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ORIENTE MÉDIO
Palestinos rechaçam proposta, que prevê sua separação de israelenses com barreira se plano de paz não avançar
Sharon ameaça fazer separação unilateral
GREG MYRE
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM
O primeiro-ministro de Israel,
Ariel Sharon, declarou ontem
que, se os esforços atuais de paz
não proporcionarem avanços nos
próximos meses, Israel vai começar a romper seus laços com os
palestinos, retirando-se de alguns
dos assentamentos e traçando
uma nova "linha de segurança".
Num discurso marcado pelas
observações mais detalhadas que
já fez até hoje sobre como pretende abordar o processo de paz no
Oriente Médio, que enfrenta impasse, o líder israelense disse que
a melhor solução seria um acordo
negociado com os palestinos baseado na proposta atual, patrocinada por EUA, União Européia,
ONU e Rússia. O plano prevê um
acordo de paz abrangente e um
Estado palestino até 2005.
Mas, afirmou, "se os palestinos
não derem sua contribuição própria para a implementação do
plano de paz, dentro de alguns
meses Israel tomará suas medidas
próprias para cortar seus vínculos, visando reduzir o terror ao
mínimo absoluto".
"Não vamos esperar para sempre", prosseguiu Sharon, falando
numa conferência organizada pelo Instituto Israelense de Política e
Estratégia, perto de Tel Aviv.
Os palestinos se opõem frontalmente à idéia de Israel tomar medidas unilaterais. "Se Sharon está
pronto para começar a negociar,
podemos fazê-lo antes do que
imaginam", disse o premiê palestino, Ahmed Korei. O grupo terrorista Hamas chamou as medidas de Sharon de "inúteis".
Já Washington elogiou os esforços de Sharon em favor do plano
de paz, mas disse que se opõe a
medidas unilaterais.
Mas Sharon afirmou que Israel
está disposto a empreender ações
unilaterais, entre elas traçar "novas linhas de segurança condicionais" e remover alguns dos assentamentos mais isolados. Ele se negou a citar quais assentamentos
podem ser desmantelados, mas
disse: "Israel não vai permanecer
em todos os locais onde estamos
presentes hoje". Sharon também
se recusou a definir qual será a "linha de segurança", mas é provável que boa parte dela corresponda à barreira que Israel está erguendo na Cisjordânia para, segundo o país, "deter terroristas".
"A linha de segurança não será a
fronteira final do Estado de Israel", disse o premiê. "Mas, até ser
implementado o plano de paz, é
ali que ficarão estacionadas" as
forças militares do país, disse.
O líder israelense, que enfrenta
oposição ao seu plano da ala mais
extremista de seu gabinete, disse
que os palestinos conseguiriam
muito mais em negociações diretas do que poderão obter por
meio de uma ação israelense unilateral.
A imprensa israelense vem informando que Sharon está disposto a aguardar seis meses para
ver se os esforços de paz atuais
dão resultado -um ministro falou ontem em três meses. Depois
disso, Israel vai considerar seriamente a possibilidade de tomar
medidas unilaterais.
Desde que capturou a Cisjordânia e a faixa de Gaza, na guerra
árabe-israelense de 1967, Israel ergueu quase 150 assentamentos
oficiais, onde vivem cerca de 230
mil colonos. Além disso, nos últimos anos foram construídos cerca de cem assentamentos não-oficiais menores.
O plano atual de paz para o
Oriente Médio, anunciado em junho, estagnou em meio a frequentes atentados suicidas palestinos e
ataques israelenses contra supostos terroristas.
Tanto Sharon quanto Korei,
que assumiu o cargo em setembro, afirmam estar dispostos a se
reunirem para reiniciar o processo de paz. Mas autoridades israelenses questionam se Korei terá
autoridade real para tanto, temendo que o líder palestino Iasser Arafat continue a dar a palavra
final em todas as questões importantes. Israel e EUA acusam Arafat de tolerar ou até apoiar o terrorismo. Ele nega.
Korei vem procurando, sem sucesso, convencer os grupos terroristas palestinos a pôr fim aos ataques a alvos israelenses.
Apesar da falta de avanços nas
conversações políticas, o nível
global de violência caiu nos últimos dois meses. Mas quatro palestinos foram mortos ontem por
tropas israelenses que faziam buscas em Nablus, na Cisjordânia.
As forças israelenses disseram
que os quatro estavam armados.
De acordo com elas, três eram homens mascarados, equipados
com armas automáticas, que dispararam contra os soldados desde
um telhado e foram mortos quando estes revidaram. O quarto teria
sido atingido quando corria em
direção às tropas, carregando um
explosivo.
Os palestinos reconheceram
que três dos mortos eram militantes, mas disseram que o quarto
era um empregado de uma padaria, que estava desarmado e levou
diversos tiros no início da manhã,
a caminho do trabalho.
Com agências internacionais
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