São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2010

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Para opositor, projeto é "protótipo do comunismo"

DE CARACAS

A criação das comunas na Venezuela são a radicalização da organização de vizinhos nos chamados conselhos comunais, uma experiência que colheu resultados contraditórios, mas com inegável apelo no país de Hugo Chávez, até mesmo entre os eleitores da oposição.
Com a Constituição de 1999, aprovada sob Chávez, o governo passou a promover meios de democracia direta e "protagônica", espécie de aprofundamento de experiências como o orçamento participativo no Brasil.
De lá para cá, o vocabulário e algumas das práticas pegaram. O governo Chávez, segundo dados do Ministério das Comunas, destinou US$ 3,2 bilhões a projetos em todo país na semana passada.
Em anos recentes, até governantes da oposição começaram a lançar mão das ferramentas, usando-as inclusive contra o próprio chavismo.
Emilio Graterón, prefeito de Chacao, o miolo rico e antichavista de Caracas, por exemplo, orgulha-se de apoiar conselhos comunais.
"Criamos uma espécie de rádio de informantes dos conselhos comunais, com ligação direta com a polícia, que ajudou na segurança", disse à Folha, em entrevista.
O prefeito, porém, rejeita as comunas. Fala de "protótipo do comunismo".
Graterón diz que as empresas comunais -que usufruirão de isenção de impostos e de preferência nas licitações- serão uma concorrência desleal para as companhias de mercado. E, sem os impostos dessas empresas, os municípios perderão capacidade de arrecadação.
Jose Gregorio Delgado, que estudou a experiência dos conselhos comunais para o Centro Gumilla, ligado à Igreja Católica, diz que a ideia de participação direta na Venezuela é uma herança irreversível do chavismo.
Ele conta que Henrique Capriles, o governador opositor do Estado de Miranda (que abarca parte de Caracas), a usou contra Chávez.
"O governo cortou verba para os postos de saúde de Miranda. A questão é que os postos tinham cogestão comunitária, então Chávez teve de se entender com a própria comunidade."
Ainda assim, falta muito caminho a percorrer, diz Delgado. Em uma pesquisa do Centro Gumilla com 1.000 pessoas realizada no ano passado, 90% dos entrevistados apontaram a corrupção e o mau uso de recursos como problema.
Para ele, o problema central é sobrepor uma estrutura mais complexa como as comunas quando mesmo os conselhos comunitários estão longe da consolidação.
Para Frenzel Hernández, engenheiro, locutor de rádio e integrante da Escola de Trabalhadores para as Comunas, uma das questões é a próprio modelo de liderança de Hugo Chávez.
Ele diz que, numa sociedade "caótica" como a venezuelana, era necessária uma liderança forte como a de Chávez. Defende, porém, que é hora de "descarregar" essa força de volta nas organizações populares.
"Há chavistas, no governo, que não estão interessados em fazer essa transferência. Preferem o Chávez messiânico, paternalista. É uma batalha interna.(FM)


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