
Segundo ela, muitos dos possíveis focos de insatisfação dentro das Forças Armadas são identificados pelo governo graças a um bem organizado trabalho de inteligência, montado após o golpe de abril, que expôs as deficiências de Chávez nessa área.


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