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São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Palestinos rechaçam proposta, que prevê sua separação de israelenses com barreira se plano de paz não avançar

Sharon ameaça fazer separação unilateral

GREG MYRE
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, declarou ontem que, se os esforços atuais de paz não proporcionarem avanços nos próximos meses, Israel vai começar a romper seus laços com os palestinos, retirando-se de alguns dos assentamentos e traçando uma nova "linha de segurança".
Num discurso marcado pelas observações mais detalhadas que já fez até hoje sobre como pretende abordar o processo de paz no Oriente Médio, que enfrenta impasse, o líder israelense disse que a melhor solução seria um acordo negociado com os palestinos baseado na proposta atual, patrocinada por EUA, União Européia, ONU e Rússia. O plano prevê um acordo de paz abrangente e um Estado palestino até 2005.
Mas, afirmou, "se os palestinos não derem sua contribuição própria para a implementação do plano de paz, dentro de alguns meses Israel tomará suas medidas próprias para cortar seus vínculos, visando reduzir o terror ao mínimo absoluto".
"Não vamos esperar para sempre", prosseguiu Sharon, falando numa conferência organizada pelo Instituto Israelense de Política e Estratégia, perto de Tel Aviv.
Os palestinos se opõem frontalmente à idéia de Israel tomar medidas unilaterais. "Se Sharon está pronto para começar a negociar, podemos fazê-lo antes do que imaginam", disse o premiê palestino, Ahmed Korei. O grupo terrorista Hamas chamou as medidas de Sharon de "inúteis".
Já Washington elogiou os esforços de Sharon em favor do plano de paz, mas disse que se opõe a medidas unilaterais.
Mas Sharon afirmou que Israel está disposto a empreender ações unilaterais, entre elas traçar "novas linhas de segurança condicionais" e remover alguns dos assentamentos mais isolados. Ele se negou a citar quais assentamentos podem ser desmantelados, mas disse: "Israel não vai permanecer em todos os locais onde estamos presentes hoje". Sharon também se recusou a definir qual será a "linha de segurança", mas é provável que boa parte dela corresponda à barreira que Israel está erguendo na Cisjordânia para, segundo o país, "deter terroristas". "A linha de segurança não será a fronteira final do Estado de Israel", disse o premiê. "Mas, até ser implementado o plano de paz, é ali que ficarão estacionadas" as forças militares do país, disse.
O líder israelense, que enfrenta oposição ao seu plano da ala mais extremista de seu gabinete, disse que os palestinos conseguiriam muito mais em negociações diretas do que poderão obter por meio de uma ação israelense unilateral.
A imprensa israelense vem informando que Sharon está disposto a aguardar seis meses para ver se os esforços de paz atuais dão resultado -um ministro falou ontem em três meses. Depois disso, Israel vai considerar seriamente a possibilidade de tomar medidas unilaterais.
Desde que capturou a Cisjordânia e a faixa de Gaza, na guerra árabe-israelense de 1967, Israel ergueu quase 150 assentamentos oficiais, onde vivem cerca de 230 mil colonos. Além disso, nos últimos anos foram construídos cerca de cem assentamentos não-oficiais menores.
O plano atual de paz para o Oriente Médio, anunciado em junho, estagnou em meio a frequentes atentados suicidas palestinos e ataques israelenses contra supostos terroristas.
Tanto Sharon quanto Korei, que assumiu o cargo em setembro, afirmam estar dispostos a se reunirem para reiniciar o processo de paz. Mas autoridades israelenses questionam se Korei terá autoridade real para tanto, temendo que o líder palestino Iasser Arafat continue a dar a palavra final em todas as questões importantes. Israel e EUA acusam Arafat de tolerar ou até apoiar o terrorismo. Ele nega.
Korei vem procurando, sem sucesso, convencer os grupos terroristas palestinos a pôr fim aos ataques a alvos israelenses.
Apesar da falta de avanços nas conversações políticas, o nível global de violência caiu nos últimos dois meses. Mas quatro palestinos foram mortos ontem por tropas israelenses que faziam buscas em Nablus, na Cisjordânia.
As forças israelenses disseram que os quatro estavam armados. De acordo com elas, três eram homens mascarados, equipados com armas automáticas, que dispararam contra os soldados desde um telhado e foram mortos quando estes revidaram. O quarto teria sido atingido quando corria em direção às tropas, carregando um explosivo.
Os palestinos reconheceram que três dos mortos eram militantes, mas disseram que o quarto era um empregado de uma padaria, que estava desarmado e levou diversos tiros no início da manhã, a caminho do trabalho.


Com agências internacionais

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