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ANÁLISE
Receita para mais violência e anarquia
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
A ameaça de Ariel Sharon de retirar as tropas israelenses de forma unilateral de uma fração dos
territórios palestinos serve a vários propósitos do premiê: pressionar os palestinos a combater o
terrorismo e voltar a negociar
com menos exigências, satisfazer
a maioria israelense ansiosa por
avanços no processo de paz e desarmar a chamada "bomba demográfica" -uma maioria árabe
nos territórios e em Israel governada por uma minoria israelense.
Antes mesmo de seu anúncio, a
medida já sofria oposição de setores israelenses -inclusive boa
parte do partido de Sharon, o Likud- favoráveis à "Grande Israel", dos EUA e dos palestinos.
Impossível ver algum tipo de justiça em medidas unilaterais tomadas por qualquer uma das partes
num conflito tão complexo quanto o árabe-israelense. A idéia é intrinsecamente errada.
Mas é pertinente lembrar de outro gesto unilateral fatal ao processo de paz: a decisão, em 2000,
da liderança palestina -frustrada com a lentidão do processo de
paz- de abandonar os Acordos
de Oslo, de 1993, ao não combater
o terrorismo da Intifada. Foi isso
que endureceu os israelenses e os
levou a eleger o "falcão" Sharon,
no início de 2001, em lugar do
moderado Ehud Barak.
Sharon é um dos maiores arquitetos da colonização (ilegal) de
Gaza e da Cisjordânia e um dos
mais duros generais israelenses.
Sua decisão de esvaziar assentamentos mostra que, aos 75 anos,
está cada vez mais pragmático e
menos idealista, querendo mudar, no fim da carreira, sua imagem manchada pela desastrada e
sangrenta invasão e posterior
ocupação do Líbano (1982-2000).
Apesar da condenação do arquiamigo EUA, há pouco que o
presidente George W. Bush possa
fazer para dissuadir seu aliado
Sharon de agir unilateralmente.
As eleições presidenciais, em novembro, amarra todos os candidatos ao poderoso lobby judaico.
Sharon crê que, retirando Israel
das áreas palestinas povoadas,
com uma barreira de alta tecnologia protegendo o país de ataques
terroristas e com os EUA ainda
mais hegemônicos no Oriente
Médio após a ocupação do Iraque, ele poderá garantir a segurança aos israelenses.
O problema, obviamente, é o
que está do outro lado do muro.
Se o plano de Sharon for implementado, os palestinos ficarão
isolados em cantões, com a barreira cortando e comendo suas
terras, com seu Estado inviabilizado política e economicamente.
Terão ainda mais motivos -já
abundantes hoje- para se rebelar contra a ocupação. A possibilidade de anarquia, que já dá sinais
hoje, será enorme e pode gerar
uma explosão além-muro.
Basta olhar o mapa da região
para ver que a única forma de
convivência pacífica é um acordo
que garanta dois Estados viáveis.
O que falta são lideranças capazes
de trilhar esse rumo.
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