|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA SEM LIMITES
Juiz decide que um cidadão do país não pode ser preso como "inimigo combatente'; governo vai recorrer
Justiça libera americano acusado de terror
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O governo dos EUA não tem o
direito de deter o cidadão americano Jose Padilla, 33, como "combatente inimigo", segundo decisão tomada ontem pela 2ª Corte
Federal de Apelações dos EUA,
em Nova York.
Para especialistas, esse foi o pior
revés já sofrido pela estratégia antiterror da administração de
George W. Bush. Ele ocorre em
meio a questionamentos judiciais
sobre o tratamento dos detidos na
"guerra ao terror" -ontem, um
tribunal de San Francisco decidiu
que os presos na base de Guantánamo (Cuba) têm direito a advogado (leia texto abaixo).
"É uma decisão preocupante e
ruim", lamentou o porta-voz da
Casa Branca, Scott McClellan, referindo-se ao caso de Padilla. O
governo vai recorrer.
O governo dos EUA tem 30 dias
para libertar o prisioneiro, que está sob custódia militar. "O governo pode transferir Padilla para
autoridades civis apropriadas, as
quais poderão estabelecer acusações criminais contra ele", diz a
sentença. A Corte afirma ainda
que a prisão de Padilla não foi autorizada pelo Congresso e que,
por isso, Bush não pode tratá-lo
como "combatente inimigo".
Para o especialista em direito internacional Francis Boyle, o conceito de "combatente inimigo" é
arbitrário. "Esse termo é uma
fraude. A administração atual o
tem usado para não adotar os
procedimentos legais adequados
para supostos terroristas e prisioneiros de guerra. É uma violação
das Convenções de Genebra e da
Constituição", disse à Folha.
Segundo Boyle, as leis americanas não permitem que um cidadão americano preso no próprio
país seja encarcerado por organizações militares. Outra violação é
não ter direito a assistência legal.
Padilla foi preso em maio de
2002 em um aeroporto de Chicago quando voltava do Afeganistão. Ele é suspeito de ter planejado, com a ajuda da Al Qaeda, a detonação de bombas radioativas
nos EUA. Segundo o governo, Padilla, que muçulmano, teria recebido treinamento da Al Qaeda.
Até o momento, entretanto, o
detento não recebeu nenhuma
acusação formal. Em junho do
ano passado, Bush declarou que
ele representava "um grave perigo
para a segurança nacional" e o
classificou como "combatente
inimigo". Padilla está detido numa base naval na Carolina do Sul,
onde permanece incomunicável.
"Por quanto tempo Padilla vai
permanecer um "combatente inimigo'?", perguntou o juiz Richard
Wesley. Os promotores federais
responderam que Padilla deveria
permanecer detido até o fim da
"guerra ao terror". Eles argumentaram ainda que o prisioneiro não
deve ter acesso a advogados, pois
estes poderiam ser usados para
enviar mensagens à Al Qaeda.
Texto Anterior: Oriente Médio: Irã abre programa nuclear a inspeções de surpresa Próximo Texto: Tribunal quer advogados em Guantánamo Índice
|